A EPIDEMIOLOGIA DO RETROCESSO SOCIAL

Nenhuma doença é um acontecimento isolado e, portanto, sempre se relaciona com várias conexões do meio.

Qual num “dial”, sob fino ajuste de várias mãos às várias freqüências de ondas possíveis, nos seres humanos todo processo saúde/doença é extremamente complexo e nem sempre bem definido o seu tempo de progressão e estabilização para o “status quo” doentio.

A epidemiologia, resumidamente, é a ciência que estuda a co-relação de todos os fatores do meio que contribuem como agentes causadores deflagradores e/ou mantenedores das doenças nele desenvolvidas, bem como estuda a prevenção do processo de doença e a promoção da saúde “senso lato”.

Saúde por sua vez, individual ou coletiva, também é um processo extremamente dinâmico e relativo ao meio, e num conceito metafórico, é uma perene brilhante estrela de cinco pontas: as do bem estar físico, psíquico, social, ambiental e espiritual: a que nunca deveria ser apagada pelo processo de doença.

Cabe-nos cuidarmos da nossa estrela magna e...brilharmos juntos!

Portanto, se nos fixarmos estritamente nesse conceito amplo de saúde e de como se ser saudável no todo, conceitualmente poderíamos afirmar, sem medo de errar, que hoje somos um batalhão planetário de seres doentes, posto que a doença de alguma forma, em qualquer lugar do cosmo, já nos surge no desequilíbrio entre luz/escuridão, e a nossa estrela maior pode entrar em "curto" a qualquer momento, a apagar defnitivamente uma das suas brilhantes pontas, em decorrência de vários fatores epidemiológicos.

Aqui, todavia a intenção de meu ensaio é repensar a epidemiologia do retrocesso social.

Do nosso? Pode ser.

O nosso é bem didático pela figuração surrealista.

Embora validado está meu pensamento para qualquer lugar do planeta aonde as doenças sociais correm soltas...sem solução.

Como fazemos DOENÇAS COLETIVAS?

A exemplo, recentemente no Brasil , fomos surpreendidos por um “surto” de microcefalia, uma teratogenia que poderia ser desencadeada por uma gama de fatores do meio.

Ainda se pesquisa os porquês.

Ora, convenhamos, não é fácil se fazer um surto de microcefalia, é preciso até um certo “talento” para tal.

É preciso um conjunto de mãos para se ajustar orquestralmente o “dial saúde -doença” em várias etapas do seu processo de evolução para culminarmos com uma trágica doença coletiva, suspeita de etiologia sequelar infecciosa pelo ZIka vírus, um agente "zicante " e cujo vetor é o nosso conhecido Aedes Aegypti, que inclusive transmite a Dengue a Chikungunya e a Febre Amarela.

Dá até para se escolhera doença bem democraticamente, ao gosto do freguês!

Todas as medidas sanitárias coletivas que controlam o mosquito evitam as doenças, parece simples, mas não o é.

No caso da microcefalia, se constatada a participação do Zika vírus, o adoecimento acontece em cascata: falta de compromisso político com o social, negligência sanitária, acúmulo de todo tipo de lixo urbano que passa a ser moradia de ratos, insetos vários e mosquitos.

Com o fermento explosivo da não gestão otimizada, deseducação e desinformação, aliados que promovem desastrosos IDHs (índice de desenvolvimento humano cada vez menor) o mosquito prolifera, alberga o vírus, pica a população bem carinhosamente em massa e , quando não a dizima sempre por milagre, nela deixa sua cicatriz do abandono registrada para todo o sempre:na microcefalia, o dum futuro amputado.

É assim ocorre com as demais doenças coletivas de etilologia “sócio- política-negligencial”.

Adoecemos socialmente há muito tempo, aqui e no planeta, e tal não é novidade alguma para quem tenha um mínimo de senso sobre o que é uma sociedade saudável.

Descrever epidemiologicamente o complexo processo que nos fez adoecer por aqui seria um "compêndio sócio-político-filosófico-antropológico" que não caberia no meu texto.

Tentarei dar um laço no meu pensamento com perguntas e respostas.

Como se faz doenças sociais?

-Com o abandono do social.

Como se abandona o social?

-Não priorizando o essencial na gestão do social.

Como não se priorizar o essencial na gestão do social?

- Falindo as políticas públicas.

Como falir as políticas públicas?

-Mediante o “faz - de -conta” de se fazer políticas públicas.

Como fazer o “faz-de-contas” das políticas públicas?

- Só discursando...mesmo discursos desconexos.

E como só discursar discursos desconexos sem que ninguém perceba? -Amputando o pensamento.

E como amputar o pensamento?

–Aniquilando as referências ao aniquilar a educação.

E como se aniquila a educação?

– Invertendo os pétreos valores humanitários...e deseducando.

E como se inverter os pétreos valores humanitários deseducando? -Implementando a “robótica-politica” pelo populismo.

E como se implementa a “robótica política” pelo populismo?

- Vendendo fantasias e doando um popular celular com HI-FI gratuito.

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E como se vender fantasias pelo HI-FI gratuito?

-Comprando votos de pseudo “auto-estima”.

E como se compra votos de “pseudo auto-estima?

