PREFEITURA É CASA DE HORRORES

Prefeitura não é palco de servidão; é casa de horrores. Mesmo sabendo que "o desejo de conquista é algo muito natural e comum", nada ali pode ser planejado se não for para alimentar o poder. "Antecipando-se as discórdias para que elas não se transformem em moléstias incuráveis". O povo é constantemente observado para que receba a dosagem correta do benefício: um controle maquiavélico que sobrevive desde o tempo de antigamente - "O bem se faz aos poucos". Isso é tirania! Ainda quando inaugurada uma nova gestão, o período eleitoral nunca acaba: conchavos políticos; tráfico de influência; enriquecimento ilícito; troca de favores; "acomodação" de fornecedores e patrocinadores de campanha; aliciamento de adversários, dentre outros, são pautas vicejantes do paço Municipal. E, não sou eu quem está dizendo: vemos isso normalmente, quando notícias são divulgadas, através da "Vista da nação" que Rui Barbosa, insistia em sonhar, ser a nossa imprensa brasileira. Liderados pelos tribunais, oficiais de justiça competem mandados de prisão e policiais federais prendem quadrilhas de maus gestores, a todo instante. Volto ao tema. O plano de governo é sempre o mesmo: a perpetuação do governante de plantão. Para isso, é montado um esquema profissional que tem na escolha do secretariado, um capítulo importante. Dentre os critérios mais conhecidos, para se formar o 1° escalão, aqui apenas, enumerativos, estão o critério técnico (de caráter apenas demagógico, pois não se sustenta por muito tempo - pelo seu pouco vínculo eleitoral); o critério pessoal (que atende aos correligionários e os parentes do gestor) e o critério politico (que favorece apenas os partidos da base aliada). E ninguém é para ser competente ou capaz. Esses assistentes carregam consigo, feito compromisso, a incumbência de encobrir os desmandos do prefeito, assumindo o ônus da prova. Estão longe de ser "homens sábios, escolhidos como conselheiros, e com a inteira liberdade para falar a verdade". O discurso que impera no governo é o da bajulação. Muito embora, "os ministros serão bons ou maus, de acordo com a prudência que ‘o príncipe' demonstrar". E assim segue: as conveniências são resolvidas com os cargos de adjuntos e as secretarias executivas; os financiadores de campanha ficam com as contas de maior interesse, depois de driblarem a concorrência nas licitações fraudulentas; carros e imóveis são locados para alegrar os amigos menos ambiciosos, mas que de alguma forma, ajudaram no "projeto político"; parte da imprensa local é calada com o chamado "por fora"; cargos de excepcional interesse público são preenchidos com os entregadores de panfletos; o concurso público legitima a bênção do prefeito/padrinho... E assim está formada a teia de chantagem. Como os cargos, chamados de confiança, são prerrogativas do prefeito, este pode usá-los como moeda de troca - quando for de sua conveniência. Basta um ato falho - Não contra o povo, mas que o desagrade. Todas as ações administrativas devem ser bajulatórias, confirmo. Agora só falta o slogan que, fabricado por marqueteiros, não conceitua a gestão, e sim oferece a mensagem subliminar de prolongamento das ideias. Feito isso, a máquina pública precisa, então, de uma provocação para ser alimentada: novos impostos; reforma e ampliação do patrimônio; obras emendadas por deputados caseiros, são exemplos do quanto mais se entra mais se tira. E esse descalabro, acontece, quase sempre, com a anuência do governo federal e o assentimento do povo, ainda, "massa de manobra". Os conselhos populares e os programas de transparência, tipo orçamento participativo são, em sua maioria, fiscalizadores de nada. Assumem a forma de apenas existir. O que fazem é respaldar os gastos exorbitantes. Sindicatos que não são pelegos sofrem opressão e, desacreditados, cedem depois à intimidação. "Os homens que recebem o bem quando esperam o mal se sentem ainda mais obrigados com relação ao benfeitor". Não quero nem falar sobre os escândalos de mensalões destinados às câmaras de vereadores para não exercerem o seu papel de fiscalizadoras do erário público, por se tratar de um capítulo à parte. E hoje ouvimos falar em terceira via. Penso: - De onde viria esse "Príncipe" e o que ele teria para nos oferecer que alterasse o cenário posto? Então recorro a Maquiavel mais uma vez e sempre: - "O povo, quando não pode resistir aos ricos, procura exaltar e criar um príncipe dentre os seus que o proteja com sua autoridade. Quem chega ao poder com a ajuda dos ricos tem maior dificuldade em manter-se no governo do que quem é apoiado pelo povo, pois está rodeado de indivíduos que a ele se igualam, e não pode assim dirigi-lo ou ordenar tudo que lhe apraz (...). O povo tem objetivos mais honestos do que a nobreza; esta quer oprimir, enquanto o povo deseja apenas evitar a opressão (...). Direi apenas concluindo que é necessário que o Príncipe tenha o favor do povo; senão, não encontrará seu apoio na adversidade". E assim, finalizo, clamando por este povo de que fala o "pai" da ciência política.

Misael Nobrega
Enviado por Misael Nobrega em 02/08/2016
Reeditado em 27/01/2022
Código do texto: T5716509
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