Senhora... Meu troco está errado, veio a mais!
Hoje me aconteceu algo extraordinário. Sentado em minha mesa, num escritório de administração, de costa para o corredor, trabalhava como o habitual. Distraído ouvindo a radio USP ou CBN, pensando na vida e em como eu precisava estudar mais para sair dessa rotina infrutífera. Por traz, a dona Néte, passava recolhendo o lixo das mesas. Ela é a “tia” que cuida da limpeza, e de tudo que se refere à manutenção e outras atividades secundarias, como o café (o melhor do mundo por sinal), refeitório, entre outras. Uma tarefa difícil, que ela exerce com excelência, algo realmente admirável. Inesperadamente sou chamado por ela e perguntado se a nota de 20 reais, que estava no chão próximo a minha cadeira, era minha, logo reconheci que sim, estava dobrada de uma forma única, parecia mais um origami de alguma espécie de animal marinho ainda não conhecido, algum tipo de monstro das profundezas dos mares pouco explorados. Recolhi o dinheiro e agradeci calorosamente, ela apenas deu um sorriso e disse: “De nada”. Sem aplausos ou auto aclamação, voltou a recolher o lixo.
Aquela simplicidade mexeu profundamente comigo. Foi uma atitude tão natural, que ficou explicito que não passou pela cabeça dela, em nenhum momento, a ideia de ficar com aquele dinheiro. Uma honestidade que transmiti uma sabedoria incrível, uma verdadeira mulher, um guerreira do cotidiano, que através de seu duro trabalho tira seu sustento. O que me fez pensar sobre esse ato. A reflexão gerou muitas perguntas:
• “O que leva uma pessoa a desviar o dinheiro que seria para comprar merenda escolar ou da saúde publica?”
• “Como alguém tem coragem de se aproveitar da vulnerabilidade de outro?”
• “Seria esse um problema cultural? Econômico?”
• “Seria essa a condição humana?”
Não tenho resposta “ainda” para estas perguntas, mas analisando as ultimas noticias sobre a “Lava Jato” um show de corrupção e entre casos de desvio de verba, surgindo o tempo todo, percebi que não se trata de pessoas necessitadas, desesperados, e sim, empresários bem sucedidos, políticos e pessoas de alto nível social. Homens e mulheres privilegiados, educados nas melhores escolas, frequentadores dos melhores lugares que o dinheiro pode alcançar. Entorpecidos pelo poder, pela ganancia... Ou seja, o a nível cultural ou econômico não é suficiente para definir o caráter de uma pessoa.
Obrigado Dona Nete por me fazer refletir sobre este assunto.
Texto do meu Irmão Jacó Diego