DE GABEIRA A SARNEY

O ex-presidente José Sarney grampeado, e Fernando Gabeira no jornal O Globo, definiram com perfeição o atual momento da classe política brasileira.

Sarney disse que a Delação da Odebrecht vem como uma metralhadora ponto 100. O ex-presidente não é um especialista em armas de fogo. Quando se trata de política, acredito que este senhor conhece todos os segredos, com exceção de um.

Ao sentir-se “traído” por Sérgio Machado, é como se Sarney não soubesse que a política é também, um jogo de traição. Que ele próprio deve ter jogado muitas vezes. Neste grande cassino que é o sistema político brasileiro, entre o ganhar e o perder, também tem o comprar e o vender. No varejo e no atacado.

Como fugir desse jogo? É neste ponto que entra no contexto a frase escrita por Fernando Gabeira: “O sistema político brasileiro precisa implodir. Mas ao mesmo tempo não pode implodir”. Digna de entrar para os “Minutos de Sabedoria” da política.

Se a implosão é uma necessidade, a incógnita é quem e como começará a nova construção. Muitos apontam o dedo para a Operação Lava Jato. Esqueçam. Ela tem muito menos poder do que parece. Nas conversas dos grampeados, isto ficou claro demais.

A Operação Lava Jato chegou na fase das delações premiadas. O que está acontecendo com os investigados e os condenados? Alguns empresários estão presos. Já os políticos continuam nos cargos escondidos atrás da imunidade parlamentar. Quem não a possui, é protegido pelo corporativismo dos poderes da nação. E cito o STF.

O governo de Michel Temer começou com vários investigados ganhando de presente um ministério. No lamaçal da nossa política, ser investigado soa como a coisa mais natural do mundo. E merecedores de total confiança. Uau!

Quando chegamos na reforma política, esbarramos numa unanimidade burra. Qual a reforma que os brasileiros podem esperar de políticos que tremem de medo diante dos delatores? Só falta o cúmulo de compararem-se com os inconfidentes mineiros

Mesmo que os políticos abrissem mão da reforma, o que é pouco provável, quem neste momento teria moral e ética para fazê-la. Com todos os poderes nação de alguma forma sujos e contaminados pela lama da corrupção, eu diria que ninguém.

Quem aceitaria perder privilégios como legislar em causa própria. Retirar os escudos de proteção escondidos na Constituição. Criar leis contra a corrupção. Todos os que estão olhando para 2018, são acusados. Fato. Todos estarão disputando as eleições. Nenhum estará preso. Infelizmente, muitos são imunes a metralhadora ponto 100.