Praças e panças
Há algum tempo dizíamos que o cidadão comum, morador de comunidades carentes, sensível a qualquer aumento de inflação, sem acesso fácil a gêneros de primeira necessidade, tal cidadão não tem e não pode ter ideia de quem foi Rosa de Luxemburgo, Marx, Engels ou se Paulo Freire foi de fato um dos nossos grandes mestres do ensino. Antes de adquirir livros ou chegar ao ensino médio, ele precisa poder comprar remédios, fazer um Raio-X, uma radioterapia, ser tratado com seringas descartáveis, parar de morrer nas filas de atendimento do SUS e ir à feira e levar o artigo de luxo "alho", necessário em mesa de rico ou de pobre.
Isso explica, de certo modo, porque o candidato que se diz esquerdista conseguiu ir para o segundo turno com 11 segundos na TV enquanto o candidato do prefeito não passou do primeiro turno apesar de seus 10 minutos ou pouco mais que isso.
Claro que as obras têm importância, sobretudo se significam o aumento da qualidade de vida dos munícipes. Mas elas não enchem barriga e nem respondem necessariamente pela saúde do trabalhador.
É isso também tem a ver com a vantagem do atual candidato evangélico na corrida pela Prefeitura do Rio. Nesse cenário de desolação, perene desconforto e sofrimento dos mais desassistidos, em que nenhum administrador se preocupou com seus meios mais elementares de subsistência, um candidato que alardeie a intenção de "cuidar das pessoas", ainda que mentirosamente, terá por certo mais votos. Pelo menos por certo espaço de tempo. Ou por muito tempo. Tal como fazem as igrejas, todas elas, que apesar de mentir há séculos, sempre conseguem encher qualquer praça. Ainda que não encham as panças.
Rio, 21/10/2016