CARTA AO PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
Exmo. Sr. Presidente da Câmara dos Deputados Federais
Deputado Eduardo Cunha
Sem nem mesmo me apresentar, inicio dizendo ser crença minha o fato de que todo político brasileiro, ao receber correspondência de desconhecidos, pense sempre em uma das três hipóteses: 1) “estão se queixando de alguma coisa” 2) “estão me pedindo alguma coisa” ou 3) “vieram me dar conselhos”.
Não sei como lhe fazer acreditar que não me encaixo de maneira perfeita em nenhuma das hipóteses que mencionei, mas não me ofenderia se quisesse o senhor incluir-me na última delas.
Poderia muito bem continuar o texto dizendo que “sou médico em Porto Alegre”, “que fui perseguido” que a “esquerda destruiu o Brasil”e por aí vai. Nada disso me interessa, senhor deputado. Venho para escrever sobre o Brasil, sobre a Presidente da República e sobre o senhor. Dos três temas citados, só me interesso pelo Brasil – o senhor e a presidente da República vem depois...muito depois, mas mesmo assim não posso deixar de mencioná-los haja visto que, neste momento, reside no resultado do “duelo” entre vocês o destino da própria Nação.
Preocupa-me, e muito, uma recente declaração sua dirigida à oposição em que diz o senhor o seguinte: “se eu derrubo Dilma agora, no dia seguinte é vocês que vão me derrubar”.
Sobre esta sua declaração, afirmo o que segue: subscrevo cada letra dela. Acrescento, todavia, com sua licença, uma impressão muito minha ao lhe dizer que o senhor vai “ser derrubado” de qualquer jeito e que, no seu lugar, não pensaria em como permanecer no poder; mas em como voltar. O senhor é um político; eu não: é função sempre sua “pensar na frente” mas perdoe-me aqui o “raciocínio clínico” e a invocação de um conceito médico conhecido por qualquer leigo e que chamamos de “prognóstico” - Seu prognóstico é ruim, deputado, e quanto mais rápido o senhor o aceitar, mais fácil será chegar às conclusões que a partir de agora passo a lhe expor: tanto o senhor quanto Dilma Rousseff vão “cair”, mas o senhor tem a escolha de poder voltar; ela não. Afaste-se, se quer preservar seu futuro político, de qualquer acordo com marginais petistas mesmo que seja, o senhor mesmo, um marginal. Pouco me interessa se o senhor é ou não alguém capaz de conviver em sociedade e que obedeça à Lei, mas interessa-me o fato de não ser petista. Eu, como todo brasileiro, espero que o senhor compreenda que a Nação não tolera mais Dilma Rousseff na presidência da República, que ela precisa cair, que o destino DELA está nas suas mãos, que não interessa ao Brasil que suas mãos estejam sujas ou não, mas que o senhor pode “lavá-las” fazendo aquilo que todos esperamos ao aceitar o pedido de impeachment redigido pelo Dr. Hélio Bicudo. Se o fizer, pode ser que a oposição no Congresso não lhe perdoe os erros e que o senhor pague com seu mandato mas, acredite-me senhor deputado, o povo brasileiro, se tem uma capacidade imensa para esquecer daqueles muitos políticos que lhe fizeram mal, tem uma disposição única para recordar os poucos que atuaram pelo bem da Nação. Tanto Dilma quanto o senhor podem cair, senhor presidente. O senhor pode voltar nos braços do povo; ela não. Pense nisso.
Cordiais Saudações,
Milton Pires.
Médico
Porto Alegre - RS