ERA DE INCERTEZAS
A minha era de incertezas com o Brasil vai além da exposta pela senadora Gleisi Hoffmann (PT/PR), em artigo publicado na Folha de São Paulo. Amargando a derrota, Gleisi mais parece um protótipo de visionária com bola de cristal.
A senadora traça um futuro sombrio para os brasileiros agora governados por um ex-aliado transformado da noite para o dia em “traidor”. Tenta apagar da História, uma aliança de treze anos que levou Lula ao poder, e sustentou a eleição e reeleição de Dilma. Quando um projeto de poder desmorona, começa uma caçada aos traidores.
Eu não tenho bola de cristal. Li sobre incertezas antes do golpe militar. Atravessei a ditadura com elas. Após a redemocratização, assisti o impeachment de dois presidentes, e a morte de um antes de assumir. É fato. No Brasil respira-se incertezas.
O grande acordo entre os três poderes para que a ex-presidente Dilma não perdesse seus direitos políticos, deu uma pista de onde devemos começar procurando os culpados pelas nossas incertezas. Eu diria que o primeiro é a Constituição de 1988.
Nossos constituintes todos políticos, escreveram com má fé uma Constituição falha, longa, burra, dúbia e mentirosa. Que pode ser interpretada e exibida politicamente como melhor convém. Eles não tinham bola de cristal, mais sabiam o que tinham feito “no verão passado”. O que teriam vontade de voltar fazer, e estão fazendo.
Seria um erro afirmar que os governos anteriores não foram corruptos. Igualmente é um erro ovacionar os delegados da operação “Lava Jato” como heróis. Nos governos do Partido dos Trabalhadores, a vitrine dos corruptos enfeitou-se demais. Em nome de um projeto de poder, a corrupção ganhou status de institucional. Ficou fácil achá-los. Espero que não seja impossível a tarefa de puni-los. Tudo leva crer que será.
O agora presidente Michel Temer disse que um país com 35 partidos políticos é ingovernável. Eu concordo. Só que também não pode ser governado por centenas de deputados e senadores sem limite ou “teto” de poder, e com prerrogativas, de esconder-se atrás da imunidade parlamentar. Eles são um criadouro não “fatiado” de incertezas.
A bola de cristal da senadora Gleisi foi impiedosa com Michel Temer. As previsões são de que com ele o Brasil ficará pior. Seria possível rogar uma praga escrevendo artigo? Políticos com cargos eletivos deveriam ser proibidos de escreverem em jornais.
Concordo com Gleisi, ainda que com visão diferente, quanto a PEC 241 que impõe limites de gastos pelos próximos 20 anos. Um país incapaz de prever até o seu amanhã, deveria olhar apenas alguns centímetros a frente do nariz por vez. Para não correr o risco de batê-lo contra a parede. “Roubei” o título do seu artigo, e terminarei quase plagiando a senadora. “Lutarei” sempre contra políticos como Gleisi!