Façam o jogo, senhores
Nacib Hetti
O novo governo retomou as discussões sobre a reabertura dos cassinos no Brasil, que passou a ser uma questão puramente econômica, envolvendo geração de divisas e tributos para o país. Qualquer manifestação em contrário, alegando aspectos éticos, morais, sociais, etc., não tem mais eco na sociedade e passa a fazer parte das muitas hipocrisias do nosso meio político. De uma forma ou de outra todo mundo está jogando. Proliferam os jogos bancados pelo próprio governo, fazendo do país um grande cassino a céu aberto, sem contar o jogo do bicho e os cassinos clandestinos, passando pelos bingos também ilegais.
Agora estamos, de novo, discutindo a conveniência de se reabrir os cassinos no Brasil. Desde a proibição do chamado jogo de azar pelo governo Dutra, em abril de 1946, diversas tentativas foram feitas por políticos e empresários brasileiros para retorno dos cassinos, sempre encontrando alguma resistência por parte dos segmentos mais conservadores. Alguns poucos que são do contra alegam que o país tem belezas naturais o bastante para estimular o turismo, mas o brasileiro vai para Punta Del Leste e Viña Del Mar para jogar, além do turista estrangeiro que visita rapidamente nossas belezas e vão jogar em outros países. É o Brasil gerando empregos e divisas em seus vizinhos. Os que são “do contra” alegam que o jogo no Brasil pode se tornar indutor da corrupção. Conversa fiada: existe cassino na Ásia, na Escandinávia e no Canadá, regiões com índices de corrupção bem inferiores ao nosso, sem jogo.
Analistas indicam que a reabertura dos cassinos no Brasil poderia gerar até 300.000 empregos, diretos e indiretos, no jogo propriamente dito, no incremento do turismo e no meio artístico, com novos palcos de apresentação e conseqüente valorização do artista nacional. Na alta temporada, as mesas de jogo do Cassino Conrad de Punta Del Leste recebem até 250.000 turistas. No Chile, desde 2005, está permitida a abertura de 24 cassinos no país, além do já tradicional de Viña Del Mar. Outros países latinos como Venezuela, Peru, Costa Rica e Argentina estimulam a implantação de cassinos, com algumas restrições de localização.
Alguns projetos foram apresentados por parlamentares conscientes das vantagens econômicas da reabertura do jogo. Um deles prevê a implantação de cassinos no Pantanal, Amazonas, Acre, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará e Rondônia, levando o turista para lugares com belezas naturais, mas pouco procuradas pelas agências de viagens. Outro propõe o aproveitamento da estrutura arquitetônica já existente, com a reativação dos cassinos de São Lourenço, Caxambú, Lambarí, Poços de Caldas, Araxá, Ilhas Porchat e Quitandinha, com sensível redução nos investimentos. Nesse caso o jogo “mais pesado” seria liberado apenas para o turista estrangeiro, sobrando para o nativo apenas o bingo e o caça níquel.
Assim como os americanos levaram o turista para o deserto, em Las Vegas, a interiorização dos cassinos brasileiros certamente levaria ao desenvolvimento do turismo interno, com a criação de milhares de empregos e geração de recursos para os programas sociais do governo. Com ou sem cassino o jogo no Brasil é um processo irreversível. A reabertura oficial dos cassinos só não interessa aos contraventores do jogo e ao cinismo moralista. Cabe à inteligência dos governantes compreender o quanto se perde com o jogo clandestino e com a demanda do turismo para os países nossos vizinhos. Façam o jogo, senhores.