QUEM TE VIU, QUEM TE ANTEVIU, LULA
Nos anos 80, eu era militante do Partido dos Trabalhadores (PT) em Porto Alegre e uma certa senhora chamada Dilma Rousseff era secretária municipal de um governo elitista do PDT, capitaneado por Alceu Collares (hoje detentor de três aposentadorias, entre elas a imoral de ex-governador), que gostava de reprimir servidores públicos e de se associar com os empresários do transporte coletivo. O PT já então já dava mostras de que queria algo mais na história do país. Contudo, seu projeto de poder era limitado pelo poder da mídia e do capital financeiro. Mesmo assim, já se esboçava uma política de alianças que buscava os partidos tradicionais, como no caso da coligação eleitoral com o PSB, hoje na oposição depois de mamar quase uma década nas tetas do governo federal do PT, do PMDB e de outros não menos falaciosos.
Lula, para nós, do grupo Convergência Socialista, não era confiável, mas era um mal necessário. Era importante fazer os embates eleitorais e cotidianos tendo a figura de um operário e trabalhador, embora o que ele menos tenha feito na vida fosse trabalhar, uma vez que se encostou no Sindicato ainda nos anos 70. Essa possibilidade de contraponto visava mostrar aos assalariados e despossuídos que eles também podiam lutar para melhorar o país. O nosso “confiar desconfiando” se mostrou muito acertado. No fundo, o partido foi, para Lula e seu grupo, capitaneado por José Dirceu, uma moeda de troca para chegar ao poder no grande sindicato chamado Brasil. Quando se sentiram fortalecidos e prontos para negociar, nos anos 90, expulsaram sua ala esquerda e, posteriormente, lançaram a “Carta ao Povo Brasileiro”, preparando-se para ascender ao poder como alternativa ao governo entreguista de FHC, culminando essa estratégia na chapa Lula-José de Alencar, unindo capital e trabalho, numa simbiose entre corda e pescoço.
Uma vez ungidos pela confiança popular, com um Congresso venal e fácil de comprar, navegaram por muito tempo em céu de brigadeiro. Tudo estava a favor deles. Até mesmo a derrota no referendo sobre o Estatuto do Desarmamento, em 2005, que resultou no fim da autodefesa da população perante a bandidagem, pareceu apenas um contratempo menor. Os ventos eram favoráveis para as veleidades e para as falcatruas. E foi assim que surgiu o Mensalão. Ah, não ouse usar essa palavra diante de um petista porque ele imediatamente diz que ele nunca existiu, embora não explique por que Lula publicamente tenha pedido desculpas por algo inexistente.
Pois bem, na verdade, o Mensalão era parte de uma emulação delituosa muito mais ampla, era troco. Se era “mensal”, já havia coisas escabrosas que poderiam ser apelidadas de “Semestrão”, como as negociatas com fundos de pensão e, claro, as hoje descobertas falcatruas com os contratos da Petrobras. A inépcia e a má-fé eram tão grandes que até chagas se transformam em vacinas. Querem ver um caso? O governo de Lula pagou a dívida com o FMI, certo? Certo. Só que para fazer isso, ele trocou uma dívida xis por outra por outra 4,5 vezes maior, tomando empréstimos dos capitais especulativos. Isso equivale a tomar um dinheiro emprestado do cartão de crédito para pagar um empréstimo consignado. Durma-se com um rombo desses. A dívida pública decolou para chegar ao que está hoje, com pagamento de R$ 500 bilhões somente de juros ao ano. E o governo de Dilma Roussef quer extorquir R$ 10 bilhões com a CPMF.
Voltando a Lula, para chegar a ser o “cara”, o papagaio custou caro ao país. Ele teve que se unir à banda largamente podre deste pais, flertando com Sarney, ACM, Renan Calheiros, Romeu Tuma e outros da mesma estirpe. Quando os jogadores são desse naipe, qualquer um pode achar que está ganhando quando, na verdade, pode estar levando um baile. Mas com diversão garantida. Afinal, a conta é terceirizada e até o cara que leva marmita para o trabalho sustenta essa farra cívica. Lula gostou, usou bons ternos, tomou bons vinhos, teve discutíveis amantes e até se esqueceu da exclusão de Garanhuns. Nunca antes na história deste país um operário chegou tão longe na ostentação. O Brasil crescia, só que usando o cheque especial, não havia lastro. E essa disparidade começou a fazer água quando as negociatas na Petrobrás começaram a vir à tona, porque uma das maiores empresas do mundo deixou de ser indutora do nosso crescimento para entrar nas páginas policiais. E caiu no ranking da produtividade mundial.
