Temeridade e previdência
No dia 11 de maio, quando da votação da admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o senador paranaense Roberto Requião, do PMDB, foi à tribuna. Aos 7min30seg de sua fala, disse:
“O meu amigo Michel Temer, vice-presidente da República, presidente do meu partido, assume a condução dos negócios da República. Presidente Michel Temer. Mas assume suportado por uma série de ideias que foram publicas na ‘Ponte para o Futuro’, [...], que são as ideias vinculadas à utopia neoliberal. ‘Vamos reduzir a idade para a aposentadoria’. Magnífico senador Renan, eles propõe 65 anos para viabilizar uma aposentadoria. Sabem vocês senadores qual a idade média dos homens no estado do presidente Renan, em Alagoas? 65 anos e 8 meses. Então, os alagoanos estariam condenados, se sobrevivessem, na média, a ter oito meses de aposentadoria depois de uma contribuição na vida inteira”.
Nesse momento, o presidente do Senado, Renan Calheiros, do alto de sua cabeça recheada de cabelos implantados e com seu sorriso com dentes de um guri de 15 anos na boca de um senhor de 60 (logo, longe da realidade sócio-econômica de seus conterrâneos), fez um aparte: “O Senado não assina esse tipo de decreto”. Meno male! O senador Requião prosseguiu seu discurso, enfatizando:
“Então, toda a proposta arquitetada pela assessoria do Michel Temer é uma proposta neoliberal, que fala em cortes. É a mesma proposta que desgraçou a Europa, que trouxe a crise na Itália, em Portugal, na Espanha e que praticamente liquidou a Grécia. Senador Tasso [Jereissati, PSDB CE], em 2010, quando a Grécia utilizou esse remédio neoliberal, da forma como é proposto para o Brasil agora, o déficit público era 104% do PIB. Era um desespero para os gregos e o temor de toda a Europa. Privatizaram tudo. Cortaram na Saúde, cortaram na Educação, cortaram na Previdência, liquidaram aposentadorias. Em 2015, que é o último dado oficial que eu tenho, o déficit tinha ido para 184% do PIB e a crise havia se aprofundado”.
Um grande discurso o do senador Roberto Requião, deve ser ouvido na íntegra. Está disponível na internet. O que ele revela é a verdadeira essência do golpeachment, ou seja: uma mudança na política econômica do país, radicalizando o ajuste fiscal sobre os assalariados. Sempre foi isso. O debate sobre corrupção era apenas o combustível para, através das empresas de comunicação, instigar o povo para ir às ruas.
A formação do governo interino de Michel Temer só corrobora esse entendimento: ministros investigados na Lava Jato, líder do governo na Câmara dos deputados na mesma situação, pessoas ligadas à Eduardo Cunha sendo indicados para cargos de destaque no governo. E por aí vai. Ora, imaginem como um governo de PMDB, PP e PSDB, tão atolados na Lava Jato quanto o PT, poderia combater a corrupção? Não, é o mesmo esquema que continua no poder.
Como bem disse o cientista político César Benjamin em artigo publicado na revista Piauí nº 116, de maio, “o golpe é outro”, ou seja: “Será a formação de um governo comprometido com um programa que muito dificilmente seria aceito pelo povo brasileiro nas urnas”. Sobre a Previdência Social, Benjamin informa que ela consome 14% do PIB, atinge 33 milhões de beneficiários, paga rendimentos médios de 1.207 reais e que “opera contra o seu equilíbrio o mecanismo denominado de Desvinculação de Receitas da União (DRU), que permite ao governo não aplicar na seguridade uma parte dos tributos que são recolhidos em nome dela”.
Assim, o governo interino Temer, que, coincidentemente, teve seu primeiro dia inteiro de trabalho numa sexta-feira 13, desperta justificada temeridade nos assalariados, não apenas pela reforma previdenciária, mas também por possíveis alterações na CLT, dando a certeza aos mesmos de que hão de ter muita previdência na atual conjuntura política.
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OcupAssis – Na quinta-feira pela manhã acompanhei em Charqueadas a mobilização de professores e alunos da escola Assis Chateaubriand em frente ao Clube Tiradentes, antes de os mesmos realizarem uma caminhada pela cidade. Um exercício de cidadania ativa em sua plenitude. Merecem muito mais do que piso parcelado em 9x na Tumelero.
