Para que servem os políticos?
Num ritual que se repete anualmente há mais de 500 anos, o monarca participa da cerimônia de abertura do ano legislativo no parlamento britânico, em Londres. Essa carga de simbolismo demonstra um estreitamento dos laços de coesão e independência entre os poderes, fazendo com que a governabilidade seja colocada em primeiro plano dentre as prioridades dos representantes do povo. Nos países asiáticos é fato comum o político tomar medidas extremas quando flagrado em alguma traquinagem no exercício do cargo, chegando a atentar contra a própria vida ante a exposição pública de acontecimentos desabonadores.
Já no Brasil, infelizmente, os fatos mostram que os sentimentos dos políticos com relação à probidade e retidão no trato com a coisa pública são diametralmente opostos aos colegas europeus e orientais. Nossos representantes usam e abusam de subterfúgios, dos mais inusitados possíveis, quando resolvem satisfazer seus exclusivos interesses (ganha um picolé quem adivinhar suas verdadeiras intenções). Aliás, por tudo o que se divulgou ultimamente sobre o assunto, está cada vez mais difícil vislumbrar resquícios de virtudes nessa classe (inexplicavelmente contemplada com inumeráveis privilégios), salvo raríssimas exceções, pelo menos até o momento em que novas denúncias de corrupção vierem a atingir aqueles portadores de suposta conduta ilibada. Mesmo com evidências consideradas irrefutáveis, certos parlamentares tupiniquins (acometidos pela síndrome de Pinóquio) persistem em mascarar a verdade dos fatos, talvez por imaginarem o eleitor permanentemente fragilizado por severa deficiência auditiva e visual, além da recorrente amnésia política (essa sim, comprovada a cada novo pleito eleitoral).
Quando os indicativos econômicos são favoráveis, tudo anda às mil maravilhas entre os corredores do poder na terra do futebol e do carnaval. A não ser pelas tradicionais picuinhas regionais e algumas discrepâncias naturais de origem ideológica, com o vento soprando a favor, as dificuldades são superadas sem maiores consequências. A necessidade em ocupar os espaços disponíveis (leia-se indicação dos apadrinhados para os incontáveis cargos na máquina administrativa) fala mais alto e o tempo urge quando o assunto é repartir o butim. Agora que o caldo periga entornar de vez, a sociedade passa a ser testemunha ocular da maior roubalheira da história da República. São tantas denúncias que não se consegue mais separar o joio do trigo, se é que eles realmente possuem entre si alguma diferença passível de visualização a olho nu.
Em meio ao turbilhão de escândalos regados a recursos públicos, se faz necessário suscitar debates no intuito de, pelo menos, identificar as causas e possíveis soluções para a crise ética e moral que tomou conta dos políticos desse País. O questionamento maior é óbvio, mas relevante: afinal, para que servem os políticos? Da maneira como se comportam, a propensão em se dar crédito ao ditado popular “enquanto os políticos dormem, o Brasil cresce” é plausível. Essa é uma constatação por demais simplista, porém pertinente. Haveria o eleitor de acordar de vez para a situação crítica em que se encontra a nação e deixar de votar em político mal intencionado. Mas conhecendo bem a índole extremamente condescendente do brasileiro, sabe-se com toda propriedade que uma parcela significativa dos parlamentares atuais será reconduzida ao cargo nas próximas eleições. Com ou sem denúncias de corrupção. Pesando sobre eles suspeições de toda espécie, confirmadas ou não. São os detentores do poder, nele se agarram com unhas e dentes e dele se locupletam continuamente,sem qualquer tipo de escrúpulo. E o povo? Para os pobres mortais sobram os aumentos constantes de impostos, o caos nas intermináveis filas dos hospitais públicos, as vias públicas sempre mal conservadas, a violência crescente acuando as famílias de bem, o desemprego em alta, a recessão batendo à porta do empresariado, a inflação corroendo diariamente os salários... Então, para que servem mesmo nossos políticos?