OS CANALHAS TAMBÉM DORMEM MAS NÃO AMAM

OS CANALHAS TAMBÉM DORMEM MAS NÃO AMAM

Ontem, dia 31/08/2016, como tem ocorrido nesses últimos doze meses, o Congresso brasileiro através do Senado Federal, nos proporcionou mais uma pérola da política ¨brasílis brasiliensis¨: um verdadeiro espetáculo circense, só que desta vez com pompa e circunstância, incluindo uma babá de luxo importada diretamente do Supremo Tribunal Federal para presidir os trabalhos e fornecer um mínimo de legitimidade.

Como previa o roteiro pré determinado, conforme afirmação de alguns ¨doutores¨ em direito constitucional, foi obedecido fielmente os ritos estabelecidos na nossa carta magna durante todo o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o qual culminou com esse infeliz julgamento. Digo infeliz não pelo seu resultado e sentença final, o qual todos já sabiam desde o início, mas pela discussão do mérito jurídico em si que, em raras ocasiões foi desenvolvido e argumentado pelas partes interessadas, particularmente com maior brilhantismo pela defesa, representada pelo ex ministro José Eduardo Cardoso que respondia, juntamente com a ré, às repetitivas e maçantes perguntas de natureza político administrativa e até pessoal dos seus acusadores, que pareciam não querer ouvir as respostas.

Aliás, tenho comentado com certa frequência aos amigos e pessoas mais próximas que, analisando a filosofia do direito desde a antiga Grécia e o Império Romano, passando por Kant e Hegel e chegando ao nosso momento contemporâneo, o direito, enquanto ciência jurídica nos países de fragilidade democrática e com pouca tradição e representatividade política como o nosso, tem sido fraco nos argumentos constitucionais e forte nos institucionais e individuais, ou seja, o direito brasileiro é predominantemente institucional ou individual, raríssimas vezes constitucional. Essa tendência está diretamente ligada aos interesses dos atores envolvidos, prevalecendo quase sempre os do mais forte, representados pela classe social dominante, a que eu chamo de elite elitizada... o poder político, midiático e finalmente o empresarial e financeiro.

Uma das consequências dessa anomalia é a criação desse tipo de espetáculo, que em alguns momentos nos deprime, em outros causa revolta e, em algumas cenas inusitadas, até nos diverte. Enfim, um autêntico espetáculo tragicômico.

Durante horas fomos testemunhas desse momento histórico em que parlamentares comprometidos até a alma com irregularidades decorrentes do seu cargo público e político, com muitos respondendo judicialmente por várias acusações de desvios, roubos e corrupção, acusavam de suposto crime, porém de natureza administrativa, uma presidente que, até o momento, nada tem de criminalmente provado contra ela, cujo maior erro foi sua inabilidade administrativa, política e pessoal na condução da coisa pública, podendo ser falado aqui em incompetência, e da grande, mormente considerando a maior autoridade do país. Cheguei a chama-la de presidente AAA - Autoritária, Arrogante e Agressiva.

Entretanto, tendo sido eleita pela maioria dos brasileiros, gostando ou não dela, defendo até as últimas consequências o seu direito de cumprir o mandato no qual foi eleita.

Por outro lado, em sua defesa, alegou repetidas vezes o fato de estarem rasgando a constituição, quando ela própria durante sua gestão, também rasgou descaradamente e em diversas ocasiões nossa lei maior, basta tomar o exemplo do Programa Mais Médicos, no qual desconsiderou as prerrogativas constitucionais do Conselho Federal de Medicina para o ato de legitimação do exercício da profissão aos médicos estrangeiros, desobrigando-os à realização do revalida, tendo ela mesmo, através do Ministério da Saúde, assumido essa função.

Interessante que após todas as altercações assistidas ao vivo em rede nacional, nos intervalos lá estavam eles, algozes e acusados, de conversinhas, risadinhas e tapinhas nas costas, como se nada tivesse acontecendo.

Para um profissional da saúde pública há mais de trinta anos, que tem presenciado o sofrimento de tanta gente, particularmente de crianças, por falta de um atendimento mais adequado e digno fornecido pelo estado, levando muitas à morte sem um acompanhamento medicamentoso, material e médico que fariam a fundamental diferença para sua continuidade vital, essa situação brasileira é no mínimo desprezível e hedionda do ponto de vista humanitário.

Muita vezes me perguntei se essas pessoas conseguiam deitar suas valiosas cabeças no travesseiro e dormir em paz. Hoje, após tanto tempo testemunhando os absurdos cometidos pelas autoridades e políticos deste país, cheguei à conclusão que dormem sim, e acham que estão dormindo o sono dos justos.

Agora, tenho a certeza que de amor são destituídos... amor ao Deus que tanto pregam, amor à pátria que tanto lesam, amor à família que tanto menosprezam e amor aos seus semelhantes que tanto desprezam. Talvez nem amem a si mesmos.

Marco Antônio Abreu Florentino

https://youtu.be/K2pV_tJsIF0

(Caçador de Mim - Milton Nascimento)