Apologias de Bolsonaro
Acusado de fazer apologia ao crime de tortura durante sua fala na votação do processo de impeachment, Jair Bolsonaro defendeu-se alegando que Brilhante Ustra não foi um torturador, já que nunca foi condenado por esse crime. Porém houve uma condenação contra Ustra em 2008, em primeira instância, que o deputado parece ignorar.
Ainda que desconsideremos essa condenação, restam os vários relatos de pessoas que reconheceram em Ustra o homem que as torturou durante o regime militar, como o de Bete Mendes, atriz e ex-deputada. Portanto, Ustra é identificado como torturador, e esse fato é de conhecimento de Bolsonaro, assim como é de conhecimento de qualquer brasileiro minimamente informado. A alegação de Bolsonaro de que não fez apologia ao crime porque Ustra não foi condenado por tortura ignora a dificuldade existente em condenar oficiais do regime militar acusados de crimes, em razão da popularmente conhecida lei da anistia. Para mim, está claro que Bolsonaro fez apologia à tortura ao elogiar Ustra e apontá-lo como o terror de Dilma Rousseff, numa clara alusão ao período em que ela foi presa e torturada. Então, o deputado não apenas fez apologia ao crime como também fez o elogio da dissimulação, do sarcasmo e do descaramento.