A farsa

Finda a leitura de “Mantendo a Ordem e a Constituição - Como o governo frustrou o golpe de estado do governo petista”, no Blog ‘The eagle view’, de Antonio Fernando Pinheiro Pedro (ver link abaixo), deixo aqui minha contribuição para um título mais adequado: “A farsa”.

http://www.theeagleview.com.br/2016/04/mantendo-a-ordem-e-constituicao.html?m=1

Para desmontar a fraude pensei em começar pelo nome do Blog, cuja tradução é ‘O olhar da águia’, o que nos faz suspeitar a serviço de quem o autor colocou sua pena. A águia é o símbolo do grande irmão do norte que sempre considerou a América Latina, Brasil incluído, como seu quintal. Isso, contudo, nem vem ao caso nesta análise.

Logo no primeiro parágrafo lemos que ‘no dia 23 de março deste ano o senador Ronaldo Caiado, do Democratas de Goiás, veio a público com uma notícia bombástica: Dilma estaria pensando em decretar estado de defesa’. Destaco esse ‘Dilma estaria pensando’ porque sou levado a supor que o autor julga possuir dons de prestidigitador para invadir a mente da presidente da República e perscrutar no íntimo de seu cérebro a gestação dos pensamentos, o que é deslavada insensatez. Puro delírio.

A seguir fala em ‘rumores’, ‘presidente acuada’, ‘aconselhada por núcleo duro’ e se deixa trair na tentativa de usar argumentos sem conteúdo, embasados em conceitos vazios e, ao mesmo tempo, alinhavando uma 'estoriazinha' fantástica. Será que acha que somos ingênuos a ponto de acreditar nesse seu delírio?

Segue urdindo a burla como se fosse testemunha que houvesse presenciado os acontecimentos. Assegura que ‘a presidente comunicou sua intenção de decretar estado de defesa ao Comandante do Exército’ (?!) e ‘desgostosa’ e ‘destemperada’ ‘destratou o militar’.

Ora, mostra um desconhecimento assustador das formalidades e ritos republicanos. Numa República o presidente é o Comandante em Chefe das Forças Armadas e se algo houvesse a ser comunicado a seus graus de subordinação nessas forças isso seria feito pelo Ministro da Defesa, não pelo presidente. Ademais a aprovação do estado de defesa, bem como do estado de sítio, é competência exclusiva do Congresso Nacional (Art. 49, IV da CF/88).

E continua a elaborar sua farsa sofismando a partir da própria ficção criada, fingindo que é expressão da verdade esse seu puro delírio.

Em resumo, à vista de um golpe evidentemente articulado à revelia daquilo que foi consagrado pelas urnas, essa estoria sem pé nem cabeça quer-nos fazer acreditar no avesso disso, ou seja, que é a presidente eleita que objetiva dar um golpe! Para quê a presidente eleita ia dar um golpe? Para assumir a presidência para a qual foi escolhida democraticamente por mais de 54 milhões de votos?

Será que o autor não se dá conta do ridículo da falsa versão que nos pretende impingir?

Termina por cair na ofensa gratuita, própria daqueles que ‘cegos pelo ódio já não conseguem ver’. Fala em ‘Titanic Dilma naufragando’ e ‘destruindo a imagem do Brasil’ e encerra sua raivosa peroração chamando a cada um de nós de ‘infantil e imbecil’ que, segundo sua visão míope, seria o diagnóstico de Freud para os brasileiros. Disse míope e já me corrijo. Míope coisa nenhuma. Visão neurótica, ou melhor, psicótica. Tentar usar Freud para justificar sua delirante tese, mesmo como uma hipotética referência, é de uma falta de noção que beira a demência. Ou será apenas retórica fantástica? Quanta estultice!

Bem, não vale a pena nos determos mais nessas tolices que só os desinformados ou os envenenados pelo ódio seletivo poderiam tolerar.

Eu fico me perguntando e rogo a vocês que também o façam, seria pretensão do autor jogar “sobre a nudez crua da verdade o manto diáfano da fantasia”, como diria Eça de Queirós?

Na minha avaliação, esse texto maluco foi perpetrado por uma mente doentia e psicótica. Como diria Eça, só pode ser produto de ‘obtusidade córnea ou má-fé cínica’.

Nota: O que me motivou a publicar este texto foi o fato de que, mais de uma vez, recebi essa postagem a que chamei "A farsa", com a recomendação de enviá-la aos meus contatos. Ora, isso autoriza-nos a concluir que 'tem loco pra tudo', ou seja, existe gente que repassa uma idiotice dessas porque acreditou na brincadeira. Talvez não haja lido sequer, ou o tenha feito apressadamente, de modo desatento ou superficial, sem se dar conta do tamanho da asneira. Prefiro pensar assim do que achar que o fazem por má-fé ou ignorância.