Ideias Pertinentes
Chega um dia um e-mail. O seu desdobramento nos leva a uma apresentação do carismático Leonel Brizola numa edição do Programa Roda Viva, em 1994. Sabemos que, para alguns, isso nada significa, mas para outros pode valer à pena a reprodução de alguma coisa que ele disse (entre aspas):
“Os que comem bem, dormem bem e possuem belas residências” – isso não é do Brizola, mas do Mujica, presidente hoje do Uruguai, mas se aplica – desejam “manter o poder, para poderem manter” (do Brizola) essa exclusividade.
“A delinquência no Rio é juvenil”. Lembramos da Beth Carvalho dizendo que é difícil achar um garoto para tocar repique, tarol ou tamborim na bateria do bloco ou escola de samba porque ele deve estar ocupado, portando um AR15 na boca de fumo.
Portanto, “o sistema educacional está na raiz da violência”.
“Durante o Governo Moreira Franco no Rio, deu-se o extermínio de 30 mil jovens... pobres”.
A juíza Denise Frossard pode mandar para a cadeia conhecidos bicheiros a partir de um “processo constituído durante o Governo Brizola”.
“O Estado é o que estrutura a vida de todos. Há que se ter um Estado forte. Mas é preciso que defendamos a racionalização do Estado. É necessária a presença do Estado sempre que houver a necessidade de se defender a economia brasileira".
“Uma nação precisa defender as suas fronteiras”. Estão falando agora na progressiva ocupação estrangeira em áreas de Rondônia.
“A Petrobrás não deve ser privatizada. Ela não é um monopólio. O pior é o monopólio privado” neste setor.
“Concentração de capital é coisa de privatização”.
“O Lula é a espuma da história. Ele não se aprofundou. É a mesma coisa que o FHC, só que o FHC veio por cima, e ele, por baixo. Mas vão ambos executar a política neoliberal. Lula é inexperiente e não gosta muito de trabalhar”.
Podemos evidentemente discordar de alguma forma, ou, se quiserem, de uma forma total, do que está entre aspas. Incluindo-se o que se atribui ao presidente do Uruguai. A política neoliberal do Lula, de certo modo continuação do que foi implantado pelo FHC, com possíveis origens lá no Itamar Franco, vem dando resultado. Parece que os índices de desemprego diminuíram, que houve melhoria no nível de vida da população de baixa renda, o país tem hoje presença mais consistente no cenário internacional, etc. Quando conversamos com pessoas que residem na Baixada Fluminense ou nas regiões periféricas do Rio ou de cidades da Região dos Lagos, os depoimentos que recolhemos são no sentido de que tudo melhorou. Agora podemos comprar geladeira, TV, computador, ainda que em muitas prestações, mas podemos. Até carro. Sem falar que os índices inflacionários permanecem, de algum modo, contidos.
No entanto, se a política neoliberal pode ajudar aos mais necessitados, ela nunca vai deixar de favorecer aos setores mais abastados da burguesia. É só verificar a presença imensurável dos bancos em nossas vidas e os lucros sempre progressivamente expressivos do sistema bancário no país. E se por acaso alguns deles enfrentam dificuldades, surge logo o governo para socorrê-los. O que, por sinal, acontece no mundo todo.
Se, como disse Brizola, a delinquência no Rio de Janeiro é basicamente juvenil, é aceitável concluirmos que “o sistema educacional está na raiz da violência”. Embora possamos admitir outros vetores, tais como a fome, os bolsões de pobreza e a própria densidade demográfica, com peso maior nos centros mais urbanizados.
De qualquer forma, não será ilícito admitirmos como genéricas essas ideias do Brizola, selecionadas a partir de uma edição do programa Roda Viva. O que importa, contudo, é verificarmos a pertinência delas nos dias que agora vivemos. E concluirmos, ainda que genericamente também, que elas não estão muito apartadas da situação atual.
Rio, 22/03/2013