É preciso refletir e agir
É preciso refletir e agir
Publicado no jornal O Globo, RJ, do dia 09 de fevereiro de 2016.
A espécie humana, no uso da sua racionalidade, sempre procurou, num infindável processo de aperfeiçoamento, organizar a sociedade como instrumento necessário à sua sobrevivência e a explicitação da sua dignidade essencial, seus direitos e deveres, de forma justa, livre e democrática.
Chegamos até o momento atual. Tentemos, no entanto, responder às seguintes indagações:
- É justo e lógico que, realizada uma eleição, os escolhidos só possam ser julgados pelo seu desempenho, como representantes do povo, numa próxima eleição, quatro anos depois, por suas reeleições ou não?
- É justo e lógico que os partidos políticos desconheçam seus princípios doutrinários e programáticos, servindo apenas como instituições para o registro de candidatos e não como organizações intermediárias entre o povo e o Estado onde, permanentemente, se realiza o diálogo entre os eleitores e os seus representantes?
- É justo e lógico que os verdadeiros eleitores sejam os “marqueteiros”, regiamente remunerados, que formam a opinião publica segundo as cada vez mais apuradas técnicas de propaganda, de psicologia social, de massificação de idéias e imagens, e não o povo honestamente informado sobre suas opções?
- É justo e lógico que cidadãos analfabetos ou semialfabetizados, sem capacidade de discernimento, votem na escolha dos representantes do povo, a nível federal, que no Legislativo (o supremo poder) e à testa do Executivo conduzirão a nação num mundo cada vez mais complexo e de difícil convivência?
- É justo e lógico que partidos, candidatos desonestos e medíocres sejam eleitos, utilizando-se dos instrumentos legais acima descritos - mas ilegítimos do ponto de vista ético - conduzam o país e seus iludidos eleitores na direção do caos social, da anarquia econômica com o inevitável sofrimento do desemprego, da inflação e da violência que se instala progressivamente?
- É justo e lógico que candidatos totalmente ignorantes do que realmente se passa no mundo das ciências, das artes, da perspectiva histórica que move as nações, dos princípios do direito positivo, sejam eleitos sem se submeterem a um concurso, anterior às eleições, de tal forma que, pelo menos, não sejam escolhidos candidatos totalmente idiotas para nos governarem ou criarem as nossas leis?
O Congresso Nacional, reunindo o pouco da dignidade que lhe resta, deveria providenciar, com urgência, esta transição para um mais aperfeiçoado patamar de convivência política, por meio de emenda constitucional, passando o poder para o Supremo Tribunal Federal que presidiria e explicitaria o necessário processo de mudança, ainda em 2016. Creio ser esta uma alternativa a ser debatida. Os parlamentares e os governantes, a nível federal, que aí estão não são confiáveis e precisam sair – os poucos bons serão reeleitos. Isto parece justo e lógico - o processo de aperfeiçoamento da democracia nunca cessa.
O Brasil não agüentará esperar por 2018 – já estamos vivendo os primeiros momentos de uma guerra civil com a violência urbana, o trafico de drogas, a corrupção generalizada e a incompetência governamental. O momento não é de discussões acadêmicas que já ocorreram nos últimos três séculos, pois a nação brasileira está se esfarelando aos nossos olhos.
Eurico Borba, 75, escritor, mora em Ana Rech, (Caxias do Sul, RS)