In-Justiça!
2ª Parte
 
Na primeira parte abordei a questão porque não é injusto um rico ir para cadeia, mesmo cometendo injustiça, quanto ao pobre é indiferente, justiça ou injustiça, ele é pobre, portanto não tem direito a ‘justiça’. Fundamento a partir desse segundo texto o primeiro, contextualizo genericamente como a sociedade se formou.
 
A organização das sociedades atuais, grosso modo, formou-se do seguinte pressuposto: no início os grupos foram se formando, porém o líder era o mais forte. Com o passar dos tempos, conforme esse grupo crescia, fatos novos começaram a surgir, naturalmente devido ao grande número de pessoas juntas no mesmo espaço. Nesse grupo maior surge o sacerdote ou pajé, o homem religioso.
 
A função principal do sacerdote ou do pajé, em tese, era responder questões que não tinham respostas e organizar o grupo. Assim sendo, as leis e regras partiam dos religiosos, pois esses tinham, o poder de receber as ordens divinas, sendo que foram escolhidos por Deus para organizar o grupo.
 
Deus é um ser poderoso e muito forte. Com o passar do tempo a definição de Deus foi modificando até chegar na definição atual, Deus é um ser perfeito, onipresente e onisciente.
 
Aos poucos o poder das tribos ou grupos foram passando para o sacerdote, esse tornou-se a figura central para o grupo, pois todas as suas ações não eram dele propriamente, mas da vontade do criador, do Deus do grupo.
 
Ao longo do tempo as tribos foram aproximando-se uma das outras, formando clãs. Todavia, para as tribos formarem um só grupo, precisavam de um Deus para aprovar a união. Geralmente as tribos tinham deuses diferentes. Para não criar preconceitos entre as tribos, os chefes e sacerdotes nomeavam um novo Deus para aprovar aquela união. Diante dessa situação, de um momento para outro, uma pessoa que convivia com um Deus, passou a conviver com três. O da tribo dela, o da outra tribo e um terceiro que realizou a união do grupo.
 
Os clãs foram aumentando e novas situações iam surgindo, novas regras para organizar grupos específicos, tais como pedreiros, marceneiros, lavradores ou camponeses. Como estruturar um plano para organizar os grupos? O grupo mais complexo, a princípio seria o grupo que manteria as leis divinas sendo cumpridas. Surgiu então, o que chamamos hoje de judiciário e o exército. Só um sacerdote era impossível governar sozinho. Surgem as classes, mas não como se usa hoje, apenas como analogia.
 
Os clãs evoluíram ao ponto de unirem-se com outros clãs. Pelo mesmo método da união entre tribos, surge a cidade com vários deuses. Uma sociedade organizada da seguinte forma: o poder máximo era a religião, o judiciário ou escribas, o exército, coletores de impostos, depois os trabalhadores e escravos.
 
Os cidadãos eram homens livres e outros escravos. Os escravos nesse período eram soldados que perderam a guerra. Quando uma cidade lutava contra outra, os soldados da cidade derrotada tornavam-se escravos, os cidadãos tornavam-se espólios de guerra, escravos também.
 
Ao longo do tempo a ideia de Deus se tornou um fato inquestionável: o mundo foi criado por ele e ele governa conforme sua vontade, o poder divino tornou-se uma necessidade humana. O homem era administrado por Deus e suas ordens eram passadas para os sacerdotes e desses para o povo.
 
Os sacerdotes com o tempo começaram a acreditar e afirmar que eram escolhidos por Deus porque havia um poder inerente neles, e começaram a acreditar que todas as suas ações vinham de um poder inerente a eles e de Deus. Os religiosos  comandavam as cidades como deuses.
 
Com as novas classes, surgiu o poder imediato, ou seja, líderes de classes e líderes de grupos. Quanto mais líderes, mais a ideia de poder foi agregando na figura do líder também. Surgem os representantes de classes, ou seja, o político, um homem revestido de poder pelo fato de representar muitas pessoas. Inicia-se o confronto do homem com os sacerdotes.
 
Desse conflito vai surgir o administrador humano, ou seja, ditador, príncipe, presidente. Seja como for, esse administrador terá a benção divina para administrar a cidade e as pessoas. Inicia-se um novo conflito entre os sacerdotes e o chefe da nação. Desse conflito surge o Estado que é autônomo em relação à religião, mas por uma estratégia política e de sobrevivência, a religião apoia o Estado.
 
Agradeço a paciência do leitor, a partir desse ponto o texto ficará mais interessante.
 
O resumo de tudo é que: quem domina é quem tem poder e força, usa da força para impor e administrar. A dominação vem de uma ideia de poder e de dinheiro. A ideia de poder já estava pronta, que é a ideia de um único administrador, de um chefe, um líder, portanto, a ideia do uno sobrepõe à ideia do múltiplo.
 
O uno sendo o poder, tem legitimidade de punir, castigar, executar, perdoar e libertar. Ele pode fazer o que bem entende, pois se está no poder é porque Deus assim quis!
 
