Dê ao seu cérebro a oportunidade de descobrir o que você pensa.

O Brasil acordou perplexo – e em parte extasiado - na última sexta-feira, 04 de março com a notícia que a Polícia Federal - notei a ausência do famoso Japonês - estava na porta do apartamento do ex-presidente Lula. Boa parte da nação comemorou este fato como em bons e velhos tempos costumávamos comemorar as vitórias da Seleção Brasileira nas Copas do Mundo, visto que há muito tempo aguardavam este fato como sendo o "momento da virada"; o momento da Redenção do país; como se este gesto por si só encerrasse todos os males da nação, da crise econômica à corrupção sistêmica.

Lula foi, depôs, foi liberado, fez discurso inflamado dizendo que "não mataram a jararaca pois acertaram no rabo e não na cabeça" - uma frase que, tratando-se de política brasileira, só podia ser dele - e voltou para sua casa ainda mais decidido a participar do futuro político (leia eleitoral) do país. A parcela da população que comemorou quando acordou, continua feliz, mesmo que um pouco ressabiada e, como sempre, exaltando a "cegueira ideológica e a burrice dos que defendem o PT", enquanto outro lado clama pela obviedade do uso político da Operação Lava-jato que só investiga os petistas e parece nunca enxergar motivos para estender as investigações aos nomes da oposição citados ao longo das delações, como Aécio, Aloísio Nunes, Cunha e tantos outros, além da desnecessária e vexatória condução coercitiva.

Nesta guerra de torcidas em que se o Brasil se tornou - ou pelo menos a crescente parte supostamente politizada do país - poucos têm usado a razão para avaliar os fatos que parecem se suceder numa velocidade impossível de acompanhar. O tempo entre uma notícia bombástica e outra dessa guerra pseudo-ideológica, só nos permite engoli-las, sem saber o gosto e o efeito de cada uma, e alimentar cada vez mais o ódio e a intolerância àqueles que leem a mesma notícia sob um ponto de vista diferente do nosso. No máximo conseguimos dar uma esculhambada no amigo que pensa diferente e curtir aquele "meme" engraçado - e que faz coro com nossa visão do mundo - que vimos igual nas publicações nas redes sociais de 50 amigos diferentes.

Particularmente, acho bastante saudável o envolvimento cada vez maior dos brasileiros com a política, ainda que o único assunto que realmente seja comentado em quase todas as conversas sobre o tema seja a corrupção. É desanimador que esta seja a discussão que impera, quase que sozinha, em todos os ciclos, do Facebook ao horário eleitoral gratuito; das rodas de boteco aos discursos no Congresso. Sim, corrupção é um assunto importante, mas não é o único. Não é sequer o mais importante, eu diria, sob risco de linchamento intelectual.

Mas essa monopolização dos temas políticos é ainda pior quando se soma a ela a polarização das opiniões - coxinhas versus petralhas, tucanalhas versus militontos, e por aí afora. Porque essa polarização nos induz a tomar partido, a ser parte de um grupo, a defender um dos dois lados, como se fosse um crime ter uma opinião que não seja vinculada a nenhum dos dois lados. E pior, nos fazem acreditar que ao criticar um dos lados eu esteja automaticamente aprovando todas as ações do outro. Não se tem o direito de ser a favor do bolsa-família e contra a CPMF, ou a favor da redução de juros e contra a mudança do marco regulatório do pré-sal, ou ainda - voltando ao tema favorito do país - a favor da investigação sobre o patrimônio de Lula e contra o impeachment de Dilma.

O mais interessante nessa grande confusão é que os políticos não são tão heterodoxos assim. Enquanto bradam contra o Petrolão, fruto de um sistema de financiamento eleitoral que permite que a mesma empresa doe para dois candidatos que estão disputando a mesma vaga - qual é o fundamento dessa benevolência toda senão exigir do vencedor, seja ele qual for, vantagens ao longo do mandato? - os congressistas aprovaram, contra a decisão do STF, um sistema ainda mais estranho, que vai permitir que o candidato receba sem que seja claro quem doou. Enquanto bradam pelo corte de gastos públicos, a classe política aprovou uma verba para a construção de um Shopping Center de um bilhão de reais, anexo ao prédio do Congresso, felizmente vetada por Dilma em uma época que ela ainda sustentava alguma coerência em suas decisões. Enquanto bradam que é um absurdo que a CPMF volte a vigorar com alíquota de 0,20% porque a população não aguenta mais impostos, o Congresso costura um acordo que vai possibilitar a volta da CPMF com alíquota de 0,38% ( ou seja quase o dobro do proposto inicialmente) com a ressalva que 0,18% seja distribuído aos estados e municípios, afinal os prefeitos e governadores também querem um lugar ao sol, refletido no brilho das moedas do povo. Teve ainda a aprovação da lei de mudança do regime de exploração do pré-sal, o aumento da verba para partidos, a lei da terceirização, e tantos outros exemplos que mostram que a maioria dos políticos não é tão apegada assim a sua ideologia quando não estão na frente das câmeras, insuflando ódio aos partidos alheios.

Portanto, meu caro, o melhor a fazer nestes tempos de insanidade ideológica é pensar. Não aceite ser refém ideológico de nenhuma personalidade - político, blogueiro, colunista, cantor ou tantos outros recém-pensadores políticos alçados a campeões de um exército nessa guerra fratricida. Informe-se, pense, discuta, ouça o contraditório, argumente respeitosamente com ele, leia matérias de sites que defendem coisas diferentes do que você acredita, dê ao seu cérebro a oportunidade de descobrir o que VOCÊ pensa e não se limite a seguir as opiniões fáceis daqueles que acreditam em mundo dividido entre bem e mal, entre certo e errado, entre preto e branco.

Afinal, você já deve ter percebido que a vida real é muito mais complicada que esta luta entre bem e o mal, este maniqueísmo de novelas e filmes de segunda categoria que os dois lados querem nos fazer acreditar que seja. Pense por si mesmo, e deixe que os outros pensem também. Aproveite cada opinião divergente da sua, não só como a oportunidade de converter alguém, mas sim como uma chance de descobrir novos pontos de vista que, em alguns casos podem ser muito mais interessantes que o seu; e mude de opinião sempre que achar que deve; seja autêntico.

Faça tudo isso e posso te garantir: vai dar trabalho, mas o resultado é libertador.