Texto publicado na seção de Opinião do jornal Portal de Notícias, nas versões online e impresa: http://www.portaldenoticias.com.br
No dia 11 de maio, quando da votação da admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o senador paranaense Roberto Requião, do PMDB, foi à tribuna. Aos 7min30seg de sua fala, disse:
“O meu amigo Michel Temer, vice-presidente da República, presidente do meu partido, assume a condução dos negócios da República. Presidente Michel Temer. Mas assume suportado por uma série de ideias que foram publicas na ‘Ponte para o Futuro’, [...], que são as ideias vinculadas à utopia neoliberal. ‘Vamos reduzir a idade para a aposentadoria’. Magnífico senador Renan, eles propõe 65 anos para viabilizar uma aposentadoria. Sabem vocês senadores qual a idade média dos homens no estado do presidente Renan, em Alagoas? 65 anos e 8 meses. Então, os alagoanos estariam condenados, se sobrevivessem, na média, a ter oito meses de aposentadoria depois de uma contribuição na vida inteira”.
Nesse momento, o presidente do Senado, Renan Calheiros, do alto de sua cabeça recheada de cabelos implantados e com seu sorriso com dentes de um guri de 15 anos na boca de um senhor de 60 (logo, longe da realidade sócio-econômica de seus conterrâneos), fez um aparte: “O Senado não assina esse tipo de decreto”. Meno male! O senador Requião prosseguiu seu discurso, enfatizando:
“Então, toda a proposta arquitetada pela assessoria do Michel Temer é uma proposta neoliberal, que fala em cortes. É a mesma proposta que desgraçou a Europa, que trouxe a crise na Itália, em Portugal, na Espanha e que praticamente liquidou a Grécia. Senador Tasso [Jereissati, PSDB CE], em 2010, quando a Grécia utilizou esse remédio neoliberal, da forma como é proposto para o Brasil agora, o déficit público era 104% do PIB. Era um desespero para os gregos e o temor de toda a Europa. Privatizaram tudo. Cortaram na Saúde, cortaram na Educação, cortaram na Previdência, liquidaram aposentadorias. Em 2015, que é o último dado oficial que eu tenho, o déficit tinha ido para 184% do PIB e a crise havia se aprofundado”.
Um grande discurso o do senador Roberto Requião, deve ser ouvido na íntegra. Está disponível na internet. O que ele revela é a verdadeira essência do golpeachment, ou seja: uma mudança na política econômica do país, radicalizando o ajuste fiscal sobre os assalariados. Sempre foi isso. O debate sobre corrupção era apenas o combustível para, através das empresas de comunicação, instigar o povo para ir às ruas.
A formação do governo interino de Michel Temer só corrobora esse entendimento: ministros investigados na Lava Jato, líder do governo na Câmara dos deputados na mesma situação, pessoas ligadas à Eduardo Cunha sendo indicados para cargos de destaque no governo. E por aí vai. Ora, imaginem como um governo de PMDB, PP e PSDB, tão atolados na Lava Jato quanto o PT, poderia combater a corrupção? Não, é o mesmo esquema que continua no poder.
Como bem disse o cientista político César Benjamin em artigo publicado na revista Piauí nº 116, de maio, “o golpe é outro”, ou seja: “Será a formação de um governo comprometido com um programa que muito dificilmente seria aceito pelo povo brasileiro nas urnas”. Sobre a Previdência Social, Benjamin informa que ela consome 14% do PIB, atinge 33 milhões de beneficiários, paga rendimentos médios de 1.207 reais e que “opera contra o seu equilíbrio o mecanismo denominado de Desvinculação de Receitas da União (DRU), que permite ao governo não aplicar na seguridade uma parte dos tributos que são recolhidos em nome dela”.
Assim, o governo interino Temer, que, coincidentemente, teve seu primeiro dia inteiro de trabalho numa sexta-feira 13, desperta justificada temeridade nos assalariados, não apenas pela reforma previdenciária, mas também por possíveis alterações na CLT, dando a certeza aos mesmos de que hão de ter muita previdência na atual conjuntura política.
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OcupAssis – Na quinta-feira pela manhã acompanhei em Charqueadas a mobilização de professores e alunos da escola Assis Chateaubriand em frente ao Clube Tiradentes, antes de os mesmos realizarem uma caminhada pela cidade. Um exercício de cidadania ativa em sua plenitude. Merecem muito mais do que piso parcelado em 9x na Tumelero.
Texto publicado na seção de Opinião do jornal Portal de Notícias, nas versões online e impresa: http://www.portaldenoticias.com.br