OS DEMÔNIOS DO NIETZCHE
Ás vezes acordo com o velho demônio do Nietzsche soprando no meu ouvido: “ hás de viver por toda a eternidade esse mesmo momento.” Talvez esse seja um mal de quem consegue chegar á terceira idade. Quem vive tanto tempo sempre tem a impressão que já viveu o mesmo momento muitas vezes Se a teoria da morte (ou vida quântica) fosse mesmo verdadeira, eu até acreditaria que esse mito insensato que o irascível filósofo alemão lançou no espaço para perturbar as mentes desocupadas que nada mais fazem do que ficar especulando de madrugada, esse seria um fato incontestável. Se não for, é a minha mente que está me pregando uma peça, fazendo-me voltar, por exemplo, aos idos de mil novecentos e sessenta e seis, quando eu estava nos meus vinte e um anos e assistia, inconformado, a nossa seleção de futebol, depois de dois títulos mundiais conquistados, dar o maior vexame na Inglaterra, voltando para casa desclassificada na primeira fase da competição. Pensei que nunca mais ia ver uma seleção brasileira pior do que aquela, mas me enganei. A atual supera aquela em tudo que pode haver de ruim
Mas há outros paralelos que não podem ser esquecidos. Em mil novecentos e sessenta e seis a ditadura militar ainda não havia sido instalada. Os militares haviam se assenhorado do governo em mil novecentos e sessenta e quatro, mas todo mundo esperava que eles fossem verdadeiros democratas que tinham assumido o poder só para resolver a bagunça que o governo socialista do Jango havia instalado no país. Igualzinho ao que a Dilma e o Lula fizeram. Todo mundo achava que eles iam devolver logo o poder aos civis, depois de fazer uma limpeza no mundo político, que diga-se de passagem, era um lixo só. Como agora.
Mas todos sabem o que aconteceu. Era tanta gente brigando por uma fatia do bolo que quem tinha a faca (e as armas) resolveu não dividir com ninguém: daqui não saio, daqui ninguém me tira. E o país teve que curtir vinte anos de ditadura militar.
E a seleção? Bem, a seleção voltou da Inglaterra com a cara de cachorro molhado e os militares, que então já haviam assumido o comando de tudo começaram a dar pitaco nela. Teve até general convocando jogador para a seleção de setenta. Deu certo, pois aquela seleção ganhou o tri e até hoje é reverenciada como a melhor de todos os tempos. Mas não foi por causa dos comandantes nem do técnico. Aquela seleção, que tinha Pelé, Tostão, Gerson, Rivelino, Jairzinho, Clodoaldo e que tais, ganharia até com o Dunga como técnico. Ganhou com o Zagalo. E aos vencedores tudo se perdoa.
Escrevo este texto pensando no que vai acontecer ao país se as coisas seguirem o rumo previsível. A Dilma sofre um impeachement, o Cunha é defenestrado, o Renan perde o cargo, o Temer não sabe se vai ou se fica, o Lula acaba na cadeia, metade do Congresso Nacional está sendo processado. Os tucanos, que estão apoiando o Cunha só porque ele está brigando com a Dilma, estão mostrando que em termos de ética, honestidade e decência eles não são nem um pouco diferente dos petistas. Como deles disse uma vez o Delfin Neto, que também nunca foi um modelo de inocência, tucano é um urubu bom de bico e papo amarelo. E eles não fazem nada para desmentir. Estão voando por cima da carniça com um apetite de carcará.
Então o que sobra para nós, simples cidadãos que só temos como arma um voto para ser exercido a cada quatro anos? Quem é que pode, na atual conjuntura dar um jeito na bagunça generalizada que se instalou no país? Em sessenta e seis os militares acharam que podiam fazer isso. Deu no que deu. Pelo amor de Deus, Nietzsche, esse momento de novo não.
Ás vezes fico pensando se não é a nossa covardia em não querer deixar que tudo desabe que faz com que a gente procure consertar o que já não tem mais jeito. Então a gente fica procurando jeito de continuar. E continua enganando. Fazendo conchavos como os que agora estão em curso no Congresso. Ninguém me tira da cabeça que se os militares não tivessem instalado aquela ditadura em sessenta e oito, o país teria superado seus problemas e teria emergido como uma democracia sólida já nos anos setenta e não estaria vivendo hoje o rescaldo daquela doença que foi incubada naqueles anos de chumbo, quando a ditadura podava no broto qualquer liderança que se apresentava no cenário político, só permitindo a ascensão daquelas que os militares achavam que não representava nenhum perigo para o seu projeto de poder.
Sobrou o que estamos vendo aí. Na hipótese de uma vacância no poder, quem se habilita a assumir a tarefa de arrumar a casa? Quem teria competência e moral para isso? Quem sobraria depois de uma faxina geral?
É. Há um cheiro de mil novecentos e sessenta e quatro no ar. E para piorar, tem essa seleçãozinha do Dunga. Será que o maluco do Nietzsche tinha razão? Estamos mesmo condenados a viver eternamente o mesmo momento? Eu confesso que já estou cansado disso. Gostaria mesmo é que algo acontecesse para quebrar de vez esse eterno padrão de macunaimisse que, ao que parece, estamos condenados "ad eternun".
