LULA E O ITAQUERÃO
 
Sou corintiano desde 1954, quando o Luís Trochilo, o nosso Luizinho, Pequeno Polegar, marcou aquele gol contra o Palmeiras, gol que nos deu o título de Campeão dos Centenários.
Amarguei os vinte e três anos sem títulos e os onze anos em que o Pelé não deixou a gente ganhar do time dele, marcando sempre um maldito golzinho para empatar ou virar o jogo no último minuto.
Vinte e três anos sem títulos, onze sem ganhar do Santos e quase cem anos sem um estádio á altura. Isso é ser corintiano, brasileiro sofrido, que nunca perde a esperança e sempre se supera nos momentos mais difíceis, emergindo com a vitória quando tudo parece estar perdido.
Vicente Mateus foi um dos melhores presidentes que o Corinthians já teve. Uma das maiores fortunas do país, era um grande empresário e dono de grandes empresas produtoras de insumos para a construção civil. Poderia ter construído um estádio para o Corinthians, mas não fez. Comprou o terreno de Itaquera com essa intenção, mas não teve tempo para concretizar o sonho do estádio, Morreu antes disso. 
O Corinthians levou quase cem anos para ter um estádio á altura das suas tradições. Curiosamente esse estádio foi construído justamente em uma época que o clube estava praticamente falido, como a grande maioria dos clubes brasileiros ficou depois da famigerada Lei Pelé. Devia, só para o governo, mais de quinhentos milhões em impostos e contribuições. Não tinha dinheiro nem para pagar aos jogadores. Acabara de ser rebaixado para a segunda divisão por causa das trambicagens feitas pelo seu presidente Alberto Dualibe com o Kia, aquele iraniano safado, que lava dinheiro da Máfia russa aplicando no futebol.
Mas, de repente, eis senão que de repente, uma magnífica arena é erguida em Itaquera em menos de quatro anos. Uma arena de um bilhão de reais. E quem ergueu? A Odebrech. Em quem foi o fiador? O corintiano Lula.
Bom, isso quem disse não fui eu. Foi o Sanches, deputado petista e presidente do Corinthians á época. O Juca Kfouri publicou isso na Folha de segunda-feira, dia 8 de fevereiro. “Se um dia alguém for levantar isso, o Lula vai ficar em situação difícil” disse ele.
Mas é evidente. Quem financiou o Itaquerão todo mundo sabe que foi o BNDS. O Lula queria, porque queria, que a Copa do Mundo fosse aberta lá. Uma obra daquelas não custa um bilhão, mas depois que a Lava a Jato começou a levantar os panos que cobrem outras obras construídas pelos empreiteiros amigos do Lula, a gente já sabe porque o custo das obras públicas no Brasil é o mais caro do mundo. Diga-se, a bem da verdade, que não foi o Lula nem o PT que inventaram as obras superfaturadas e turbinadas a propina. O Maluf que o diga. O PT só transformou em instituição o que antes era uma prática contumaz dos agentes públicos em conluio com os empreiteiros.
Bom. Se o Ministério Público resolver investigar o que Lula tem a ver com o Itaquerão, tudo bem. Dane-se o Lula e o PT. Essa gente precisa ter o que merece. Mas não mexam com o Corinthians. Nem tirem essa arena da gente. Afinal, esperamos cem anos para isso. E depois, neste país em que locupletar-se á custa do dinheiro público tornou-se uma instituição referendada e até protegida pelos poderes da Nação, não seria demais permitir que nós, pobres corintianos, também tiremos uma lasquinha desse filão, ainda que por tabela. Como dizia o Stanilau Ponte Preta, “restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos.”
Nesse particular, viva o Lula, que nos deu esse prazer. Não fosse ele não teríamos a nossa arena. Isso não quer dizer que o perdoo por ter arrendado o país aos empresários da construção civil, assim como não perdoo o Pelé. Primeiro por ter nos submetido a onze anos de vexames dentro do campo. Segundo, por ter vendido o futebol brasileiro para os empresários da bola.
Mas que a Arena Conrinthians é uma senhor estádio, lá isso é.