VIVA A ARGENTINA
Em outros momentos da história nós já tivemos oportunidade de invejar os argentinos. Foi principalmente nas primeiras décadas do século vinte, quando Buenos Aires era considerada a Paris da América do Sul, e Carlos Gardel um dos artistas mais famosos do mundo. Naqueles áureos tempos a economia argentina apresentava altos índices de produtividade e o país dos “hermanos” era considerado uma nação de primeiro mundo.
Mas aí vieram os peronistas, com seu populismo demagógico e depois os militares, com sua arrogância castrense e a Argentina foi jogada na vala comum das republiquetas latino-americanas, de onde ela nunca mais conseguiu sair. Ficou só o orgulho portenho de ser um povo educado e sofisticado, o mais “europeu” dos povos deste lado do equador.
Mas uma luz parece ter acendido agora no fim do túnel argentino, com a derrota do partido da demagoga bolivariana Cristina Kirrchner. Ao que parece os argentinos tomaram juízo e estão rompendo com essa maldita herança caudilhesca que tem infelicitado a América Latina nestes séculos todos de vida independente.
Uma das indicações da direção que o novo governo argentino pretende seguir foi manifestada na intenção do presidente eleito de pedir a expulsão da Venezuela do Mercosul. Mesmo sabendo que ele não vai conseguir isso, a intenção merece registro. Ele não vai conseguir, primeiro porque as cláusulas do tratado não permitem e segundo porque o governo bolivariano de Nicolás Maduro tem aliados importantes nesse inútil acordo comercial de economias falidas. Todavia, como se disse, a intenção mostra a vontade de dar uma guinada importante na política latino-americana, presentemente dominada por essa praga ideológica que se espalhou pelo continente.
Um dos principais aliados do regime autoritário da Venezuela é o Brasil. Aliás, não tivesse o Brasil do Lula-Dilma apoiado a dupla Chaves-Maduro, esse regime de rufiões travestidos de políticos, que está levando o povo venezuelano ao desespero, já teria caído há muito tempo. Mas infelizmente o chavismo e o lulo-petismo parecem que comungam de DNAs muito semelhantes. Se pudessem, o Lula e a Dilma teriam feito no Brasil o mesmo que a dupla Chaves-Maduro fez na Venezuela.
Aliás, o projeto de poder do PT, que foi denunciado no Mensalão e está sendo agora desmontado na Lava a Jato, tinha o mesmo objetivo: chegar a um poder quase totalitário e coonservá-lo indefinidamente. A única diferença é que na Venezuela o projeto de poder do chavismo foi implantado á força e está sendo conservado pela polícia armada e pela corrupção. O chavismo prendeu os opositores, sufocou a imprensa, corrompeu a maior parte da classe política e montou um aparelho judiciário totalmente simpático ao regime. Transformou a Venezuela em uma ditadura disfarçada, que é mantida com violência e corrupção. No Brasil, o PT optou por uma via mais amena e menos suscetível de oposição, ou seja, a corrupção institucional. Isso, naturalmente, tinha uma razão bastante lógica: no Brasil a lembrança da ditadura ainda está bem presente. Muitas pessoas da geração que viveu esse pesadelo estão vivas e não querem passar por isso de novo.
Destarte, cooptar juízes nos tribunais superiores, comprar políticos corruptos e transformar as estatais em fontes de financiamento das campanhas é mais fácil e seguro do que prender opositores, calar a imprensa e mandar a polícia bater em manifestantes.
Chaves e Maduro sempre tiveram a simpatia dos petistas. Mais não fosse, Maduro tem a mesma origem de Lula, o sindicalismo. Comungam de ideologias muito parecidas. E se o Brasil ainda não se transformou em uma grande Venezuela, é porque aqui, bem ou mal, as instituições estão funcionando.
Mas não podemos relaxar. O populismo demagógico da esquerda autoritária ainda tem muito poder de fogo. A máquina de corrupção montada nestes treze anos de governo petista ainda está muito ativa.
Saudamos o povo argentino pela opção feita. Torcemos para que os venezuelanos consigam também, nas eleições que se avizinham, sacudir esse incomodo jugo que o chavismo colocou sobre seus ombros. E que nós, brasileiros, possamos igualmente, o mais cedo possível, virar essa página de atraso, obscurantismo e enganos que nós mesmos abrimos há treze anos atrás, e que agora só nos causa pesadelos.
A Argentina acordou. E nós. Até quando vamos ficar nesse pesadelo?