Fascismo à brasileira
Sobre a igualdade
O ideal de igualdade é relativamente recente. Difundido pelos iluministas, resultou na derrubada de monarquias e instauração de repúblicas. Aboliram-se com ele os privilégios da nobreza e as desigualdades entre os cidadãos. Atualmente, tal ideal é universalmente aceito.
Dentro desse espírito, a declaração universal dos direitos humanos afirma: "todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei". E a constituição federal brasileira estabelece: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Sobre a nossa ignorância
Somos um dos povos mais ignorantes do planeta. Todos os povos vizinhos nos superam em cultura; superamos nisso apenas alguns países africanos.
Embora o princípio de igualdade seja um dos pilares de nossas leis, por sermos um povo extremamente ignorante, ainda não introjetamos esse ideal em nossa cultura, de maneira que uma parte considerável de nossa população permanece imersa nos ideais de séculos passados. Por sermos imensamente ignorantes, somos absurdamente atrasados. Note que tal constatação se aplica a vastos setores da sociedade brasileira, incluindo, por exemplo, os juízes. É espantoso que em pleno século XXI a maioria de nossos juízes não acate o princípio de igualdade e considere que, desde o nascimento, alguns tenham mais direitos que outros. Por que permitimos que uma pessoa assim assuma o cargo de juiz?
Fascismo à brasileira
Um dito repetido com frequência em nossa terra reza: “bandido bom é bandido morto”. A afirmação vale apenas para os pobres, não se aplica, por exemplo, ao assassino que julga e executa a sentença. “Bandido” por aqui tem sempre as mesmas feições e origem: a cara da periferia. Nossas penitenciárias foram feitas exclusivamente para eles. O pressuposto do dito fascista é que o bandido seja pobre. Estando em uma favela, a polícia pode disparar milhares de tiros, pouco se importando com eventuais vítimas locais. É o direito que merece a gente da periferia. Aqui, o crime é ser pobre. Serão nossas penitenciárias menos desumanas que campos de concentração nazistas?
Contrariamente ao igualitarismo, o fascismo prega a superioridade de uns sobre outros. Para o fascista, existem os fortes e os fracos, e enquanto os fortes nasceram para dominar os fracos, os fracos nasceram para ser dominados pelos fortes. Para eles, não deveria haver igualdade, as leis não deveriam proteger os fracos. Os fortes devem mandar, os fracos obedecer. Definem-se uns e outros ao nascer.
Os fascistas brasileiros têm como alvos centrais os de pele escura e os nascidos no nordeste; para eles, morar na periferia é quase um crime, e motivo suficiente para a segregação, devem ser subjugados; os que ousarem levantar a cabeça devem levar uns corretivos para aprender quem manda, e qual o seu lugar.
Mais sobre a ignorância
Por ignorância, nossos fascistas não se reconhecem fascistas. Ignorantes, fazem coro ao clamor universal condenando os fascistas europeus, esclarecidos. Condenam a segregação a judeus, advogando que judeus não merecem segregação, apenas negros e nordestinos, e em vista dessa diferença, não se consideram fascistas.
Anos atrás, houve um clamor mundial contra a segregação na África do Sul, onde vigiam, por lei, as normas fascistas. Curiosamente, nossos fascistas endossaram as críticas universais a eles; inventamos o fascismo hipócrita.
O comportamento fascista
O repúdio universal aos fascistas não se deve ao rótulo, mas às ações de tais criaturas. Recentemente, por exemplo, uns juízes fascistas trataram de tentar enxovalhar os ocupantes dos mais altos cargos do país, bisbilhotando e divulgando conversas pessoais dessas autoridades e, pasmem, de seus parentes. Como se fossem colegiais, os diabinhos trataram de escarnecer daqueles a quem eles mesmos tinham acabado de conspurcar.
Vermes intestinais também podem acabar gerando certa repulsa às pessoas infectadas por eles; mas que criaturas odiosas seriam, se ainda pudessem escarnecer daqueles a quem eles mesmos tornam repulsivos.
Que tipo de criatura inventa artifícios legais para bisbilhotar e divulgar conversas pessoais com o propósito de emporcalhar reputações, sem poupar nem mesmo os parentes das vítimas? Obcecados pela fama, cegos a qualquer evidência que não as ditadas pelo poder, não percebem que enxovalham a si mesmos quando se comportam de forma tão reles. Suspeito que até os vermes se ofendessem com a comparação com tais criaturas.
Mas, acostumados a tais baixezas, os tais diabos não percebem estar a chafurdar no lodaçal em que mergulham para enlamear os líderes do país; que são eles que se emporcalham ao se enfiar no lodo que arremessam a outros. O repúdio generalizado aos fascistas não surgiu à toa; o asco que espargem por todo o planeta tem motivos muito claros.
Em suma
São fascistas os que propugnam inferioridades e desmerecimentos advindos do nascimento, e os covardes sempre dispostos a vilipendiar e escarnecer dos mais fracos. Regidos pela covardia, advogam a dominação, a opressão e a humilhação dos desfavorecidos. Têm predileção pela criminalização das vítimas. Por tais razões são universalmente repudiados.
Os fascistas são reconhecidos e abominados por supliciar os fracos e espicaçar os indefesos. É por sua covardia que os fascistas são execrados no mundo inteiro, por isso causam tanto asco e repúdio.
Muitos brasileiros se surpreenderão ao se constatar fascistas; ficarão perplexos ante a sordidez de sua própria imagem desvelada nas palavras acima. Sim, são sórdidos, asquerosos, repulsivos todos os que degradam os desvalidos, os que humilham e oprimem os desfavorecidos; é assim que o mundo os vê.
Mas não haverá vergonha nesse reconhecimento; vergonha consistirá em compreender os motivos da execração e negligenciá-los; vergonha será reconhecer a torpeza de tal covardia, e ainda assim insistir na vilania. Mais que tudo, o que nossos fascistas precisam é de esclarecimento.