A Barganha
A gente escuta assim: "A presidente está mais preocupada em manter o seu mandato que em administrar o país". E podemos então perguntar, será que está errado?
O oferecimento do Ministério da Saúde ao PMDB, talvez o nível mais acintoso do oportunismo partidário no Brasil, pode ter o objetivo de aplacar tendências ao pedido de impeachment a ser acatado, como se presumia, pelo presidente da Câmara dos Deputados. De perfil mais do que conhecido, por estar sendo processado no STF, a exemplo do seu colega do Senado. E por estar chamuscado, ao que tudo indica, pelas labaredas do fogo em expansão da Operação Lava Jato.
Pode ter também o objetivo de fazer com que Eduardo Cunha passe a ser favorável à aprovação da CPMF. Como se administrar o país fosse apenas uma questão de aumento de impostos.
O Governo faz uso, portanto, do seu poder de compra. Sabendo, é claro, que os políticos, via de regra, se vendem. E prossegue no loteamento de cargos ou ministérios a procura de apoio para que consiga governar. Ou continuar no poder.
O Governo aproveita-se da redução do número de ministérios para oferecer os que forem mantidos aos partidos políticos que possam dar sustentabilidade ao mandato e viabilizar o ajuste fiscal com o qual espera reverter a situação caótica em que o país se encontra. Ou em que foi colocado. Dólar aumentando todo dia. Um mercado amedrontado.
É possível que alguém possa dizer que nessa pequena digressão encontram-se erros conjunturais ou mesmo estruturais. Jamais nela reconhecerão a tentativa de isenção. Só não se pode dizer, ou não se poderia, é que ela seja tendenciosa. Na medida em que não consegue omitir ou escamotear o principal instrumento político de que se valem os governantes – a barganha. Com o qual eles nada perdem. E o país também nada ganha.
Rio, 24/09/2015