Hoje tem Petralhas x Coxinhas

A participação de muitos brasileiros na política lembra-me a de torcedores de clubes de futebol. Percebo que a paixão desmedida bloqueia parte do senso crítico e da racionalidade dessas pessoas. Assim, qualquer crítica ao partido delas é vista como ataque injustificado, como perseguição, como raiva, como injustiça, como intolerância e principalmente como despeito de torcedores adversários.

De acordo com a visão da maioria dos torcedores, o árbitro sempre erra contra o time deles e sempre favorece os adversários. É exatamente o que vemos hoje entre os partidários brasileiros.

Quanto às críticas ao Esporte Clube Socialismo dos Jardins, são respondidas com um revoltado “Coxinha!”, enquanto as críticas aos Tucanos Sociais Democratas de Higienópolis e Alphaville têm como resposta um acusatório “Petralha!”. Se a crítica é justa e fundamentada, pouco importa: “Quem critica um corintiano só pode ser palmeirense ou são-paulino”, diz o corintiano, “E vice-versa”, respondem são-paulinos e palmeirenses. Portanto é nítida a postura de torcedores de muitos partidários.

Um exemplo desse partidarismo de torcedor de futebol pode ser visto na repercussão da Operação Lava Jato, que também investiga o coronel Lula-lá. “Mas como? Por que não investigam antes quem iniciou a corrupção neste país?”, dizem os partidários, “O cacique Tanga de Ouro, por exemplo, o tarado do Caminha, Dom João VI... Por que só investigam o Socialismo dos Jardins? Ora, nós não inventamos a corrupção!” Pelo visto não inventaram e nem pretendem reduzi-la, pelo contrário, chafurdam nela com gosto!

E já que falamos de futebol, como esquecer o nosso famoso ufanismo? “Nunca na história deste país...”, diz o presidente do clube, e a torcida completa: “Os pobres tiveram celular e tevê em cores!”. Como se só no Brasil tivesse havido o barateamento desses produtos nos últimos anos e o consequente acesso a eles pela população menos favorecida. Sobre o Bolsa Família e programas afins, penso que o coronel Lula-lá apenas seguiu a prática dos velhos coronéis nordestinos: dar algum milho à galinha para poder capturá-la e depená-la. Porém todo o milharal já pertencia às galinhas! Nessa altura do campeonato, inevitavelmente gritaria um partidário torcedor lá da arquibancada: “O milho era das galinhas, mas ninguém o dava a elas! Após a chegada do Pai dos galináceos tudo mudou!”. Então a discussão partiria mais uma vez para o “menos pior”, porém, com o que pagamos de impostos, poderíamos ter hospitais, escolas e faculdades de primeiro mundo e gratuitas para todos e um bolsa família de dois mil reais. E ainda sobrariam rios de dinheiro!

Também há a turma dos torcedores que são artistas ricos e famosos. Esses ficam nas numeradas, a uma boa distância da ralé. Quase todos foram contemplados pela Lei Rouanet, que parece favorecer principalmente os artistas famosos que possam atuar como garotos-propaganda do governo. Dessa forma esses artistas ficam certos de que a cultura está sendo valorizada (“Como não, se meu trabalho de alto nível está sendo valorizado!”), e de que agem espontaneamente quando defendem o governo. Como não frequentam hospitais e escolas públicos nem costumam sofrer com o desemprego e a inflação, imaginam que está tudo azul no país do futebol. Sendo assim, “Não vai ter golpe!”

Exceto na população brasileira, que sofre golpes diários dessa gente, eu emendaria com pesar.

Edgley Gonçalves
Enviado por Edgley Gonçalves em 24/03/2016
Reeditado em 24/03/2016
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