Foi aí que se viu que o projeto petista tinha um matiz meramente ideológico para esconder as grandiosas propinas, que, movida por uma gangue de sanguessugas, drenaram a competitividade da maior empresa brasileira. Pior que não foi só lá. Ainda há muito por ser descoberto. Se há alguma minoração de culpa, Lula até que haverá de ser tratado como modesto, uma vez que as empreiteiras que financiam seu instituto e os imóveis de que desfruta usam dígitos moderados para indicar milhões. Seu estafe, sua camarilha, ganhou bem mais que o chefe. Mas seu benefício financeiro é icônico da miséria do povo brasileiro, que continua sem saúde, educação, saneamento, segurança pública e outros quejandos que é despiciendo enumerar.
Agora, com o jogo sendo jogado aberto, Lula está na iminência de ser preso. Para os petistas, isso é uma ignomínia, pois ele seria um grande líder popular deste país. Enxergam maravilhas em seus dois mandatos e nos de Dilma e acham que os fins justificam os meios. É mais ou menos como ser gremista. Mesmo que o time jogue mal, eu não vou abandoná-lo. Mas compromisso de torcedor não pode ser compromisso de pseudomilitante porque não é a mesma coisa. Um time lida com paixão e um político como Lula lida com verbas públicas, que jamais deveriam ser apropriadas em causa própria. Há que se se ver a proporção das coisas. E mesmo que Lula não tivesse sido beneficiado em proveito próprio por um centavo sequer do Erário, ele é culpado pela corrupção em seu governo, porque ele foi eleito para saber, para ter o domínio dos fatos. Se sabe dos delitos, isso é muito grave; se não sabe, isso é muito mais grave, porque deveria saber.
Por essas e outras é que vejo Lula como o vi há muito tempo. A ratificação de um falsário da política e das ideias, um homem que colocou seus interesses pecuniários e mesquinhos acima do seu papel na história. Uma lástima, ex-companheiro Lula. Quem te anteviu hoje te vê como uma múmia daquela utopia de outrora. Mas a decepção não é menor. Eu preferiria estar errado, mas, o que está feito, está remediado.
Nos anos 80, eu era militante do Partido dos Trabalhadores (PT) em Porto Alegre e uma certa senhora chamada Dilma Rousseff era secretária municipal de um governo elitista do PDT, capitaneado por Alceu Collares (hoje detentor de três aposentadorias, entre elas a imoral de ex-governador), que gostava de reprimir servidores públicos e de se associar com os empresários do transporte coletivo. O PT já então já dava mostras de que queria algo mais na história do país. Contudo, seu projeto de poder era limitado pelo poder da mídia e do capital financeiro. Mesmo assim, já se esboçava uma política de alianças que buscava os partidos tradicionais, como no caso da coligação eleitoral com o PSB, hoje na oposição depois de mamar quase uma década nas tetas do governo federal do PT, do PMDB e de outros não menos falaciosos.
Lula, para nós, do grupo Convergência Socialista, não era confiável, mas era um mal necessário. Era importante fazer os embates eleitorais e cotidianos tendo a figura de um operário e trabalhador, embora o que ele menos tenha feito na vida fosse trabalhar, uma vez que se encostou no Sindicato ainda nos anos 70. Essa possibilidade de contraponto visava mostrar aos assalariados e despossuídos que eles também podiam lutar para melhorar o país. O nosso “confiar desconfiando” se mostrou muito acertado. No fundo, o partido foi, para Lula e seu grupo, capitaneado por José Dirceu, uma moeda de troca para chegar ao poder no grande sindicato chamado Brasil. Quando se sentiram fortalecidos e prontos para negociar, nos anos 90, expulsaram sua ala esquerda e, posteriormente, lançaram a “Carta ao Povo Brasileiro”, preparando-se para ascender ao poder como alternativa ao governo entreguista de FHC, culminando essa estratégia na chapa Lula-José de Alencar, unindo capital e trabalho, numa simbiose entre corda e pescoço.
Uma vez ungidos pela confiança popular, com um Congresso venal e fácil de comprar, navegaram por muito tempo em céu de brigadeiro. Tudo estava a favor deles. Até mesmo a derrota no referendo sobre o Estatuto do Desarmamento, em 2005, que resultou no fim da autodefesa da população perante a bandidagem, pareceu apenas um contratempo menor. Os ventos eram favoráveis para as veleidades e para as falcatruas. E foi assim que surgiu o Mensalão. Ah, não ouse usar essa palavra diante de um petista porque ele imediatamente diz que ele nunca existiu, embora não explique por que Lula publicamente tenha pedido desculpas por algo inexistente.
