Vamos anular o voto
Nacib Hetti
Toda véspera de eleição eu edito este artigo. Cada vez mais preocupado com a perspectiva de aumento de votos nulos e em branco. Assim, quando eu falo em anular o voto, não estou me referindo ao seu nem ao meu voto, e sim do eleitor que vai para à urna puxado pelo cabresto do populismo. Sabe como? Criando o contraponto, votando em um candidato ou partido escolhido com critério e melhor identificado com sua posição de politicamente bem informado. Você é esse contraponto no processo. O voto consciente estará compensando o voto alienado. Se o indivíduo que tem senso crítico e consciência política vai anular o seu voto, ou votar em branco, imagina o que vem por aí!
Seria atitude elitista e preconceituosa negar representatividade a todos os seguimentos. Mas, infelizmente, são os votos dos analfabetos, dos desinformados e dos alienados que estarão qualificando a nossa representação política. Sou um liberal democrata e contra o voto obrigatório, mas se eu abdicar do meu voto, na conjuntura atual, estarei fazendo o jogo do mau político. Escolher um candidato é tarefa difícil. Mas eu posso começar a seleção procurando o novo, com um bom nível de escolaridade. Outra dica: fuja do candidato que se identifica pelo apelido.
O eleitor que vota nulo pode pensar que está dando um recado ao mundo político. Não está. O resultado também é nulo, na medida em que apenas reduz o quociente eleitoral. A fala não tem ouvinte institucional. Não existe o interlocutor estabelecido com quem dialogar. O voto nulo cai no vazio de um mundo político degradado. Ao contrário, o voto consciente pode criar um parlamento mais qualificado, com formação apropriada ao desempenho da atividade política.
São beneficiários do voto nulo os candidatos majoritários que estão bem situados nas pesquisas eleitorais e aqueles pretendentes às assembleias que dependem dos votos dos despreparados politicamente. Quanto maior o número de votos nulos, maior o número de “tiriricas” nas nossas assembleias. O voto nulo é equivocado. Ele só agrava a conjuntura que o motivou.
Se o voto nulo é uma forma de protesto, cabe a pergunta: qual é o personagem objeto do protesto? O eleitor indignado não pode responder a essa pergunta por um simples motivo: ele não sabe. O voto nulo não muda a saúde, a educação e a segurança. Só muda a qualidade da representação, certamente para pior. Alguns eleitores menos avisados pensam que estão dando algum recado a alguém. Não estão. Outros pensam que um grande volume de votos nulos pode anular a eleição. Não pode.
Votar não é só uma obrigação. É um direito. Ninguém medianamente politizado pode abrir mão do único instrumento político disponível para o cidadão que deseja dias melhores para uma sociedade institucionalmente debilitada e carente de ferramentas para melhorar sua vida. O voto nulo ou em branco é, às vezes, um voto covarde. Seu autor se preserva para poder criticar, ou se eximir, da provável péssima representação, que será o produto da sua atitude. Meu voto tem qualidade. Se o seu não tem, então vote nulo.