Falando de Democracia e sua História
Falando de Democracia e sua História -- e não estória.
(Gotas de Filosofia)
Como eu prometi esta semana, vou traçar alguns paralelos filosóficos do modo mais modesto possível e (tentar) apresentar alguns conceitos e questões que me parecem deveras relevantes. Eu sei que às vezes o texto pode ser longo, mas vale à pena leitura -- lembrando sempre que não sei tudo e estou aberto à discordâncias, concordâncias, elogios e qualquer coisa. Resolvi hoje falar um pouco de democracia por conta de uma conversa que tive com uma colega da área, há algumas semanas atrás. Falávamos "da onde ela veio" e como chegamos até aqui. Vamos um pouco ao diálogo meio monólogo pois então.
Comecei a conversa com o que acho ser o ponto capital que a democracia como conhecemos hoje não ser bem uma resposta do mundo grego -- autoras como Hanna Arendt vão discordar da minha opinião porque ela via como uma "aurora de esperança" o fato dos gregos poderem falar em público e argumentar acerca de suas opiniões naquilo que ela chamou de "meio público".
A questão toda é que não havia uma democracia na Grécia como conhecemos hoje -- poucos podiam de fato falar, ou tinham direito para tal. Não apenas homens, mas donos de terra e qualquer coisa que chamemos de ricos. Tolerância e respeito à opinião? Bom, se houvesse de fato, a democracia grega teria durado tanto quanto durou todos os seus outros sistemas de governo. A verdade é que desde o começo a democracia grega nasceu como aristocracia -- aonde poucos eleitos poderiam falar -- mas o seu lado oposto, a "liberdade", como diria Aristóteles fez tudo desandar numa perfeita plutocracia. Em suma, a democracia como conhecemos, ou este "âmago" de luz é um fato histórico impreciso. Não vou me alongar.
Mas a democracia chegou até nós aos poucos. A partir de lutas, somando questões como a tolerância à opinião do outro (herança Cristã), mesmo que advinda das guerras entre cristãos na França, por exemplo -- aonde o mundo ocidental percebeu que misturar teologia e legitimidade institucional não é uma coisa lá muito inteligente. Assim como o próprio convívio entre diferentes se fez absolutamente necessário o aprendizado. A guerra de S. Bartolomeu foi um aprendizado duro, mas que valeu a tolerância a democracia.
Depois nós vimos a própria ascensão dos ideais do iluminismo que garantem de forma argumentativa a episteme que hoje nos parece óbvia -- todos temos as mesmas qualidades intelectivas e cognitivas e quaisquer diferenças são particulares -- o que exclui a ideia de que alguns poucos poderiam participar da política. Com isso foi um salto mais que esperado chegarmos ao sufrágio universal e a democracia em si como conhecemos hoje.
Se por um lado a religião ensinou a tolerância "S. Pauliana" -- porque todos somos iguais perante Deus -- mesmo que se somando conflitos religiosos, do outro a filosofia nos legou que todos poderiam participar da política, porque todos são aptos para tal -- basta querer; e não-querer também se trata de um ato legítimo. Então, quando hoje nós ouvimos dizer que a "a democracia é uma herança grega", eu devo dizer que no sentido restrito, o conceito e aplicação pratica a posteriori dela se deu através do tempo e do Progresso legítimo e moral das descendências humanas, que ora nos legaram. Afinal, termos um Herói, ou poucos escolhidos que mandem em tudo, não parece -- por experiência prática -- a melhor coisa a se fazer.
Mas aí alguém pode perguntar, "Tassio você e sua colega conversaram tudo isso?". Bom... não deu tempo falar tudo, mas ficamos por aí. Assim como concordamos que a democracia pode não ser o sistema mais rápido do mundo para se resolver problemas -- em contraste com um sistema totalitário, aonde uma só cabeça, ou poucas cabeças decidem de uma maneira rápida para resolver um problema. Na democracia a resposta dele é mais lenta e demorada -- porque as ideias são múltiplas, as pessoas mais ainda e os argumentos ainda mais.
Em contrapartida desta morosidade própria do sistema democrático, temos o fato que as pessoas são ouvidas e respeitadas, mesmo quando seus argumentos não são validados pela maioria -- afinal a democracia ainda é uma questão de Maioria. Mas a Tolerância e o Respeito ao outro, estes legados éticos inestimáveis são o que a torna tão poderosa. E quem sabe um dia... não tenhamos por aqui também uma democracia mais participativa, como temos em alguns países da Europa.
Duvidas, discordâncias e elogios? Podem comentar!
Aquele abraço a todos e todas!