Pois bem, na verdade, o Mensalão era parte de uma emulação delituosa muito mais ampla, era troco. Se era “mensal”, já havia coisas escabrosas que poderiam ser apelidadas de “Semestrão”, como as negociatas com fundos de pensão e, claro, as hoje descobertas falcatruas com os contratos da Petrobras. A inépcia e a má-fé eram tão grandes que até chagas se transformam em vacinas. Querem ver um caso? O governo de Lula pagou a dívida com o FMI, certo? Certo. Só que para fazer isso, ele trocou uma dívida xis por outra por outra 4,5 vezes maior, tomando empréstimos dos capitais especulativos. Isso equivale a tomar um dinheiro emprestado do cartão de crédito para pagar um empréstimo consignado. Durma-se com um rombo desses. A dívida pública decolou para chegar ao que está hoje, com pagamento de R$ 500 bilhões somente de juros ao ano. E o governo de Dilma Roussef quer extorquir R$ 10 bilhões com a CPMF.
Voltando a Lula, para chegar a ser o “cara”, o papagaio custou caro ao país. Ele teve que se unir à banda largamente podre deste pais, flertando com Sarney, ACM, Renan Calheiros, Romeu Tuma e outros da mesma estirpe. Quando os jogadores são desse naipe, qualquer um pode achar que está ganhando quando, na verdade, pode estar levando um baile. Mas com diversão garantida. Afinal, a conta é terceirizada e até o cara que leva marmita para o trabalho sustenta essa farra cívica. Lula gostou, usou bons ternos, tomou bons vinhos, teve discutíveis amantes e até se esqueceu da exclusão de Garanhuns. Nunca antes na história deste país um operário chegou tão longe na ostentação. O Brasil crescia, só que usando o cheque especial, não havia lastro. E essa disparidade começou a fazer água quando as negociatas na Petrobrás começaram a vir à tona, porque uma das maiores empresas do mundo deixou de ser indutora do nosso crescimento para entrar nas páginas policiais. E caiu no ranking da produtividade mundial.
Foi aí que se viu que o projeto petista tinha um matiz meramente ideológico para esconder as grandiosas propinas, que, movida por uma gangue de sanguessugas, drenaram a competitividade da maior empresa brasileira. Pior que não foi só lá. Ainda há muito por ser descoberto. Se há alguma minoração de culpa, Lula até que haverá de ser tratado como modesto, uma vez que as empreiteiras que financiam seu instituto e os imóveis de que desfruta usam dígitos moderados para indicar milhões. Seu estafe, sua camarilha, ganhou bem mais que o chefe. Mas seu benefício financeiro é icônico da miséria do povo brasileiro, que continua sem saúde, educação, saneamento, segurança pública e outros quejandos que é despiciendo enumerar.
Agora, com o jogo sendo jogado aberto, Lula está na iminência de ser preso. Para os petistas, isso é uma ignomínia, pois ele seria um grande líder popular deste país. Enxergam maravilhas em seus dois mandatos e nos de Dilma e acham que os fins justificam os meios. É mais ou menos como ser gremista. Mesmo que o time jogue mal, eu não vou abandoná-lo. Mas compromisso de torcedor não pode ser compromisso de pseudomilitante porque não é a mesma coisa. Um time lida com paixão e um político como Lula lida com verbas públicas, que jamais deveriam ser apropriadas em causa própria. Há que se se ver a proporção das coisas. E mesmo que Lula não tivesse sido beneficiado em proveito próprio por um centavo sequer do Erário, ele é culpado pela corrupção em seu governo, porque ele foi eleito para saber, para ter o domínio dos fatos. Se sabe dos delitos, isso é muito grave; se não sabe, isso é muito mais grave, porque deveria saber.
Por essas e outras é que vejo Lula como o vi há muito tempo. A ratificação de um falsário da política e das ideias, um homem que colocou seus interesses pecuniários e mesquinhos acima do seu papel na história. Uma lástima, ex-companheiro Lula. Quem te anteviu hoje te vê como uma múmia daquela utopia de outrora. Mas a decepção não é menor. Eu preferiria estar errado, mas, o que está feito, está remediado.