UMA PROVOCAÇÃO À CONSCIÊNCIA E À MORAL
Os últimos acontecimentos na conjuntura brasileira dizem respeito não só à esfera governamental, às instituições civis, jurídicas e políticas, como a todo o âmbito social.
Os episódios também serviram para mexer com a resignação e com a reputação, remetendo a uma reflexão das mais contundentes a respeito da liberdade democrática, dos direitos e deveres institucionais e sociais, de modo geral. Serviram como provocação à educação, à consciência e à moral, pelo menos.
No último dia 17 o Brasil assistiu pelas redes de tv a uma das manifestações mais ostentosas dos últimos tempos. Poderia registrar-se como um dos mais célebres acontecimentos e ainda que o evento possua o legítimo objetivo de iniciar a deposição de uma presidente da república que procedeu de forma imoral e criminalmente. Entretanto, os membros do parlamento cameral, legais representantes da nação, tinham o dever de se expressarem com a mais sublime solenidade, com educação e compostura.
Muitos chegaram a transpor a barreira do ridículo. E infelizmente, entre os 511 presentes, formaram um alto percentual os que cometeram desatinos em seus breves pronunciamentos, dando um tremendo mau exemplo à sociedade brasileira.
Os deputados, em suas falas, faltaram, no mínimo, com educação, violando o decoro, código de ética que pauta os trabalhos naquela casa legislativa. E o que era para ser um evento dos mais imponentes, não passou de um festival de deboches.
Os motivos que levou a Câmara Federal a confeccionar um processo de Impedimento da presidente parecem ser relevantes e não deixar dúvidas de que houve crime. A presidente, sabidamente cometeu outros erros: Dilma forjou um documento para tentar proteger seu padrinho ex-presidente, dos supostos mal-feitos através de um cargo no alto escalão do governo. Felizmente, a trama é descoberta a tempo.
E os deputados, cujos mandatos em sua maioria são inautênticos (menos de cem deputados federais foram votados diretamente). Mais de 80% pegaram carona na benevolência das regras eleitorais. Sendo assim, o poder está longe de emanar do povo, como reza tão solenemente o preâmbulo da Constituição. Suas excelências, os deputados estão longe de representar a Nação.
O parlamento é dividido em bancadas que representam fisiologismos, panelinhas. Tem a bancada da Bíblia, do Boi, da Bala, da Bola, dos Bancos etc, que muito bem representam esses grupos privilegiados. Porém, as minorias desprotegidas - índios, negros (embora haja muitos deputados negros), muçulmanos, ateus, motoristas, professores, donas de casa, pequenos empresários, policiais (a bancada da bala não representa os direitos trabalhistas dos policiais) não são representados por qualquer bancada e muitos grupos sequer são citados nos discursos.
Uma grande quantidade de parlamentares perderam a oportunidade de legitimar seus votos, em nome da Lei Máxima. Porém se limitaram a homenagear familiares: pai, mãe, filho, filha, avô, bisavô, treta-avô, amante, entidades alheias à lei, amigos ou outros políticos e até a Deus. Nessas verborragias sobrou até atos obscenos como uma cusparada. E foi aí que eles destoaram do clamor da sociedade brasileira. Era como se cada um bradasse pela própria perenidade no poder e não pela sobrevivência de todo um povo.
O processo de impeachment continua tramitando, agora capitaneado pelos membros da outra casa legislativa.
Dessa vez o brasileiro espera, além de um desfecho justo, é que a escrutinação venha satisfazer os anseios da maioria. Espera-se também que os senadores não se valham do mesmo gesto de descompustura e de vaidade pessoal como fizeram boa parte dos deputados.