TEATRO OU CIRCO?
TEATRO OU CIRCO?
Assisti, horrorizado, a um espetáculo deprimente que ainda não defini se é teatral ou circense... a votação na câmara dos deputados para decidir a continuação do processo de impeachment da presidente Dilma. Um desfile de pequenos discursos absurdamente vazios e retóricos, onde quase a totalidade dos parlamentares evocavam a memória dos pais, filhos e amigos em nome da moralidade e dos bons costumes. Parlamentares que, em sua grande maioria, até pouco tempo atrás, eram carreados a reboque do Lula e do PT. A sessão foi presidida por um réu declarado pela justiça como ladrão, acompanhado pelos principais algozes da presidente, também comprometidos com irregularidades graves de corrupção e maus feitos, caracterizando um verdadeiro paradoxo. Ainda não encerrada a sessão, tudo indica que os votos favoráveis ao impedimento vão prevalecer. Não estou preocupado com a Dilma e com o PT, aliás, sempre a detestei e historicamente, desde sua formação, fui contra o PT, contrário à sua proposta e à sua pretensa e fraca ideologia de esquerda, me posicionando à época, em favor do PDT de Leonel Brizola. Entretanto, reconheci em Lula, independentemente da minha antipatia à sua pessoa, o melhor governo já estabelecido neste país. Infelizmente foi anulado pela constatação da maior corrupção já ocorrida em solo brasileiro. Mas se faz necessário deixar claro que esta sessão se ressente da legalidade jurídica formal, pois indiretamente, os parlamentares votaram contra a vontade popular estabelecida no sufrágio universal de 2014 e baseado numa ação jurídica inconsistente, como as pedaladas fiscais. Essa condição abre um precedente sério e perigoso no qual, por motivos também inconsistentes e de cunho político pessoal, possam se abrir processos de impeachment contra o presidente legitimamente eleito e reconhecido nas urnas sempre que que não gostarem da cor dos seus olhos. Isso faz com que o Brasil, perante o mundo, continue a ser visto como uma republiqueta de quinta categoria, quando já tínhamos avançado para a condição de segunda categoria. Agora, às 23:07, os votos a favor do impedimento estabeleceram a maioria. Lamentável. Só posso dizer e reconhecer que o congresso brasileiro representa fielmente o povo brasileiro... medíocre, rasteiro, sem cultura e subserviente. Charles de Gaulle tinha e por muito tempo vai ter razão, um povo que não deve ser levado a sério. Por isso continuo sem definir se o que acabei de assistir foi um espetáculo circense com direito a inesquecíveis palhaçadas ou a um drama teatral onde a falsidade e a hipocrisia comandaram a cena, de dar inveja a William Shakespeare e a Nelson Rodrigues. Repito o que muitos parlamentares disseram: DEUS TENHA MISERICÓRDIA DO BRASIL.
Marco Antònio Abreu Florentino