Apesar de...
Apesar do PT ter cavado a sua própria sepultura, fortalecendo os setores mais retrógrados da economia brasileira, multinacionais, bancos, financeiras e a mídia oligopolista que estão claramente atrás das maquinações que acabaram corroendo a sua base, apesar de tudo isto, acho que a hora não é de vingança.
Apesar do modelo exportador de "commodities" que nos fez retroceder duzentos anos, apesar do ministro Levi e do seu ajuste fiscal, da ministra Kátia Abreu e sua defesa do latifúndio e do agronegócio, apesar disto, acho que a hora não é de alimentar o ódio contra o PT.
Apesar da lei antiterrorismo, da criação da Policia Federal, da delação premiada e demais ferramentas de um estado onde policias e juízes dão as cartas; apesar da diminuição da participação da Petrobrás na exploração do pré-sal, projeto aprovado durante a última gestão do PT e que Dilma não conseguiu barrar; apesar da flexibilização dos direitos trabalhistas, de sucessivas reformas da previdência para prejuízo dos assalariados, apesar de tudo isto, acho que a hora não é de retroceder.
Apesar da corrupção generalizada criada pelos arquitetos do conformismo para conquistar um apoio político que teria que vir do campo e das ruas e não de acordos e tramóias; apesar do aval e do endosso do "toma lá dá cá", da escolha de parceiros duvidosos entre os quais o atual presidente Temer; apesar da opção pelo poder a qualquer custo, ao invés do reconhecimento do custo do poder; apesar da escolha de parcerias ao invés de alianças; apesar do conluio com um congresso pra lá de corrupto e da opção de corrompê-lo ainda mais; apesar de tudo isto, acho que não cabe encerar-se tão somente em crítica e reprovação.
O que vem por aí, o que se prepara atrás de portas fechadas onde não penetra a escuta telefônica, ou, se penetra, não há quem a escute ou a faça escutar; o que se combina em reuniões que não vazam, simplesmente porque não tem onde vazar, porque os juízes que poderiam decretar o seu vazamento, já "vazaram", isto é, já foram removidos; o que a elite de banqueiros e financistas que hoje comanda o país e seu séquito de togados, co-optados por favores, carreira, vaidade ou dinheiro mesmo, prepara para este país é para botar tudo o que houve, no chinelo. É bom lembrar que não se combate o ruim com o pior!
Cláudio Thomás Bornstein