A GESTÃO HERALDO GADELHA

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

A única coisa ruim do planejamento é que as coisas nunca ocorrem como foram planejadas.

Lúcio Costa

A administração do prefeito Heraldo da Costa Gadelha foi voltada para o social, investiu muito em fazer favores à população carente de Santa Rita. Isso já era sua marca de fazer política desde os tempos de vereador, secretário municipal e deputado estadual, antes de ser prefeito. Católico praticante, assistia missa todos os dias, só deixou de assistir a missa todos os dias quando descobriu que os padres Mauricio e Paulo, sucessores de Monsenhor Rafael de Barros, na paróquia, discordavam de sua ideologia política no município, porém, jamais deixou de ser católico e ponto final. Foi nessa época em que nasceu o Conjunto dos Pobres, que depois passou a ser chamado de “Conjunto Nova Esperança”, mediante projeto de lei do vereador Francisco Aguiar, tendo em vista a parceria tácita da Prefeitura Municipal de Santa Rita, celebrada com dona Lili Santiago, senhora de boa índole, então proprietária do referido terreno, através da permissão gratuita a quem entendesse “marcar” um terreno foreiro e construir sua casa na referida área, sem nada pagar a prefeitura local em termos de licença e carta de habite-se. Foi um verdadeiro mutirão social em favor da casa própria a referida gestão. Surgiram os centros sociais com a proteção e ajuda da edilidade santaritense, onde foram ministrados os primeiros cursos de artes domésticas: pinturas, bordados, crochês, corte costura, padaria, confeitaria, etc., além dos primeiros postos de saúde, envolvendo enfermagem, medicina e odontologia nos quatro cantos do município de Santa Rita. O Posto de Saúde Ceslau Gadelha, por exemplo, funcionava à Rua Terêncio Ferreira, no Bairro Popular, onde atualmente funciona uma associação, era administrado pelo enfermeiro prático José Bonifácio, antigo dono da Farmácia Santa Rita, que ele vendeu ao casal Fernando e Francisquinha Carvalho, de saudosa memória, na Praça Antenor Navarro, de frente ao mercado central. Eclodiu no Brasil em 31 de março de 1964, a Revolução Militar, muitos dos líderes comunitários e políticos de Santa Rita foram presos durante meses e dias, tudo porque não eram adeptos da ideologia do Presidente Humberto de Alencar Castelo Branco, que implantou o regime ditatorial no país da bossa nova, ideologia sonhadora dos tempos de JK, o presidente que construiu Brasília-DF. A onda de boatos dos adversários do prefeito Heraldo Gadelha, do PSB, cuja liderança era inconteste e o povo simples o chamava de o “Fidel Castro da Várzea”, era grande, tinha gente fazendo promessa com Deus e com o Diabo para que o Regime Militar/64 cassasse os direitos políticos do referido prefeito, haja vista que ele contestava o comportamento do patronato da agroindústria, representado pelos senhores de engenhos daquela época, onde explorava a mão de obra dos camponeses da região da várzea do Paraíba, sem pagamento do salário mínimo, carteira profissional assinada no campo, férias remuneradas, salário família e 13º salário, dentre outros direitos. Era a principal bandeira do heraldismo até então. O povo vivia feliz e não sabia. O funcionalismo público municipal teve durante sua administração reajuste salarial anual significativo, acima da infração, além de pagamento mensal aos funcionários, prestadores de serviços e fornecedores, segundo calendário mensal fixado. Foi em sua administração elaborado o projeto de construção do Estádio Municipal Independência, que seria edificado na área existente entre as atuais ruas: Horácio Carneiro, Paraíba, São José e São Pedro, no Bairro Popular. O sonho não saiu do papel por falta de recursos próprios e de verbas estaduais e federais para tocar o grande empreendimento sonhado por nossa população. A sua administração proibiu a venda de carne estragada de origem animal e seus derivados, isso foi um Deus nos acuda, questão de vida e morte entre comerciantes de tais produtos e sua gestão, tendo em vista que todas as carnes e demais mercadorias do gênero, eram examinadas pela Vigilância Sanitária Municipal, antes de ser colocada a venda para a população. O Mercado Central de Santa Rita era fechado aos domingos, o povão criou a feira do rala-bucho, localizada entre a linha férrea