Fora, Temer!

Pesquisas anteriores ao impeachment mostravam que, para 90% dos entrevistados, o Brasil estava indo na direção errada (no que diz respeito à saída para a crise). Mas o que na época era uma impressão, hoje, com Michel Temer na presidência, é convicção.

Embora não goste da Dilma, eu não apoiei o seu impeachment por diversos fatores, dentre os quais: a) o fato do argumento “pedalada fiscal” ser fraco, visto que a manobra também foi realizada, sem qualquer constrangimento, por ex-presidentes; b) por não haver consenso entre os especialistas sobre esta matéria. O próprio ministro do TCU, José Múcio, admitiu que o desfecho das pedaladas seria diferente com o Lula.

Além do que, a forma como se deu esse processo, ou seja, a partir de uma chantagem do ex-presidente da Câmara, numa articulação política capitaneada pelo próprio vice-presidente da República, compromete a legitimidade do julgamento. Ora, votar contra a Dilma havia se tornado um investimento rentável em curto prazo. O Romário, por exemplo, fez saber que estava "indeciso" em relação ao seu voto; só se decidiu quando o Planalto lhe concedeu uma diretoria em Furnas e uma secretaria.

A voz do povo, para variar, não foi ouvida. Aliás, ele assistiu a tudo “bestializado”, assim como na queda do Império. Quando o povo se manifestou a favor de novas eleições, a Folha, cumprindo seu papel pedagógico, fez questão de "corrigi-lo". Muitos parlamentares, inclusive, chegaram a dizer que novas eleições, naquelas circunstâncias, é que seria um golpe. Não era o que pensava, antes do pacto com o PMDB, o senador Cássio Lima, para quem o PSDB deveria apoiar "abertamente a convocação de novas eleições”, nem o Aécio Neves, “só alguém legitimado pelo voto pode reorganizar o país”.

Há quem defenda o mandato de Temer sob a justificativa de ele ter recebido o mesmo número de votos da Dilma, o que, a meu ver, é uma grande bobagem. As pessoas que votaram na Dilma o fizeram porque se identificaram com os seus ideais, suas propostas, em suma, seu plano de governo. E muitos não votaram exatamente nela, mas no PT, que, bem ou mal, tem uma ideologia. O PMDB, por sua vez, é um partido de políticos profissionais; um partido de centro, isto é, de direita ou de esquerda, a depender da situação; e, se for preciso, de esquerda e direita ao mesmo tempo.

O único voto que o Temer recebeu foi o de confiança da classe média antipetista, dos setores empresariais e da mídia. Todos os quais fizeram vista grossa para as deficiências dele e de seu partido. O que antes criticavam no Governo Dilma, como o caso da flexibilização orçamentária, agora aplaudem no governo Temer.

Enfim, Temer assumiu de vez a presidência e seu primeiro compromisso foi ir à China para aprender, talvez, as relações trabalhistas modernas (leia-se: superexploração) com o camarada Xi jinping. Resta saber quem construirá a “Ponte para o Futuro” do Temer, se a Odebrecht, a OAS, a Andrade Gutierrez...