Imagem: blog Café com Sociologia

A arapuca da luta de classes


Se você ainda não está aposentado e vive de salário, trabalhando no setor público ou na iniciativa privada, lamento te informar: você está sobre a ponte que vai cair. A “Ponte para o Futuro”, do governo interino de Michel Temer, não é para o futuro que você esperava. Pelo menos não para você. Estão aí as reformas da Previdência e da CLT para não deixar dúvidas sobre isso.

Sinceramente, nunca imaginei que tal retrocesso para os assalariados seria possível num governo democraticamente eleito. E eu estava imaginando certo: o governo interino não tem a legitimidade das urnas e até por isso mesmo pode fazer sem problemas tamanha perversidade com o futuro do andar de baixo da sociedade brasileira. Para tal, conta com o apoio do grande empresariado, de setores mesquinhos e retrógrados da classe média, das grandes empresas de comunicação, da base política que lhe é caudatária no Congresso Nacional e de setores do Judiciário ideologizados à direita.

Esses fatos estão sendo noticiados todos os dias, mas o interessante (e surpreendente) é que quem está em cima da ponte parece não perceber que seu perigoso balanço não são embalos de sábado à noite: idade mínima de 65 anos (agora) e 70 anos (daqui a 20 anos) para aposentadoria, com pedágio; terceirização das atividades-fim; carga horária de 60 horas semanais; congelamento dos gastos com saúde e educação (sem mexer na taxa de juros que favorece o andar de cima); 10 bilhões de reais para a Caixa financiar casas de até 3 milhões de reais (o Minha Mansão, Meu Luxo), enquanto as novas graduações pelo Ciências sem Fronteiras foram suspensas. Tem até gente defendendo o fim do ensino superior gratuito!

Isso tudo remete, como já escrevi na semana passada e faço questão de endossar, não só a passar a conta do ajuste fiscal para o andar de baixo, mas também em articular um novo ciclo de acumulação de capital para o andar de cima, que valerá para as próximas décadas. E concordo com os que afirmam que tais medidas significam, inclusive, a “quebra do pacto civilizatório brasileiro”.

Ou que destino pensam que estamos legando aos jovens que estão hoje no mercado de trabalho? Terão saúde, daqui a 20 anos, para se aposentar aos 70 anos? Olhem para as pessoas que hoje tem 70 anos e pensem se elas poderiam ainda estar na ativa, trabalhando 40 horas semanais (nem vou dizer as 60 que a CNI quer)? Você daria emprego para elas?

E a expectativa de vida, ao contrário de aumentar, tende a piorar nesse quadro. Ora, se o desemprego estrutural tecnológico tende a se ampliar no futuro, com a modernização constante do processo de produção na indústria e no setor de serviços (principalmente no comércio), como ficarão todas essas pessoas num mercado de trabalho onde, aos 50 anos, já estão obsoletas enquanto força de trabalho? Nesse quadro fica claro perceber que as condições de vida dos assalariados vão piorar e, por consequência...

Esses movimentos do andar de cima, operados via governo Temer, mostram cabalmente que estão a fazer uma ação ofensiva da luta de classes contra os assalariados. A arapuca é o próprio governo Temer, que é vendido com única alternativa ao golpeachment da presidente Dilma Rousseff: O PMDB e seus aliados, mesmo também atolados na corrupção, vão realizar toda sorte de reformas em benefício do andar de cima e em detrimento ao andar de baixo. Isso já está acontecendo, à luz do dia, não vê quem não quer. Todavia, até os cegos vão sofrer as conseqüências do mesmo.

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FORA TEMER – Neste domingo, em todo o país, ocorrerão manifestações contra o governo Temer e as reformas por ele propostas. Vai ser mais um capitulo de uma luta que, após o provável impeachment de Dilma Rousseff e o final das eleições municipais, tende a se tornar um divisor de águas para os direitos sociais e econômicos dos trabalhadores brasileiros. Uma ponte com ou sem futuro, dependendo de quem ganhar o que até terça-feira, quando as centrais sindicais se uniram contra as reformas "temerianas", parecia já ser um jogo jogado.


Texto publicado na seção de Opinião do jornal Portal de Notícias, versões impressa e online: http://www.portaldenoticias.com.br/ler-coluna/190/a-arapuca-da-luta-de-classes.html