e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. A população santaritense sofria pela falta de água nas torneiras para consumo humano, a gestão heraldista encampou a luta, inclusive construiu vários chafarizes de pedra e cal nas ruas principais dos bairros existentes, a exemplo do Bairro Popular e do Bairro do Cercado, atual da Liberdade, para que a população tirasse água para seu consumo, foi aí que apareceu a oposição ferrenha e sistemática denunciando e criticando o prefeito, afirmando de que nem um certo anão, então morador da cidade cresceu, nem o prefeito Heraldo Gadelha fez o chafariz de leite funcionar, parodiando o termo água que fora colocada à disposição da população carente em regime emergencial temporal. Envolveram o “anão”, nessa conversa porque o anão era tocador de sanfona e que ele e seus pais compareciam aos comícios de Heraldo Gadelha, com sua sanfona, tocava e usava da palavra em solidariedade ao referido líder. No seu governo ainda foram distribuídos livros, cadernos, fardamentos e merenda escolar de qualidade para todos os estudantes da rede municipal de ensino. Teve inicio em sua passagem pelo governo municipal a educação de jovens e adultos, através do programa Cruzada ABC, precursora do Mobral. Iniciou o processo de qualificação de professores, para substituir os chamados professores leigos e ou sem diplomas para o exercício do magistério. Fez realizar desfiles cívicos escolares com todas as honras e pompas possíveis. Substituiu todos os postes de pau da rede elétrica municipal por postes de cimento, introduziu fiação elétrica adequada, iluminou todas as ruas e praças até então existentes. Calçou com paralelepípedos a rua da Independência no Bairro da Liberdade, o largo do Mercado Central, a rua Flávio Ribeiro, indo até a frente do Cemitério Santana, que tambem foi reformado depois de mais de trinta anos de construído pelo prefeito Edgar Saeger, na década de 30 do século XX. Calçou também com paralelepípedos, pouco mais do que cinqüenta metros do calçamento da rua professor Severo Rodrigues, no trecho da rua Minas Gerais até a frente da Escola Municipal Santo Antônio, atual Biblioteca Dr. Otávio Amorim, no Bairro Popular. Manteve a quebra resguardo e ou Filarmônica São José, que era usada quando de suas inaugurações de obras públicas e recepções a autoridades ao nosso município. Naquele tempo não existia FPM – Fundo de Participação Municipal, o FUNDEB para manter o sistema municipal de Educação, bem como o SUS – Sistema Único de Saúde, tudo era bancado as expensas do erário municipal. Foram mantidos os amparos sociais no tocante a distribuição remédios a quem necessitasse. Foram realizadas mais de 1.300 cirurgias, todas pagas com dinheiro público pelo referido prefeito. Ordens de retratos para documentos, registros de nascimentos, atestados de óbitos e caixões de defuntos para sepultamentos aos carentes. Foi no nesse período, que chegaram a Santa Rita as Irmãs de Caridade da Holanda, que assumiram a gestão administrativa da Fundação e Hospital Governador Flávio Ribeiro Coutinho, época em que o Governo Municipal firmou convênio de parceria para atendimento a toda população carente do município, mediante subvenção mensal. Intermediou a doação do terreno onde as Irmãs de Caridade de Holanda construíram a Escola Doméstica Maria Santiago, inclusive fez parceria e forneceu professores por conta do município para lecionar no referido educandário a nossa juventude. O município desapropriou, comprou, pagou e doou a CEHAP – Companhia de Estadual de Habitação da Paraíba o terreno onde foi edificado o Conjunto Tibiri I na sua gestão. O primeiro telefone público municipal no Bairro Popular, foi instalado na residência da senhora Didiu Paiva, à rua professor Severo Rodrigues, esquina com a rua Castelo Branco. Vale salientar de que durante décadas aquela funcionaria telefonista prestou grandes serviços em nome do município a nossa gente nas horas de suas necessidades em querer se comunicar com o mundo pedindo socorro para chamar a ambulância, por exemplo. Ajudou integralmente a fundação e instalação do Centro Social João XXIII, coordenado pelas Irmãs de Caridade da Holanda, recém chegados em nossa terra. A assistência social era uma constante na vida de que precisava qualquer tipo de ajuda para fazer o bem sem olhar a quem.