O dinheiro mantêm exércitos trabalhando para o líder, pois este compra comandantes, nomeia parentes para auxiliar na administração e manutenção do poder.
 
Entrementes com o tempo uma classe começou a manter o líder e o líder passou a lhe dever favores, chegando a tal ponto que não havia meios para o líder pagar os membros dessa classe, uma classe pequeníssima, porém fortíssima, pois seu dinheiro estava em toda a sociedade, todos deviam a eles. Assim sendo, os novos líderes eram escolhidos por essa classe que nunca mostra sua face, pois o líder assume para si todas as responsabilidades, isentando essa classe da publicidade e do julgamento da população.
 
Diante de tudo aqui, a estrutura de pensar de uma sociedade ficou formada na cabeça de cada cidadão. Na sociedade as pessoas vivem conforme o seu poder. Certo ou errado é definido por quem tem poder, não pelo mais forte, pois a força pode ser comprada, o poder tem que ser conquistado, tomado, administrado e financiado.
 
Devido a essa estrutura que foi montada durante um longo tempo, pobre vai para a cadeia e rico não.  Não há nada de injusto ou desumano nesse fato. Para mudar essa lógica, é preciso de uma nova estrutura, pois qualquer sistema dentro dessa estrutura que vivemos, não mudará em nada.
 
Por analogia darei um exemplo de estrutura antiga ou atual, e uma possível nova estrutura. O sistema de uma lâmpada convencional que temos em casa funciona da seguinte maneira: a eletricidade percorre um filamento dentro da parte de vidro, este filamento aquecerá ao ponto de gerar luminosidade, o espaço próximo da lâmpada ficará claro. Prova disso, seria um quarto de uma residência a noite, ao ligarmos o interruptor, a lâmpada ascenderá e haverá luminosidade para podermos enxergar, a luz ocupa todos os espaços do quarto.
 
Imaginemos agora esse quarto sem a lâmpada, mas com um dispositivo ou equipamento que ao ser acionado, o quarto continuará escuro, porém todas as coisas sólidas emitiriam luz delas mesmas, mas uma luz que não iria além do próprio objeto. A cama emitiria luz própria. Se houvesse outra pessoa dentro do quarto, seu corpo emitiria luz, mas numa quantidade que não iria além de si. Entrementes os espaços vazios permaneceriam escuros. Uma lâmpada atual ilumina tudo, nesse novo modelo não haveria luminosidade fora dos objetos.
 
As leis atualmente são elaboradas para favorecer determinados grupos no poder, a sociedade é pensada para alguns grupos. Maquiavel por exemplo, pensou como dominar a sociedade, ele passou todo o conhecimento para quem tem o poder. O poder não é para os inteligentes individuais. Por exemplo, o E.U.A contrata os cientistas mais inteligentes do mundo, mas todo o conhecimento gerado por eles  é para ser usado para o interesse do grupo que está no poder.
 
Dentro do sistema atual, os pobres e miseráveis são necessários, pois o sistema não foi pensado para muitos, mas para poucos usufruírem. Observe como funciona a cabeça do ser humano:
 
Alguns anos atrás numa repartição pública havia um rapaz muito simples, simples mesmo, seu poder aquisitivo era semelhante aos demais.

Ele não decidia nada dentro do trabalho ou da sua vida privada sem falar com os colegas ou com o chefe da repartição, começava sempre pelo chefe. Até problemas íntimos pedia conselhos ao chefe. De inteligência limitada, inocente, porém desconfiado. Um dia o rapaz precisou se ausentar por alguns dias, solicitou a liberação ao chefe e justificou tudinho, detalhes por detalhes.
 
Um colega da repartição depois falou com ele, - Amigo, diga apenas que você precisa resolver alguns problemas particulares, mais nada, resguarde sua privacidade e da sua família. Ele ficou quieto. Algum tempo depois ele tornou-se chefe.
 
Um fenômeno aconteceu, o rapaz tornou-se inteligentíssimo! Ele acreditava que sabia tudo. Se alguém solicitava uma licença, esse queria saber por que, o que estava acontecendo, queria resolver todos os problemas dos colegas de repartição.
 
Entendeu leitor amigo como funciona a cabeça do ser humano!
 
Portanto, se queremos pensar numa sociedade em que as pessoas sejam iguais, é preciso criar uma nova estrutura, pois nessa, qualquer sistema dentro dela, as pessoas vão continuar agindo como agem até hoje, tudo está correto, não tem nada de errado.
 
Um pobre que fala de justiça nessa estrutura, não soa como um paradoxo. É um paradoxo. Justiça é para pessoas ou grupos que detêm força e poder equivalentes. Todavia nesse caso, eles fazem trocas, pois para esses, mantendo-se no  poder, as coisas são trocadas independentes de preços ou valores.
 
É preciso mudar a forma de pensar, de ver, de perceber e de viver, caso contrário, lamento!  Mas quem nasceu pobre deu azar.
 
 

 
Eder Rizotto
Enviado por Eder Rizotto em 22/02/2016
Reeditado em 28/05/2019
Código do texto: T5552083
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