Seria Jesus um comunista?
Qualquer pessoa, que defenda justiça e igualdade é considerada por muitos donos da verdade como comunista. Qualquer pessoa que tome as dores das minorias sociais, dos fracos e perseguidos é tomado assim como portador de alguma influência marxista.
Segundo alguns meios de comunicação,ela é entranhada por professores que ao invés de ensinarem conteúdo doutrinam seus alunos com comunismo. Alguns explicam a atual crise da educação por estes motivos.
Tenho razões para acreditar que Jesus seria rotulado como comunista ou esquerdopata, como muitos dizem. Vamos aos exemplos:
Jesus seria filho de uma mãe solteira, foi concebido antes do casamento, mas foi assumido por um pai adotivo. Carpinteiro e homem honrado, aceitou a mulher com um filho que não era seu. Teria motivos aceitos para abandoná-la, pois sendo prometida a ele não se teve virgem para o casamento.
Nascido em meio a pobreza, numa manjedoura, sofreu perseguição de um rei que havia decidido pela morte de primogênitos nascidos em tal período. Se refugiou para o Egito, até que pudesse voltar tempos depois com a morte do Rei Herodes. Perdeu seu padastro algum tempo depois.
Morou boa parte de sua vida, em Nazaré, que não era lá grandes coisas. "Poderia alguma coisa boa vir de Nazaré" lhe disse Natanael companheiro de um discípulo seu. Andava com gente desqualificada, rebeldes perigosos zelotes, cobrador de impostos, pescadores que andavam nus, prostitutas, adolescentes.
Não tinha onde dormir, como ele mesmo dizia, o Filho do Homem nem mesmo tem um lugar pra descansar a cabeça. Na verdade, descansava na casa dos outros, onde se alimentava e recebia cuidados. Gostava de festas de casamento e ceias com amigos. Inclusive gostava de colher trigo em terra dos outros pra se alimentar.
Andava com a tal turma que falei. Além disto, gostava de um pregador chamado João Batista, que descia o pau em celebridades, governadores e suas esposas. Era tipo um hippie doidão que se vestia de pelo de urso e comia mel com gafanhotos .Pagou com a própria vida se atrever contra os hipócritas.
Certa vez, nestas andanças, ele era um andarilho, encontrou um jovem rico que queria entrar no reino dos céus, mas não se desvencilhar de suas riquezas. Afirmou com todas as palavras que era mais fácil um camelo entrar no buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus.
Aliás, envolveu-se em confusões de fato como o vandalismo praticado no câmbio e comércio do templo, derrubando e ofendendo os comerciantes ali presentes. Seria ele contra o mercado? Vai saber...
Chamava os doutores da lei de víboras e hipócritas. Desafiava a hipocrisia da lei, curando aos sábados e protegendo uma prostituta de um apedrejamento. Era um insidioso. No famoso sermão da montanha desafiava o famoso "dente-por-dente e olho por olho" do velho Moisés mandando oferecer a outra face.
Recomendava não guardar tesouros na terra, que poderiam ser pilhados e roubados. Valoriza coisas do espírito... Dizia para as coisas de César não se misturarem com as Deus, como se não pudessem ser confundidas. Como se as coisas do Estado e do mercado não fossem também sagradas.
Realizava curas, milagres diversos e não cobrava por isto. Dizia falar diretamente com Deus, que via como um pai. Afrontava hierarquias de forma inteligente. O reino de Deus era das crianças e do que se assemelhavam a elas e não aos fortes e conquistadores. Dizia que o primeiro no reino de Deus deveria ser o primeiro a servir, o tal os últimos serão os primeiros.
Uma das mais chocantes coisa que disse foi que seu reino não era deste mundo. Quer dizer, sabia que um mundo futuro, o reino de Deus viria de forma apocalíptica - com a destruição deste mundo e instauração da Nova Jerusalém. Um discurso plenamente revolucionário.
Foi tão radical, que chegou a negar propina e participação em esquemas de corrupção: o Príncipe deste mundo o ofereceu o domínio dos reinos da terra com a condição de se submeter a sua autoridade.
Falava de uma justiça, que não tinha a ver só com pão ou bolsa família: aqueles que tem fome e sede de justiça seriam saciados! Que justiça é esta que não se sacia com pão e circo? Enfim, que discurso perigoso.
Gostava muito de ler os profetas. O mais notável foi o Isaías que não só profetizou sua vinda, como percebeu que seria de uma vida simples e modesta que viria o messias. Entrou triunfante em jumentinho em Jerusalém.
Isaias alertava Israel dos riscos que o povo corria ao se afastar de suas raízes religiosas e adorarem os cultos dos estrangeiros, que em pouco tempo os conquistava. Ele sabia do veneno da dominação cultural e para o que ela preparava.
Aceitou a morte, sabendo que significava um sacrifício por sua causa. Disse que não haveria amor maior que dar sua vida pela dos seus amigos.
Conhecidos e futuros seguidores repartiam tudo que tinham. É notável as passagens em que os cristãos depositavam aos pés de Pedro tudo que tinham para que fosse usado pela comunidade. Sim, viviam em comunidade. Paulo também circulava por estas comunidades e pregava o trabalho e encontro com o que era verdadeiramente importante a esperança da vinda do tal reino de Deus.
Seu método de ensino, poderia muito bem ser confundido com os de Paulo Freire. Ensinava por parábolas e histórias familiares ao povo. Olha só, falava de coisa extremamente sérias falando de coisas cotidianas como brigas de pais e filhos, ovelhas, figueiras, sementes lançadas às pedras, peixes, etc.
O mais assustador neste discurso do nazareno, é que ele dizia falar de um jeito para que ouvissem e não entendessem - as famosas parábolas. Era subentendido, era linguagem decodificada, que falava de algo além das coisas comuns ainda que por meio delas.
Perdoava criminosos... Mesmo na sua execução na cruz, perdoou um bandido que estava ao seu lado, ao perceber que ele havia acreditado em seu futuro paraíso. Seria ele defensor de bandidos?
Era um doutrinador. Dizia ensinar a pescar homens. Em jogar sementes no coração dos homens e no poder da fé. Dizia falar de uma autoridade que não vinha dele, mas atribuída por Deus. Dizia que João Batista batizava com água e ele batizaria com fogo - como assim?
Dai de beber a quem tem sede, dai de comer a quem tem fome, não os mandava pescar... Mas olha isto, ele compara estes nus e esfomeados com ele mesmo. Quando dizia que estive nu e não me vestisse. Tive fome e não me destes de comer. Ele está falando de um tipo de igualdade - se considera filho de Deus e a mesmo tempo entende que quem maltratar seja criança e ou desdenhar um faminto o faz como se fizesse a ele mesmo.
Não coloquei citações da Bíblia, qual versículo vírgula alguma coisa de onde tirei estes relatos, mas qualquer pessoa que ler um dos evangelhos encontrará as referências.
*Dedico este texto ao Padre Paulo Ricardo, cujo os discursos de intolerância e radicalismo me inspiraram a análise aqui apresentada.