ADVOGADOS DO DIABO
                   
Manifesto dos advogados dos investigados na Operação Lava a Jato compara o juiz Sérgio Moro ao monge dominicano Torquemada, e a operação em si como uma espécie de Inquisição. Torquemada, como se sabe, foi o padre que comandou a Inquisição Espanhola no século XV e mandou para a fogueira milhares de pessoas, acusadas de heresia, bruxaria e outros crimes contra a fé católica.
Evidentemente é um exagero desse grupo de advogados, mas do ponto de vista deles é compreensível. Afinal de contas eles são os defensores dos acusados nessa operação. Estão defendendo o interesse próprio, ameaçado pelas delações premiadas, que na ordem em que estão acontecendo não vai deixar pedra sobre pedra nesse castelo de corrução e pirataria que políticos, empreiteiros e funcionários públicos armaram para pilhar os cofres públicos e os recursos das estatais.
O medo dos advogados em questão é ficar sem argumento para defender os seus clientes. Que de repente se acumule tanta prova contra eles que a defesa vai se tornar impossível. E então começaram a atacar o juiz, os procuradores e a Polícia Federal, acusando-os de montar uma operação inquisitorial, que manda prender sem provas, promove tortura moral para obter acordos de delação premiada, expõe o acusado á execração pública e comete outras arbitrariedades, que ao ver dos ilustres causídicos, faz lembrar os tempos da ditadura militar.
Essa é uma grande besteira, como já se disse. Para começar, nenhuma prisão foi feita, até agora, de forma ilegal ou autoritária, sem quesitos que a justificasse. E os acordos de delação premiada não foram impostos, mas negociados. É um tipo de acordo que ninguém faria se não tivesse culpa no cartório. O acusado faz para aliviar a própria barra. E sempre acompanhado pelo seu advogado. Portanto, é uma balela que cheira a chicana jurídica dizer que a Procuradoria e a Polícia Federal estão forçando esses acordos, praticando tortura moral nos acusados.
Quanto á se dizer que a Operação Lava a Jato se assemelha á Inquisição, é uma comparação tão ridícula que nem merece comentário. Os endinheirados e saudáveis empreiteiros e políticos que foram presos nessa operação nem de longe lembram as esqueléticas e mutiladas vítimas da sanha assassina dos padres da Inquisição. Ao invés, mesmo na cadeia estão vivendo melhor do que a maioria dos brasileiros, esses sim, pobres coitados que foram miseravelmente enganados e roubados por essa corja que o preocupado grupo de advogados está defendendo.
É claro que todo réu, por pior que seja seu crime, merece defesa. Mas quem exagera no argumento perde a razão. O sistema jurídico brasileiro, como se sabe, é um dos mais injustos do mundo, pois só pune mesmo quem não tem recursos para se defender. É bastante duvidoso que algum desses políticos e empreiteiros seja condenado em instância final e pegue a pena que merece. Vai sobrar para quem sempre sobra: para os funcionários públicos e empregados de estatais que foram seduzidos pelo dinheiro fácil e para os operadores do esquema. Como no Mensalão sobrou para o Marco Valério, pois os políticos e outros chefões daquele esquema já estão todos na rua. Alguns, como José Dirceu, delinquindo de novo.
Advogado deve fazer tudo que pode e usar tudo que sabe na defesa do seu cliente. Há advogados que seriam capazes de patrocinar o próprio Diabo e conseguir para ele um habeas corpus para que ele ficasse o resto da eternidade em liberdade, praticando a sua arte de perverter a humanidade.
Principalmente quando se trata de um diabo rico, como é o caso dos empreiteiros e políticos da Lava a Jato. Tudo bem. Escamotear a verdade, tumultuar o processo, usar de todas as chicanas permitidas pelos códigos em beneficio do seu cliente é prerrogativa do defensor. Nem importa saber se ele é culpado ou inocente. Advogado não julga, só defende. E quando se trata de defender pouco importa a ética, a moral, a verdade. Trata-se de fazer prevalecer a verdade que ele construiu e descontruir a da acusação.
Os argumentos que esse grupo de advogados levantou para tentar descontruir o trabalho que os Procuradores e a Polícia Federal, com o juiz Sérgio Moro, estão fazendo, embora legítimos do ponto de vista de um defensor, são ridículos e falaciosos. Embora até o Diabo mereça um julgamento justo, é preciso dizer a esses senhores causídicos que, se sempre fica um resto de perfume nas mãos que oferecem flores, quem aperta a mão do Diabo vai carregar pela vida inteira oo cheiro de enxofre.