Greves

Greves

Publicado em Globo de 26/10/2015

A greve é um inegável direito de defesa dos trabalhadores, conquistado à duras penas nos últimos dois séculos.

As primeiras greves, ainda no sec.XIX, eram movimentos de radical protesto para forçar aos patrões aceitarem as reivindicações, quase sempre justas, dos trabalhadores: melhores salários, condições saudáveis de trabalho, redução das jornadas, direito ao repouso semanal e férias remuneradas, e mais recentemente benefícios vários tais como planos de saúde, vale refeição, auxílio adicional nas aposentadorias, etc.

As empresas em greve, não produzindo e vendendo, seus donos passavam a ter prejuízos. Uma parcela pequena da população era pouco afetada pelas greves, deixando, por algum tempo, de usufruir daqueles produtos ou serviços que poderiam ser substituídos por similares, existentes no mercado. Estabelecia-se, então, a negociação e os trabalhadores ganhavam experiência de luta e alguma coisa de suas reivindicações. As leis de proteção ao trabalhador foram surgindo.

Mas agora, no Brasil em particular, vemos uma perigosa banalização deste poderoso instrumento de luta dos trabalhadores, com greves freqüentes nos serviços públicos e na prestação de serviços essenciais, oferecidos por empresas particulares. Nas suas origens, como vimos, a greve destinava-se a intimidar e prejudicar os patrões – não a população de uma cidade, região, muito menos do país inteiro. Serviços públicos, oferecidos pelo Estado ou pela iniciativa privada, não podem entrar em greve, a não ser em casos especialíssimos. Correios, bancos, lixeiros, transportes, segurança publica, bombeiros, saúde publica e educação, por mais justas que sejam suas reivindicações, não tem o direito de penalizar uma população, na sua maioria também sofrida, que muito pouco pode fazer para que os grevistas sejam atendidos.

Não é justo. Não é lógico, pois o Estado ou as grandes corporações privadas, como os bancos, por exemplo, estão pouco se importando com as greves. As greves não os afetam com a intensidade imaginada, pois continuam com seus negócios com a ajuda da cada vez mais diversificada e disponível tecnologia, disponibilizadas pela informática.

Agindo desta maneira os sindicatos, já esvaziados pelo crescente desemprego, vão perder o apoio da população, tão necessário para as lutas futuras que ainda virão. Preparem-se os trabalhadores para, em muito pouco tempo, lutarem contra os “robôs”, (novas tecnologias), que não fazem greve e que já começam a tomar, sem que se perceba, expressiva parcela dos postos de trabalho, em todo o planeta.

Os políticos, os parlamentares medíocres ou corruptos na sua maioria, são os responsáveis por esta situação a que estamos chegando.

Eurico de Andrade Neves Borba, 75, aposentado, escritor, ex professor da e Vice Reitor da PUC RIO, ex Presidente do IBGE, mora em Ana Rech, Caxias do Sul.