PRECATÓRIAS E PEDALADAS
O senador Jarbas Vasconcelos cresceu na política à sombra de Miguel Arraes - coerente socialista pernambucano e fundador do não tão coerente Partido Socialista Brasileiro (PSB). Por injunções ou arranjos politiqueiros, Jarbas, pmdbista, junta-se convenientemente ao ultra-direitista PFL (hoje DEM), em 1998, com o intuito de derrotar Arraes nas eleições para o governo de Pernambuco.
Ganhou o traidor. Seu vice, igualmente eleito, foi o então deputado estadual Mendonça Filho (agora Ministro da Educação), cuja família de tradicionais coronéis detinha um grande curral eleitoral no rincão sertanejo de Bom Jardim (PE) e adjacências. Mais do que um vice, Jarbas, esperto, precisava, na verdade, era desses generosos votos de cabresto. Deu certo.
Deu mais certo ainda o mote espalhado na campanha eleitoral de então: "PRECATÓRIAS".
Nome estranho ao ouvido popular, os candidatos de oposição a Arraes (principalmente o sr. Jarbas) deram a esse termo a conotação de ROUBALHEIRAS.
Indignado, o povo votou na oposição, contra as precatórias, ou melhor, contra as roubalheiras de Arraes. O massacrado governador a quem, além de traído, o presidente FHC negara pão e água durante todo o seu mandato, perdeu a eleição, fragorosamente.
Uma explicação: o Judiciário, através de cartas precatórias, à época, autorizara os governos estaduais a emitirem títulos do tesouro estadual para venda no mercado. Suprimento de receitas. Arraes, apoiado pelos partidos de sua base política (que depois lhe deixaram sozinho e com a batata quente na mão), extrapolou a emissão desses títulos para um fim louvável: pagamento, pela primeira vez, do décimo terceiro salário do funcionalismo estadual. Depois de muitos reveses, acabou perdoado pelos juízes, nunca pelo povo, que assimilou para sempre errado o verdadeiro sentido do termo PRECATÓRIAS.
A política e a democracia perdem homens e mulheres valorosos com essas artimanhas.
Autorização semelhante, do Judiciário, se deu ao governo de São Paulo. Lá, Maluf (fundador do PP) vendeu títulos estaduais no mercado a preço de banana e o próprio Estado os recomprou nos dias seguintes a preço de ouro. Algum usurário se beneficiou com a proposital diferença de valor desses títulos. Situação completamente diferente da de Pernambuco.
O tempo passou, sei, mas em política pouca coisa mudou.
Hoje, 12 de maio de 2016, está sendo julgada a presidente Dilma. Provavelmente, com a mesma intenção de não desamparar alguns programas sociais, seus técnicos, entendidos em economia e finanças, fizeram remanejamento contábil de verbas em rubricas de compensação. Posso não entender de finanças ou de contabilidade, mas acredito que não ocorreu subtração de valores governamentais em proveito próprio. Se isso acontecesse - aí sim - seria ROUBO.
Ocorre que, tanto as oposições, antiga e recém-formada, quanto aqueles partidos que constituíam a base do governo ao qual traíram, em uníssono, passam para o distinto público um termo que lhe caíu muito bem aos ouvidos: PEDALADAS FISCAIS.
Esse termo terá o significado, por muito tempo, no vocabulário popular brasileiro, de ROUBALHEIRAS.
Pedaladas fiscais e precatórias, passam a ter o mesmo significado alvissareiro dos políticos que seguem suas conveniências, nunca as suas consciências.
As precatórias de antes viraram as pedaladas fiscais de hoje, com o beneplácito popular. Ambas com o mesmo sentido de roubo, bastante úteis para mudar ou derrubar governos. Um desserviço à Democracia.
Pronto! Mais um drible para iludir o povo. Como dar bolas ou torcer pela ultrajada democracia que ainda serve de lençol pra esses nossos pseudo-representantes ? ! . . .
Arraes perdeu uma eleição, traído e com incontido sentimento de tristeza, mas foi ao final do seu mandato.
Dilma perde o mandato igualmente traída, além do mais queimada pelas labaredas de uma fogueira ardilosamente armada desde o recomeço de sua difícil caminhada.
Muitos dirão: "Já vai tarde!", aplaudindo o parlamento.
Outros dirão "Vai passar...", acreditando na conscientização, na Paz e na reconciliação . Mas é a história que vai mostrar às gerações do porvir que "Os iguais facilmente se juntam".