CORRUPTÍVEL E CORRUPTOR

A antecipação do voto não é mais uma ação democrática, de livre iniciativa e consciente. É uma exposição financiada na luta pelo poder. As passeatas, por exemplo, são um atentado ao processo eleitoral. Nelas, os eleitores serpenteiam fingidas vezes. São declarações disfarçadas de alegria. Desperdiçam aí o seu voto. Apostam no favorecimento pessoal e na continuação da vida miúda. “Os homens cometem injurias movidos pelo ódio ou pelo medo”. A rua deveria ser palco apenas das indignações – ali, as verdadeiras manifestações. Devíamos ter objetivos mais honestos do que apenas evitar a opressão.

Partidos se digladiam usando como escudos os próprios eleitores. Prevalece quem tem uma maior estrutura de campanha. E assim fomentam as apostas e induzem “eleitores indecisos”. E não é demais lembrar que tudo é pago com dinheiro público, disfarçado de doações. O horário da propaganda gratuita e os debates midiáticos além de outras divulgações permitidas pela justiça eleitoral, deveriam ser melhor aproveitados na construção do voto; mas, eles foram descaracterizados de tal forma que viraram instrumentos de chacotas.

Os candidatos investem na imagem e esquecem o plano de governo - Que mesmo técnico, padronizador e uniformizador, - ainda é plataforma. E até entendendo que o Estado se relaciona/responde à pressão ou à ausência de pressão social. Ninguém parece querer saber mais das propostas, quem dera da cobrança. E esse é o pior dos crimes: a resistência está entregando as armas. E nessa guerra de palpites, carros envelopados agigantam os homens; sorrisos rasgam a cara de pau... Em detrimento do conceito. E naquelas fotografias espalhadas pelos logradouros a imagem é também do eleitor. E nada pode ser brinde.

Há quem diga: “Receba que o dinheiro é seu”. Mentira! O dinheiro é meu também; não aceite, denuncie. O nosso dinheiro não é para alimentar a corrupção, mas para ser investido em saúde, educação e ação social, etc. E esse discurso do “politico coitadinho” é também errado. Não há inocentes numa campanha eleitoral. Corruptíveis e corruptores agem livremente. O processo é que está podre.

Como não nos constranger diante de um fato político? Como ignorar? Como querer justificar? Essas posições apenas nos diminuem. “A política é um construto social”. Na relação com a urna, apenas o silêncio. Ali o sufrágio é dever cívico. Não há a voz rouca das ruas. Um instante, basta, para a consumação do ato, quem dera soberano. Mas, eu já me disse em quem votar. Antecipei-me as previsões. Fiz votos do voto... Com tantos mecanismos de balizamento à disposição dos eleitores, hoje em dia, não há mais como não identificar o mau candidato. Porém, quantos são vigilantes?

A paixão devia ser abolida; apenas a razão permitida. O voto tem o peso da consequência; mas, antes, da consciência. Votar é se desprender de uma causa. É esperar em juízo. Mas, cobrar de si mesmo a vergonha de todos. A “compra do voto” não é mais um agravante, é prática vicejante. Vendemo-nos a nós mesmos... “Santinhos” em profusão revoam à esquina numa inusitada confluência de legendas. Na varrição costumeira de cada manhã... O destino é a lata do lixo.

Termino, servindo-me de Nicolau Maquiavel: “Métodos vis podem nos conduzir ao poder; mas, não à glória!”