Sob o crivo do eleitor
Com a proximidade das eleições municipais, as atenções se voltam para as propostas dos candidatos. Nesse período aumentam as demonstrações de insatisfação dos eleitores com o desempenho de seus escolhidos, quando no exercício do cargo público. Isso ocorre porque o brasileiro tradicionalmente não tem a preocupação de acompanhar de perto a atuação efetiva de prefeitos e vereadores, muito menos de eventualmente apresentar ao Executivo ou ao Legislativo municipal alguma proposição que venha de encontro às necessidades da população. É sabido que sem o monitoramento direto (e em alguns casos a pressão sistemática da sociedade), os homens públicos tendem a direcionar suas iniciativas para proveito próprio ou de seus assemelhados políticos, prática amplamente utilizada em todos os rincões desse País. Não é recomendável, portanto, que o eleitor se mostre indiferente diante de suas responsabilidades como cidadão, quando, para justificar alguma posição radical de insatisfação, deixa de comparecer às urnas, ou opte pelo voto nulo ou em branco, não obstante essas alternativas serem asseguradas pelo sistema eleitoral brasileiro.
As mudanças implantadas pela Justiça Eleitoral para a campanha desse ano já se mostraram acertadas. A população aprovou as novas regras no uso do espaço público, sem os exageros da poluição visual materializada em placas imensas, pinturas em muros e paredes, nem a panfletagem irresponsável emporcalhando nossas ruas e avenidas. Outra medida positiva foi a redução do tempo de propaganda política obrigatória no rádio e na TV. Assim, o eleitor tem mais tranquilidade para analisar o perfil dos postulantes ao cargo público. Esse detalhe, aliás, faz toda a diferença. É necessário conhecer bem a índole de um futuro prefeito ou vereador, incluindo sua conduta moral perante a sociedade, além de, preferencialmente, apresentar uma postura política ilibada. Sem uma escolha criteriosa, os políticos profissionais acabam se mantendo no poder indefinidamente. Esse é o xis da questão, e está diretamente ligado ao discernimento do eleitor, enquanto detentor absoluto de suas vontades. Fica a impressão de que aquele momento deveras relevante para a democracia se transformou num gesto completamente mecânico, desprovido de sentimentos, como se houvesse pressa em finalizar o compromisso cívico.
Seria interessante que a população, impregnada por uma dose considerável de determinação, viesse a banir de uma vez por todas aqueles que fazem da política seu meio de vida. Os jurássicos que se mantêm no comando das decisões indefinidamente, equiparando a administração pública a empresas privadas, onde seus familiares, amigos e correligionários se locupletam por décadas, em detrimento dos interesses comuns; as oligarquias coronelistas, que transformam os habitantes dos pequenos municípios em vassalos da Idade Média, tamanha a impotência diante da influência exercida pelos senhores feudais da atualidade, verdadeiros suseranos da coletividade; os que se mostram incoerentes por excelência, (trocam de lado como mudam de roupa), ao sabor das conveniências partidárias, tendo como objetivo final a manutenção e o gerenciamento do poder. Todos aqueles que, de uma forma ou de outra, são contemplados com benesses (muitas vezes legais, mas imorais), féis escudeiros de um sistema pérfido e viciado, em que os “amigos do Rei” são “estimulados” a manter fidelidade eterna ao “monarca”.
O papel do eleitor é deveras importante, no momento em que se fazem necessárias mudanças de rumo na condução dos destinos dos municípios. Portanto, agora é hora de analisar com imparcialidade as propostas dos candidatos. E excluir da lista aqueles mal acostumados.