Sou filho de caboclos que ganhavam a vida com roças de subsistência, lá pelas bandas de Campos Novos de Cunha. Ouvi falar muito das jararacas que infestavam aquelas serras da Bocaina, e que gostavam de se esconder nas moitas de serralhas e samambaias que meus pais tinham que carpir para plantar a mandioca, o milho e o feijão que sustentavam a família.
Minha mãe, diziam os parentes, foi picada por uma jararaca e só não morreu por causa dos remédios que uma preta velha fez para ela. Minha mãe, aliás, foi uma campeã de sobrevivência. Sobreviveu á gripe espanhola, á febre tifoide, á tuberculose e o tal de mal de Hansen, nome que a gente usa para não falar lepra, praga bíblica que ainda hoje assusta mais que lobisomem em noite de lua cheia.
Jararaca, dizem, é cobra traiçoeira e malvada, além de ser extremamente peçonhenta. Não é como a cascavel, por exemplo, que também é terrivelmente venenosa, mas sempre avisa quando vai atacar, balançando aquele rabinho em forma de guiso que ela tem. Jararaca não. Fica na moita, escondida, esperando para dar o bote.
Quando adolescente eu costumava ir nadar no Tietê. É. Isso mesmo. Há meio século atrás a gente podia nadar no Tietê. Era um rio bonito e limpinho. Mas para chegar até suas margens tínhamos que atravessar um meio quilômetro de matagal. Eu, filho de roceiros, sempre levava comigo um pedaço de pau com o qual ia varejando as moitas á beira da trilha que levava até o rio. Vai que alguma jararaca estivesse escondida nelas. Pois um dia dei com uma. A danadinha estava lá, enroladinha, com a cabecinha erguida, pronta para o bote. Dei-lhe uma paulada na cabeça. Mas a pancada não foi suficiente. Ela ficou meio tonta e começou a golpear o ar á sua volta, como a procurar quem tinha batido nela. Eu aproveitei o momento e sai correndo. Mas confesso que fiquei com um baita medo de passar de novo por aquela trilha, pois sempre achava que aquela jararaca poderia estar em algum lugar, me esperando, para se vingar da paulada que eu dera nela.
Isso porque minha mãe sempre dizia. Se você bater em cobra, bata para matar. Cobra ferida é o bicho mais perigoso que existe. O Lula se definiu como “jararaca ferida”, cuja paulada acertou no rabo, e não na cabeça. Isso talvez seja apenas uma bravata, que afinal sempre foi dado á elas. Mas também pode ser um ato falho dele. Ato falho, como todo mundo sabe, é uma expressão latina (um lapsus linguae, um erro de linguagem), ou falha de percepção, que ás vezes nos trai, denunciando uma intenção interior que, no comportamento ou na linguagem, a gente quer ocultar. Dessa forma o Lula, que em sua carreira política sempre se pautou por mostrar um comportamento politicamente correto, inconsciente se denunciou, mostrando na sua verborragia purgatória o que ele sempre de fato foi: uma cobra traiçoeira e perigosa.
Cobras, como se sabe, se alimentam de insetos, ratos, sapos e outros petiscos do gênero. Se ao olhar o Lula com aqueles olhos inflamados de ódio não posso deixar de pensar na velha jararaca em quem um dia dei uma paulada, também não consigo deixar de pensar em um monte de ratos, sapos e outros insetos, extáticos, transidos e hipnotizados, frente á cobra que, antes de jantá-los, tira deles toda a capacidade de pensar e se defender. Parece a turba petista ouvindo o Lula falar.
E essa foi a única verdade que ele disse no seu discurso aos petistas, depois da sua oitiva pela Polícia Federal. Ele talvez seja mesmo uma jararaca venenosa. E está ferida. É bom a gente começar a olhar com cuidado para o nosso calcanhar.
Minha mãe, diziam os parentes, foi picada por uma jararaca e só não morreu por causa dos remédios que uma preta velha fez para ela. Minha mãe, aliás, foi uma campeã de sobrevivência. Sobreviveu á gripe espanhola, á febre tifoide, á tuberculose e o tal de mal de Hansen, nome que a gente usa para não falar lepra, praga bíblica que ainda hoje assusta mais que lobisomem em noite de lua cheia.
Jararaca, dizem, é cobra traiçoeira e malvada, além de ser extremamente peçonhenta. Não é como a cascavel, por exemplo, que também é terrivelmente venenosa, mas sempre avisa quando vai atacar, balançando aquele rabinho em forma de guiso que ela tem. Jararaca não. Fica na moita, escondida, esperando para dar o bote.
Quando adolescente eu costumava ir nadar no Tietê. É. Isso mesmo. Há meio século atrás a gente podia nadar no Tietê. Era um rio bonito e limpinho. Mas para chegar até suas margens tínhamos que atravessar um meio quilômetro de matagal. Eu, filho de roceiros, sempre levava comigo um pedaço de pau com o qual ia varejando as moitas á beira da trilha que levava até o rio. Vai que alguma jararaca estivesse escondida nelas. Pois um dia dei com uma. A danadinha estava lá, enroladinha, com a cabecinha erguida, pronta para o bote. Dei-lhe uma paulada na cabeça. Mas a pancada não foi suficiente. Ela ficou meio tonta e começou a golpear o ar á sua volta, como a procurar quem tinha batido nela. Eu aproveitei o momento e sai correndo. Mas confesso que fiquei com um baita medo de passar de novo por aquela trilha, pois sempre achava que aquela jararaca poderia estar em algum lugar, me esperando, para se vingar da paulada que eu dera nela.
Isso porque minha mãe sempre dizia. Se você bater em cobra, bata para matar. Cobra ferida é o bicho mais perigoso que existe. O Lula se definiu como “jararaca ferida”, cuja paulada acertou no rabo, e não na cabeça. Isso talvez seja apenas uma bravata, que afinal sempre foi dado á elas. Mas também pode ser um ato falho dele. Ato falho, como todo mundo sabe, é uma expressão latina (um lapsus linguae, um erro de linguagem), ou falha de percepção, que ás vezes nos trai, denunciando uma intenção interior que, no comportamento ou na linguagem, a gente quer ocultar. Dessa forma o Lula, que em sua carreira política sempre se pautou por mostrar um comportamento politicamente correto, inconsciente se denunciou, mostrando na sua verborragia purgatória o que ele sempre de fato foi: uma cobra traiçoeira e perigosa.
Cobras, como se sabe, se alimentam de insetos, ratos, sapos e outros petiscos do gênero. Se ao olhar o Lula com aqueles olhos inflamados de ódio não posso deixar de pensar na velha jararaca em quem um dia dei uma paulada, também não consigo deixar de pensar em um monte de ratos, sapos e outros insetos, extáticos, transidos e hipnotizados, frente á cobra que, antes de jantá-los, tira deles toda a capacidade de pensar e se defender. Parece a turba petista ouvindo o Lula falar.
E essa foi a única verdade que ele disse no seu discurso aos petistas, depois da sua oitiva pela Polícia Federal. Ele talvez seja mesmo uma jararaca venenosa. E está ferida. É bom a gente começar a olhar com cuidado para o nosso calcanhar.