O Filósofo e o Político; água e vinagre
“A missão do chamado «intelectual» é, de certo modo, oposta à do político. A obra intelectual aspira, frequentemente em vão, a aclarar um pouco as coisas, enquanto a do político, pelo contrário, consistir em confundi-las mais do que já estavam. Ser da esquerda é, como ser da direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser um imbecil: ambas, com efeito, são formas da hemiplegia moral.” (Ortega Y Gasset)
Uma síntese que explica muito, das dores sentidas, quando, tentamos debater com alguém usando o método filosófico da busca pela verdade, independente das consequências. Deparamos sempre com a obtusa desonestidade intelectual que caracteriza o político. O que ele definiu magistralmente como hemiplegia moral dos imbecis, isso de nos encastelarmos numa ideologia, direita, esquerda, e, a partir dela construirmos nossas “verdades” alvejando a todos que, se nos opõem.
Suponhamos que um fato qualquer desabone uma liderança política, seja do partido que for. Presto seus defensores tentarão ocultar, defender, justificar, diluir, quaisquer que sejam as consequências sociais do ato ímprobo.
Ora, se alguém malversa o Erário, seja Lula, FHC, Dilma, Aécio, Temer, Renan, etc. tal está me prejudicando, uma vez que, em parte sou dono também, daquilo que foi malversado.
Se, eu o defender por ser simpatizante de sua ideologia, não passo de um imbecil, como disse o filósofo. Minha ética, moral, paralisam ao frêmito da paixão ideológica, dado que, logo assomarão de novo, se, o culpado for dos adversários. “Hemiplegia moral”; nada poderia ser mais expressivo!
A mente filosófica não se satisfaz com o escuro, tampouco, com meias verdades; a do político, por sua vez, descansa sobre as maiores injustiças, desde que, compactue com a ideologia dos seus agentes.
Raul seixas cantava algo dizendo-se idiota, ridículo, que usava apenas 5% da sua cabeça animal, pretendendo tipificar todo o gênero humano. Não sei se esse número arbitrário tem alguma procedência; mas, que podemos mais, com certeza podemos.
Como seria nossa nação, se, invés da crassa paralisia intelecto-ético-moral que grassa, houvesse cidadãos conscientes que ultrapassassem a barreira “intransponível” das paixões partidárias, e invés de escudar ladrões, os expusessem, exigindo punição severa pelos males feitos; e, excelência funcional dos eleitos que ainda não os fizeram?
O poder, deveras, emanaria do povo, o Estado temeria ao cidadão, e prestar-lhe-ia os melhores serviços possíveis, uma vez que, monitorado por “patrões” aptos, perspicazes. Mas, as paixões, como nos separarmos delas?
Ocorreu por um instante a figura de dois profetas bíblicos, Elias e Eliseu; esse apegou-se àquele e jurou por Deus que não o deixaria; iria onde ele fosse. Mas, como era propósito Divino arrebatar Elias, cuja missão fora cumprida, Deus enviou um carro de fogo e separou a ambos, para elevar Elias num redemoinho.
Qual a relação do incidente com nossa reflexão? Estava pensando no apego das paixões. Elas têm o potencial de cegar, grudar nos ídolos, enfurecer, tornar violentos, os seus pacientes; jamais obram visando a lucidez. Paixão é um fogo castrado da luz, mas, veemente para gerar calor. Assim, se não houver uma interferência Divina que separa a alma apaixonada de seu amo, argumentação alguma logrará.
Talvez, depois de ter sofrido algo assim, um poeta disse: “Não te aprofundes nas questões; elas não têm fundo” (Zeferino Rossa)
Por diáfanos e sábios que sejam os argumentos, a cegueira voluntária do apaixonado se encarregará de fazê-los baços, imprecisos, quando não, “errados”.
Ora, que importa a mim quem está no poder, de qual partido é, (sobretudo, onde há mais de trinta partidos ) que importa, digo, desde que, seu trabalho público propicie melhorias sociais verazes, aumento da produção e da distribuição de renda? Empregos, um upgrade na educação, e “de lambuja” os políticos tenham uma conduta ética, cidadã, visão de estadistas, em busca do bem comum? De qualquer viés ideológico, quem lograr algo assim terá meu aplauso, estará fazendo grande bem ao país e fertilizando meu orgulho de ser brasileiro.
Mas, não raro ouvimos algemados cantando loas à liberdade. Digo, os cegos pelas paixões jactando-se de livres, de fazerem escolhas, isentos das opiniões alheias. Uma ova! Não passam de gado marcado, tangido por longínquo berrante, propriedade particular de manipuladores.
O homem realmente livre é também livre das certezas, dada a imperfeição da espécie humana, sujeito a mudanças de convicções, quando os fatos desfizerem as boas expectativas que depositava em alguém. A dúvida, aliás, é prerrogativa dos sábios; só os imbecis esposam “seguras” certezas.
Temo que dores ainda estejam reservadas para muitos brasileiros no atual cenário, onde, a fogueira das paixões é alimentada todos os dias, e manipuladores escudam-se atrás dos muros da ignorância. Já houve muito dano, e receio que mais haverá. A indigência mental e moral costuma cobrar seu preço em sangue.