Clusters humanos ou simplesmente pular corda

(sobre o vídeo publicado no youtube, link abaixo).

https://www.facebook.com/FelipeAndreoli/videos/1227606930600980/

https://www.youtube.com/watch?v=DelL75UEY1Y

link complementar: https://www.youtube.com/watch?v=0AY09DJkQMY

link complementar; https://www.youtube.com/watch?v=6P2iUJucbk4

link complementar: https://www.youtube.com/watch?v=YR5ApYxkU-U

Assisti hoje a um vídeo de 49 segs. em que mais ou menos 50 crianças pulavam apenas uma corda ao mesmo tempo. Em uma sincronia perfeita, passavam pela corda sem tocá-la.

A ideia de implantar hostes de clusters (1) humanos solidifica-se num ideal de sociedade sem variáveis independentes onde o todo não deixa margens para acordes dissonantes. É um futuro sombrio que se descortina. Esta insanidade é a base de um porvir social.

Ao ser patrocinado por biopolíticas que esvaziam o espaço coletivo de discursividades próprias, o que este fenômeno de massa, de exército, revela? Que a brincadeira é bem usada para fins didáticos, de treino. Primeiro, através dela se introduz a ideia. Depois, o método e o objetivo. E qual é o objetivo aí? Fazer a máquina, o mainframe, a estrutura maior e principal, funcionar uma performance excelentemente. Para tanto, nenhuma peça pode errar. Se um erra, todos erram e a visibilidade negativa, causa de suicídios, recai sobre ele com mão feroz. A condição desta excelência é, portanto, a homogeneidade, a sincronia, a unidade, ou seja, o desaparecimento da unidade num todo maior, em UM. O Um voltado para a reprodução acelerada, uniforme da técnica. Nenhuma moral, nenhum variação, nenhuma mudança de rota, pois sem tempo para questões que tragam reflexão. O único objetivo é fazer a máquina funcionar. E para isso, há que se comprimir o tempo, esmagá-lo até o ponto em que recaía sobre si mesmo numa autofagia sem espaçamento, sem chance para a introdução de um outro significante que possa ser desdobrável em S2, em suma, em ausência absoluta de experiência.

Trata-se de uma holófrase em movimento, ou melhor, um meme. Uma cena repetida ao infinito que volta cada partícula de seu existir sempre ao mesmo ponto, ao seu ato de origem garantidor de uma única realidade: a produção.

Neste automatismo autista, cada peça é só isso, uma peça. E seu único sonho individual é, ao mesmo tempo, o sonho do todo, isto é, funcionar circularmente, para sempre.

Fonte de energia, cada qual esgota-se e esgota esta energia numa comunhão passiva com seu meio mais imediato, ou seja, com este outro com o qual me emparelho numa dança reflexa de mim. Mas, esta energia desapropriada tem um destino primordial: dar vida à máquina. Então, neste torvelinho, tudo é peça, meio, conexão para um único e mesmo fim. Nem mesmo as unidades-máquina que rodam a corda estão fora: são peças. A corda é uma peça. Cada um é uma engrenagem que, dentada, faz a outra engrenagem funcionar. Mas, quase nos convencemos de que existe uma autonomia neste aparente fechamento automotor. Ao contrário, existe um fio invisível que liga este todo a um todo maior, remoto e controlador. Este Outro distante se camufla na cena. Invisível, dá as regras, determina o tempo de rotação da corda, logo dos braços que a sustenta e, em seguida, das pernas etc que a pulará neste circuito sem fim. De onde vem o comando e, sobretudo, qual é o seu meio, logo, sua materialidade? De fato, a imagem leva a crer que se trata de um grupo livre, que teve ele mesmo a ideia de produzir esta “brincadeira”. E se este Outro não pode ser captado, ao menos nesta cena, nem por isso podemos nos suprimir de fazer a pergunta: de onde vem o meu desejo, onde está o meu Outro? Neste vídeo, é fácil localizá-lo. Ele está no chip mental, interligado por ondas invisíveis, que já doutrinou cada mente e cada coração.

SP 25/03/2016

1. Um cluster consiste em computadores vagamente ou fortemente ligados que trabalham em conjunto para que, em muitos aspectos, eles possam ser vistos como um único sistema. Ao contrário da computação em grade, um cluster tem, para executar a mesma tarefa, cada conjunto de nós controlado e programado por software.[1]. In; https://pt.wikipedia.org/wiki/Cluster