Enfrentou as baionetas do regime militar e não se envolveu com a Arena, o partido da situação, preferiu ficar no MDB, partido da oposição ao novo regime, não aderiu aos encantos do poder advindo do Regime Militar/64. Quase todos os seus antigos correligionários de PSB aderiram a ARENA, partido da situação federal e estadual. Ficou praticamente sozinho para gestar a coisa pública com sua personalidade forte de não querer receber conselhos de ninguém, tendo em vista que sabia onde queria permanecer e permaneceu até o fim do mandato de prefeito. O lema principal da administração populista de Heraldo Gadelha, era afirmar de que os usineiros não queriam ver os filhos dos pobres formados doutores, porque filho de pobre era para trabalhar na palha da cana de açúcar. Ele tinha essa visão porque foi vítima nas mãos dos seus antigos correligionários da UND, quando pretendeu ser candidato a deputado estadual pela referida legenda foi preterido. E só se formou em direito porque enfrentou todas as diversidades possíveis a si apresentadas. O povão sempre acreditou nesse chavão: “advogado dos pobres”, se referindo ao líder populista local. Assim sendo, ainda nos tempos de estudante na Faculdade de Direito de Alagoas, Heraldo Gadelha deixou de propósito que a barba crescesse e resolveu ingressar na vida pública, tendo exercido dois mandatos de vereador à Câmara Municipal de Santa Rita pela UND, de dois mandatos de deputado estadual à Assembleia Legislativa da Paraíba e o mandato de prefeito, eleito em 11 de agosto de 1963, tomou posse e administrou o município até 31 de janeiro de 1969, quando passou a cadeira de prefeito para o antigo correligionário do PSB, agora adversário político, Antônio Aurélio Teixeira de Carvalho, eleito prefeito pela segunda vez, agora pela Arena – Aliança Renovadora Nacional, inclusive com a bênção do Palácio do Planalto, do Palácio da Redenção e de Renato Ribeiro Coutinho, representante oficial dos usineiros e senhores de engenhos de Santa Rita e da Paraíba.

Outrossim, mencionamos de que durante a gestão de Heraldo Gadelha, a frente do Poder Executivo Municipal de Santa Rita, o Brasil mudou o rumo da história nacional deixando de ser democracia e passando a ser governado pelo regime militar, proveniente do Golpe de 31 de março de 1964, quem descordasse de tal regime era preso, processado e em muitos casos desaparecidos até a presente data. A partir de então, os presidentes da República passaram a ser eleitos pelo Colégio Eleitoral, constituído pelos membros do Congresso Nacional. Em 1965 o eleitorado da Paraíba elegeu pelo voto direto, por tolerância do novo regime, o governador João Agripino Filho, candidato ligado aos chefes revolucionários, tendo como adversário o senador e ex-governador Ruy Carneiro, que perdeu a eleição a nível estadual, porém, graças à liderança do prefeito Heraldo Gadelha/PSB, o mesmo saiu vitorioso em Santa Rita. Assim sendo, o sucessor de João Agripino, o governador Ernani Satyro, já foi eleito pela Assembleia Legislativa do Estado, indiretamente por indicação do Palácio do Planalto, candidato único. Era o Regime Militar sendo consolidado em sua plenitude na gestão nacional.

No dia 15 de novembro de 1966 realizaram-se eleições diretas para Senador, Deputado Federal e Deputado Estadual no Estado da Paraíba. Vale relembrar de que nesta eleição participaram como candidatos a deputado estadual: Ceslau da Costa Gadelha Filho, irmão do então prefeito Heraldo Gadelha, foi o mais votado de Santa Rita, porém ficou suplente e Egídio Madruga, foi eleito mais uma vez e pelo partido do governador eleito, tendo em vista que recebeu mais sufrágios em Taperoá, Sapé, Cruz do Espírito Santo, dentre outros municípios. Era assim o rame-rame da política santaritense, conforme o resultado final estadual daquele pleito.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 31/10/2015
Reeditado em 15/06/2019
Código do texto: T5433652
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