Sinuca de Bico
Sinuca de bico
Sinuca de bico...
Publicado no Blog Diário do Poder, Brasilia-DF, de 3/5/2016
No jogo de sinuca pode acontecer situação onde a bola da vez fica escondida atrás das outras, impedindo qualquer ação para ser alcançada. O pior é que a bola errada pode ser encaçapada... Chama-se a este instante de sinuca de bico, sem saída.
O Brasil, hoje, está assim: numa “sinuca de bico”. O deplorável PT saindo do governo quem o substituirá? O grupo que até o início de abril apoiava o governo se beneficiando de cargos e de “propinas”, por anos? É inaceitável. Só uma variável externa, sem nenhum compromisso com os atores em cena pode salvar a nação da trágica situação. Refiro-me a variável ética. Não a esta expressão vocal que a toda hora é invocada enchendo a boca dos parlapatões que comandam nossa política, como se a simples vocalização da palavra mágica lhes concedesse credibilidade.
Entenda-se a ética como disciplina filosófica que consiste em distinguir, com precisão, o bem do mal, proclamando tudo aquilo que é favorável à promoção da natureza humana e condenado tudo aquilo que lhe é contrário. Esta natureza, este bem e este mal, ainda hoje são aqueles mesmos valores sobre os quais se ergueu a civilização ocidental e tem suas raízes cravadas na pregação cristã. Mesmo agnóstica as sociedades atuais são cristãs nas suas culturas, instituições e expectativas. O pressuposto da dignidade essencial da pessoa humana é uma contribuição histórica do cristianismo ao processo civilizatório que ninguém, em tempo algum, por mais que tentem, vai conseguir fazer esquecer.
É à ética, assim entendida como radical crença individual e coletiva, que precisamos recorrer como ultima possibilidade de salvar o Brasil da atual conjuntura caótica, sem que soluções arbitrárias sejam, em desespero, abraçadas pelo povo desnorteado e sofredor. O eleitorado precisa incorporar na pratica do dia a dia de suas vidas estes valores morais sem os quais não há saída para a nação. Uma nação formada por cidadãos e cidadãs com alta densidade ética nas suas relações sociais, políticas e econômicas, reúne as condições iniciais para se transformar numa sociedade forte e destinada a um futuro promissor. Uma nação que só se refere à ética como uma palavra mágica capaz de exorcizar os males que a afligem sem, no entanto, praticá-la no cotidiano da vida da absoluta maioria dos seus membros é uma sociedade destinada ao fracasso. Tal densidade ética é o resultado de um continuado processo de educação integral de qualidade. É muito importante que o povo tenha plena consciência de que é o responsável pela porcaria que foi montada na política brasileira. Enganado pelos marqueteiros amorais, que vendem sabonetes e candidatos com refinadas técnicas de propaganda, este eleitorado precisa descobrir como se esclarecer de tal forma que possa eleger candidatos dignos e excelentes, pois, só assim, poderemos progredir e ter esperanças de tempos melhores.
Se as pessoas se deixarem levar pela raiva com a situação a que chegamos, ou pela demagogia canalha que a maioria daqueles que abraçam a política adotam, de nada adiantarão quaisquer leis ou propostas de salvação nacional. O Poder Legislativo - o “supremo poder” - e o Poder Executivo no Brasil precisam ser constituídos com responsabilidade histórica a que em raros momentos somos chamados a nos pronunciar e decidir. Seria o nosso mais esplendido momento...
Certamente não serão os atuais partidos políticos e seus lideres, como, por exemplo, aquela maioria de ridículos idiotas que votaram, há poucos dias, o impeachment da Presidente na Câmara de Deputados, que irão ser capazes de traçarem o caminho da salvação nacional. Em março de 2015 já havia proposto, (O Globo de 4/4/2015), que se pensasse em eleições gerais para todos os cargos federais, no executivo e legislativo. Hoje repito, (agora acompanhado de muitos cidadãos e cidadãs que comungam do mesmo pensamento), que para escapar da “sinuca de bico” em que nos metemos, precisamos realizar eleições gerais imediatamente. Com “caras novas”, competentes e honestas, com poucos partidos representativos dos distintos matizes políticos, poderemos voltar a sonhar. Com este novo perfil dos eleitos e com a recente exitosa experiência coletiva de mobilização fiscalizatória ainda nas ruas, uma vez mais iniciaremos a reconstrução do Brasil democrático, justo e desenvolvido.
Eurico Borba, 75, escritor, mora em Ana Rech, Caxias do Sul, RS..