O vice no ostracismo
Dou toda a razão ao ilustre Professor Cunha e Silva Filho, em seu artigo "Que não venha mais uma tragicomédia nacional" (Portal Entretextos, 16/5/2016). Já a primeira frase do texto é impecável: "É claro que a permanência da presidente Dilma Rousseff chegara a um fase clamorosamente inaceitável à situação financeira do país." Os que insistem em reclamar falando em golpe (quando na verdade os petistas é que são golpistas, ao desrespeitar tão clamorosamente as instâncias legais e constitucionais da nação) deveriam explicar como é que o Brasil iria se sair com a permanência no poder de um governo inoperante, que já não governava, estávamos em plena "troika em disparada" para usar uma expressão de Dostoievski no romance "Os Irmãos Karamazov".
Só de pensar nos 11 milhões de desempregados, número aumentando, nas empresas fechando às chusmas, na inflação, juros altíssimos, no desânimo da população...
Agora eu gostaria de me referir a um detalhe talvez menor mas que tem também a sua importância. Depois que o processo de impedimento começou a Sra. Dilma, nos pronunciamentos que ainda fez, acusou Michel Temer de conspirar contra ela, sendo vice. Ora bem. Não respondeu, porém, às acusações que Temer levantou, primeiro na famosa carta. Reclamou o então vice, hoje presidente em exercício (e Cunha acerta de novo ao apontar a co-responsabilidade do PMDB na calamitosa situação do país), ter sido votado ao ostracismo pela chefe do governo. Não tinha voz ativa, era um zero à esquerda. Mais tarde acrescentou que tentou ser amigo de Dilma, ela porém não quis a sua amizade.
A meu ver é um ponto grave sim, e de difícil justificativa, uma presidente isolar, desprezar seu vice. Para que o aceitou então na chapa? Para torná-lo uma figura decorativa? Mas Dilma não se justifica, aliás nem ela nem Lula, há anos (salvo engano meu) não dão entrevistas, não respondem perguntas. Só fazem declarações, geralmente agressivas e arrogantes. No momento dou graças a Deus e sinto um grande alívio em ver o PT fora do governo, mas ainda temos muito a fazer para que este nosso Brasil se reerga.
(Portal Entretextos,21 de maio de 2016)