A VELHA E CANALHA DIREITA

Em seus diversos matizes a esquerda ganhou via processo eleitoral, respeitando as regras pactuadas, todo o arcabouço jurídico reinante e enfrentando máquinas arcaicas poderosíssimas as eleições em diversos países da América Latina. E, contrariando a propaganda conservadora, exceção feita à Venezuela, não houve “revoluções sangrentas”. Desnorteada, a direita conservadora, canalha e raivosa tentou com as táticas tradicionais ou fingindo aliar-se aos vencedores suportar a nova onda.

Suportou até o ponto em que a conjuntura lhe favorecesse. Ou não (vide Lugo no Paraguai)! Venceu na Argentina e no Peru (por agora), mas precisava “retomar” a joia da coroa: o Brasil. Incapaz de fazê-lo nas urnas, valeu-se da velha falácia “legalista” para justificar que um “tribunal” (TCU) nitidamente político conduzisse um processo de responsabilização da presidente, calcado em fragilidades jurídicas, via LRF (“pedaladas”).

O resto é conjuntura recente! Bachelet está sendo bombardeada no Chile. Rafael Correa, Equador, está “esquecido” por enquanto e Tabaré Vázquez, talvez até em função das dimensões geográficas uruguaias, não parece ser alvo. Maduro tratou de endurecer na Venezuela e segue a paços largos rumo ao socialismo de partido único.

Dilma, por aqui, foi afastada provisoriamente e um vice pífio, sem base orgânica, assumiu. Loteou seu governo, embora tenha alardeado que seguiria “critérios técnicos” nas nomeações, entre os que votaram ”sim” na fatídica sessão do domingo de horrores - brinca-se que ministros são escolhidos por suas folhas corridas e não por mérito curricular.

Em resumo: seja pelo voto ou por meandros sinuosos que tão bem sabe usar, a direita vem furibunda e disposta a desbaratar os esboços de reformas que foram tentados ou timidamente implantados. Utilizou-se do velho e batido jargão, embora pareça tão bem funcionar ainda, da luta contra a “corrupção”, levando setores despolitizados, notadamente das “classes médias”, às ruas como massa de manobra. Haverá reação? Talvez, sim, pois a falácia está se desfazendo muito rapidamente. E quando os setores manobrados notarem que não serão convidados para a partilha tão apregoada, mas sim para que paguem a conta? Talvez se lembrem do título do artigo de hoje de Vladimir Safatle no caderno Ilustrada da Folha, intitulado “A crise é um modo de governo” e, particularmente deste trecho: “ A austeridade sempre foi a forma de restringir a vida de muitos para garantir o gozo de poucos”.

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 10/06/2016
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