Voto e corrupção
Abenon Menegassi
Acho que o que a maioria do povo brasileiro ainda não entendeu é que o voto, mesmo direto, sobretudo direto, não se traduz em transferência para o eleito da parte beatificada que este eleitor acredita existir em si mesmo.
Não, senhor eleitor, o voto não sacraliza o eleito; ao ser escolhido por vós ele não se transforma numa espécie de santidade projetada, desde seu narcisismo mal informado, no lago do estado e da política representativa.
O que este eleitor precisa entender é que para a grande maioria dos eleitos o estado nada mais é que uma fonte inesgotável de recursos financeiros que ele, o eleito capitalista, pensa poder pilhar, poder expropriar para investir em seus interesses particulares.
Como isto não é legal, este eleito, capitalista, preocupado apenas com seus próprios negócios, só tem um jeito de por a mão na verba pública, desviando-a, assim, de seus fins legítimos: corromper o estado.
É por este prisma que se pode elucidar o que acontece. O financiamento de campanha visa a manter este circulo vicioso. Tomar o poder e o estado por dentro, corrompê-lo, miná-lo, usurpá-lo, extirpar seus poderes e tesouros até o limite de seu esgotamento, mas, também, mantê-lo sempre fonte ininterrupta de novos meios e fins.
Assim, cada voto é o depósito de um cheque em branco na mão deste eleito capitalista que não hesitará em sacá-lo para depositar seu valor em uma conta supostamente blindada.
Portanto, nada de Deus encarnado em um homem ungido pelo voto direto. É preciso entender este homem. Ele é só um homem. Um pequeno homem. Na maioria das vezes ganancioso e corruptível. Hábil em produzir miragens para seduzir o ingênuo, ele não tardará a devorar sua carne num banquete regado a vinho em cuja garrafa você jamais porá seus olhos para certificar-se de que a marca estampada em seu rótulo denomina-se “traição”.