A HERANÇA DOS CUIRRAIS
 
O Procurador da República Rodrigo Janot encaminhou ao Supremo Tribunal Federal várias denúncias contra políticos acusados de se locupletarem com o dinheiro público, na operação Lava a Jato e outras mazelas, que estão sendo desvendadas pela Polícia Federal, Ministério Público e os juízes que estão á testa dessa operação.  Entre eles os senadores Fernando Collor (PTB-AL), Edison Lobão (PMDB), Benedito de Lira (PP-AL) os deputados federais Vander Loubet (PT-MS), Nelson Meurer (PP-PR) e Arthur Lira (PP-AL). O Procurador pede ao Supremo a cassação dos mandatos para os quais foram eleitos caso sejam condenados na Operação Lava Jato, após o fim de uma eventual ação penal.
É bom que o país ainda tenha em quem confiar como no caso do Procurador Rodrigo Janot e o Juiz Sérgio Moro. E é pena que os juízes do Supremo Tribunal Federal inspirem tão pouca confiança. Mas dá para ter esperança. Quem sabe desta vez os Lewandowiskys da vida fiquem com vergonha e tomem a atitude que o país espera deles.
Casos como os dos senadores Fernando Collor e Edison Lobão são emblemáticos. Mostram o quanto somos ignorantes e mal preparados para exercer a democracia do voto. Pois esses senhores estão há tanto tempo fazendo o pior tipo de politica que alguém pode fazer ─ a política do venha tudo a nós e ao vosso reino nada ─ que nos espanta o fato de eles serem constantemente reeleitos para cargos públicos.
E nem podemos dizer que eles são eleitos por estados mais pobres, onde a educação, a informação e a capacidade de discernimento da população ensejam esses engodos. Não se pode criticar o bom povo de Alagoas por mandar para o Congresso dois vigaristas como Renan Calheiros e Fernando Collor, nem o povo do Pará por eleger Jader Barbalho, ou os maranhenses por causa de uma tranqueira como Edison Lobão. Afinal, os paulistas também mandaram para o Congresso o Paulo Maluf, um sujeito com uma capivara maior do que o Fernandinho Beira-Mar, além de Vicentinho, Paulinho da Força e outras porcarias que envergonham o eleitorado do Estado mais desenvolvido do país. E os cariocas, para não ficarem atrás, elegem gente como Antony Garotinho, Eduardo Cunha e que tais.
Quer dizer. Nível econômico e educacional não significam, obrigatoriamente, inteligência e capacidade de discernimento. Na hora de escolher candidatos ninguém se pergunta se o indivíduo é honesto, se tem ficha limpa, se tem competência. É seduzido pelo que a mídia faz dele ou simplesmente pelas vantagens pessoais que ele promete ao eleitor em particular. E isso vale tanto para o bem informado paulista, carioca, paranaense, gaúcho, catarinense, que se gaba de morar nos estados do chamado “sul maravilha” quanto para os brasileiros que vivem no norte, no nordeste e centro-oeste, onde se diz que a única informação que se tem sobre os candidatos é a que o coronel da região leva para eles.
Lembro-me de uma história que o pai de minha falecida esposa contava. Ele foi prefeito de uma cidadezinha no interior da Paraíba. Toda noite ele se sentava na sua cadeira de balanço, na varanda da sua casa, e os habitantes da cidade faziam fila para conversar com ele. Era um par de botinas para um, uma enxada para outro, um emprego público para o filho de outro, um carro para levar o filho de outro para o hospital e assim por diante. E o coronel Rodrigues foi eleito várias vezes. Quando não era ele, elegia um parente. A história que ele me contou foi a seguinte: havia um coronel antes dele (não foi ele, isso ele jurava) que costumava fretar um ônibus para buscar os eleitores no dia da eleição. Trazia todo mundo para a fazenda dele e botava todos dentro de um curral. Ali ele oferecia um almoço para a turma. Depois pegava os títulos de eleitor de todos os sertanejos e só os devolvia á noitinha, depois que a eleição terminara. Na hora de ir embora, um ou outro caboclo perguntava para ele: “coronel, o senhor pode me dizer em quem que eu votei?”
Isso pode parecer engraçado, mas tem um alto custo. Políticos como Collor, Renan, Cunha, Barbalho, Maluf e outros da mesma laia já deveriam ter sido banidos da politica nacional há muito tempo. Não dá para calcular o prejuízo que gente como eles causam ao país. E nem o custo que o país terá que suportar para tirar esses pilantras do Congresso, se o nosso bolivariano Supremo Tribunal Federal  tiver vergonha na cara e decidir fazer o que o país todo deseja,  ao invés de continuar patroinando essa maldita herança dos currais.
Aliás, porque ainda mantemos essa indecência jurídica do foro privilegiado é uma coisa que não dá para entender. A ditadura já acabou. Não justifica mais a carapuça protetora que a Constituição dá a bandidos, vigaristas, estelionatários e ladrões, que se travestem de políticos para poderem roubar impunemente. O Supremo Tribunal Federal levou quase dez anos para julgar o Mensalão. A maioria dos condenados pegou pena menor que isso. Alguns deles, como Zé Dirceu, continuou delinquindo até quando cumpria pena. Com um sistema desses, não admira que a criminalidade no Brasil continue crescendo mais que o PIB da China e que mais e mais jovens e adolescentes queiram entrar para esse mercado. Ele garante bons rendimentos, status social e impunidade.

É o preço da nossa ignorância comprando um paraíso para malandros e advogados.