O LUGAR DE MICHEL TEMER

Na era do mundo conectado quando pesquisamos por Michel Temer, na consulta já aparece: “Presidente interino do Brasil”. Então, até que o impeachment fosse sacramentado Temer deveria se comportar como tal. Claro que isto seria pedir demais do mundo da política.

Na visão do presidente interino, do seu partido o PMDB e da sua base aliada formada na maioria por “oportunistas de plantão”, depois que Dilma for definitivamente afastada, eles farão o que quiserem no país. Na verdade já estão fazendo.

Só que todos se esquecem de um fato importantíssimo. A interinidade atual de Michel Temer deveria se transformar no máximo num governo de transição. Que durará menos de dois anos. Sabemos que o calendário político é diferente desse que conta os dias para o aniversário, Natal ou fim de ano.

Tudo o que o Michel Temer nunca será é presidente de fato. Falta-lhe legitimidade. E parece que ninguém está disposto a lembrá-lo deste detalhe. Num certo sentido o poder é muito pior que ser um viciado em entorpecentes. E causa cegueira imediata.

Michel Temer também deveria ser lembrado que diariamente, tanto seu partido, seus ministros e ele próprio estão no noticiário do maior escândalo de corrupção do Brasil. O presidente ora interino, corre um sério risco de ser cassado. Eu diria que Temer ganhou um prêmio imerecido.

Como um governo de transição, no máximo Michel Temer poderia tomar medidas pontuais. Que levassem o Brasil sem novos sobressaltos até as eleições de 2018. Estamos vendo que ele decidiu tomar o caminho inverso.

Cercado por ministros e aliados especialistas em guerra psicológica, Michel Temer quer promover mudanças estruturais que mexerão com a vida de todos os brasileiros. Este é o grande hiato entre os significados de transição e legitimidade.

Talvez, tudo o que seus ministros andam alardeando seja verdade. Confesso que meu ceticismo com o que sai da boca dos políticos é enorme. E se for realmente, Michel Temer não foi eleito para mudá-las sem que a sociedade seja ouvida e dê seu aval.

Apenas governos legítimos podem promover mudanças estruturais. Os eleitos pelo voto. E mesmo assim, todas as mudanças estruturais deveriam ser referendadas por plebiscitos. Nem sempre a maioria das urnas concorda com mudanças propostas depois.

Este é um ponto crucial para a reforma política brasileira. Que também, não poderá ser feita por políticos “profissionais”. Com prerrogativas de legislar em causa própria.