-Montando circos sob tendas das necessidades e da vitimização.

E como se monta circos sob tendas das necessidades e da vitimização?

-Flagelando a sociedade.

E como se flagela a sociedade?

-Plantando violências sociais.

E como se planta violências sociais?

-Segmentando o social.

E como se segmenta o social?

-Implementando o ódio e a injustiça social.

E como se planta o ódio e a injustiça social?

-Corrompendo os sentidos da razão.

E como se corrompe os sentidos da razão?

-Hipnotizando a emoção.

E como se hipnotiza a emoção?

-Criando dependências programáticas.

Como se cria dependências programáticas?

-Gerando carências trágicas e perenes.

E como se gera carências trágicas e perenes?

-Adoecendo o meio.

E como se adoece o meio?

-Adoecendo toda a sociedade...

E COMO ADOECER PROGRAMATICAMENTE UMA SOCIEDADE POR INTEIRO?

Epidemiologia setorial:

NA POLÍTICA: criando necessidades sociais para trapacear facilidades eleitorais nos projetos narcísicos de poder. Matando a ética. Atropelando a Constituição. Amputando o futuro na desvalorização de projetos de crescimento social. Corrompendo os costumes. Desgovernando o todo para governar para si mesmo..

NA SAÚDE: promovendo doenças de toda sorte, inclusive as EVITÁVEIS, através da negligência com o SER no seu MEIO. Não amparando a doença e a deixando à própria sorte.

NA EDUCAÇÃO: criando-se batalhões de analfabetos, inclusive analfabetos políticos funcionais ao se ceifar a crítica do pensamento.

NO ESPORTE: desaprendendo a vencer em todos os campos SOCIAIS prioritários por desamor à camisa da Pátria.

NA JUSTIÇA SOCIAL:estreitando a distribuição de renda e implementando ódio social de classes.Segmentando direitos de todos os IGUAIS, sempre a gerar mais diferenças.

NA JUSTIÇA SOBERANA DOS HOMENS:promovendo conflito de interesses do INALIENÁVEL. Furtando a consciência do justo poder em nome do bem estar do todo...gerando risco de insegurança jurídica ao social.

NO TRABALHO: promovendo desempregos e subempregos de BAIXOS SALÁRIOS, incompatíveis com a vida digna, com desvalorização das conquistas dos direitos trabalhistas adquiridos historicamente..

NOS DIREITOS HUMANOS:na total desvalorização da vida e no tudo de dignidade pertencente ao Homem. Transformando direitos em moedas de troca politiqueira. Abandonando as prioridades da infância, a da senilidade, o planejamento familiar e a recuperação digna da delinquência.

NA HABITAÇÃO: criando-se batalhões de lares de rua.

NA SEGURANÇA: mantendo-se guerrilha civil perene, explícita e insustentável, negligenciando fronteiras, gerando pânico social e pandemia de mortes precoces por causas externas.

NO MEIO AMBIENTE: promovendo mares de lixos e lamas com devastação dos biomas vitais.

NA ECONOMIA: promovendo desindustrialização, défict infraestrutural, queda do PIB, estagflação,corrupção sistêmica da soberania nacional, com crônica lesão do Erário, com descrédito financeiro interno e internacional, com fuga de capital e aumentos INSUPORTÁVEIS de IMPOSTOS sobre o trabalho do povo..E claro, gastando o dinheiro do povo sem critério de crescimento sustentável, com rendas e fricotes em discursos em over doses.

Concluo enfatizando que, depois de estabilizado o cruel processo do circulo vicioso da epidemiologia super bem programática do retrocesso social , instala-se a GRAVÍSSIMA DOENÇA SOCIAL, a que avançará sem limites, com poder canceroso metastático, vencendo todo o equilíbrio do complexo “dial” saúde/doença, sempre desencadeado e ajustado a muitas mãos!

E como, por aqui, já se trata do aniquilamento do bem estar social em massa, a doença se estabiliza coletivamente depois atuados todos os seus agentes promotores, estabilizadores, mantenedores e perpetuadores do CAOS, e o mais enigmático, SEM QUE NINGUÉM RESPONSÁVEL SAIBA DE NADA do caso, no caso, do PORQUÊ O PAÍS ADOECEU, a nos atestarem perenemente que estamos todos saudáveis.

Lembrando que atestar falsa saúde, ainda que coletiva, não é ato legalizado.

Apagada as cinco pontas da estrela SAÚDE, diagnostico que estamos em amplo BLACKOUT, COLETIVAMENTE doentes.

Sair da doença para um status de plena saúde será “mais difícil do que um camelo passar pelo buraco duma agulha”.

Nem com mais e todo o mais dos “mais médicos de todo o planeta mais!”

Depois de se caminhar pela vida tão adoentada, negligenciada e humilhada, o que nos resta?

Decerto que APENAS nos restará caminharmos para a morte coletiva já anunciada, pelas ruas e pelas calçadas.

Conclusão:

Já não nos será possível ser constelação de saudáveis estrelas brilhantes em meio a um céu tão obscurecido de tudo.

Entenderam a dura e doentia poética da EPIDEMIOLOGIA DO RETROCESSO SOCIAL?