Ás vezes acordo com o velho demônio do Nietzsche soprando no meu ouvido: “ hás de viver por toda a eternidade esse mesmo momento.” Talvez esse seja um mal de quem consegue chegar á terceira idade. Quem vive tanto tempo sempre tem a impressão que já viveu o mesmo momento muitas vezes Se a teoria da morte (ou vida quântica) fosse mesmo verdadeira, eu até acreditaria que esse mito insensato que o irascível filósofo alemão lançou no espaço para perturbar as mentes desocupadas que nada mais fazem do que ficar especulando de madrugada, esse seria um fato incontestável. Se não for, é a minha mente que está me pregando uma peça, fazendo-me voltar, por exemplo, aos idos de mil novecentos e sessenta e seis, quando eu estava nos meus vinte e um anos e assistia, inconformado, a nossa seleção de futebol, depois de dois títulos mundiais conquistados, dar o maior vexame na Inglaterra, voltando para casa desclassificada na primeira fase da competição. Pensei que nunca mais ia ver uma seleção brasileira pior do que aquela, mas me enganei. A atual supera aquela em tudo que pode haver de ruim
Mas há outros paralelos que não podem ser esquecidos. Em mil novecentos e sessenta e seis a ditadura militar ainda não havia sido instalada. Os militares haviam se assenhorado do governo em mil novecentos e sessenta e quatro, mas todo mundo esperava que eles fossem verdadeiros democratas que tinham assumido o poder só para resolver a bagunça que o governo socialista do Jango havia instalado no país. Igualzinho ao que a Dilma e o Lula fizeram. Todo mundo achava que eles iam devolver logo o poder aos civis, depois de fazer uma limpeza no mundo político, que diga-se de passagem, era um lixo só. Como agora.
Mas todos sabem o que aconteceu. Era tanta gente brigando por uma fatia do bolo que quem tinha a faca (e as armas) resolveu não dividir com ninguém: daqui não saio, daqui ninguém me tira. E o país teve que curtir vinte anos de ditadura militar.
E a seleção? Bem, a seleção voltou da Inglaterra com a cara de cachorro molhado e os militares, que então já haviam assumido o comando de tudo começaram a dar pitaco nela. Teve até general convocando jogador para a seleção de setenta. Deu certo, pois aquela seleção ganhou o tri e até hoje é reverenciada como a melhor de todos os tempos. Mas não foi por causa dos comandantes nem do técnico. Aquela seleção, que tinha Pelé, Tostão, Gerson, Rivelino, Jairzinho, Clodoaldo e que tais, ganharia até com o Dunga como técnico. Ganhou com o Zagalo. E aos vencedores tudo se perdoa.
Escrevo este texto pensando no que vai acontecer ao país se as coisas seguirem o rumo previsível. A Dilma sofre um impeachement, o Cunha é defenestrado, o Renan perde o cargo, o Temer não sabe se vai ou se fica, o Lula acaba na cadeia, metade do Congresso Nacional está sendo processado. Os tucanos, que estão apoiando o Cunha só porque ele está brigando com a Dilma, estão mostrando que em termos de ética, honestidade e decência eles não são nem um pouco diferente dos petistas. Como deles disse uma vez o Delfin Neto, que também nunca foi um modelo de inocência, tucano é um urubu bom de bico e papo amarelo. E eles não fazem nada para desmentir. Estão voando por cima da carniça com um apetite de carcará.
Então o que sobra para nós, simples cidadãos que só temos como arma um voto para ser exercido a cada quatro anos? Quem é que pode, na atual conjuntura dar um jeito na bagunça generalizada que se instalou no país? Em sessenta e seis os militares acharam que podiam fazer isso. Deu no que deu. Pelo amor de Deus, Nietzsche, esse momento de novo não.
Ás vezes fico pensando se não é a nossa covardia em não querer deixar que tudo desabe que faz com que a gente procure consertar o que já não tem mais jeito. Então a gente fica procurando jeito de continuar. E continua enganando. Fazendo conchavos como os que agora estão em curso no Congresso. Ninguém me tira da cabeça que se os militares não tivessem instalado aquela ditadura em sessenta e oito, o país teria superado seus problemas e teria emergido como uma democracia sólida já nos anos setenta e não estaria vivendo hoje o rescaldo daquela doença que foi incubada naqueles anos de chumbo, quando a ditadura podava no broto qualquer liderança que se apresentava no cenário político, só permitindo a ascensão daquelas que os militares achavam que não representava nenhum perigo para o seu projeto de poder.
Sobrou o que estamos vendo aí. Na hipótese de uma vacância no poder, quem se habilita a assumir a tarefa de arrumar a casa? Quem teria competência e moral para isso? Quem sobraria depois de uma faxina geral?
É. Há um cheiro de mil novecentos e sessenta e quatro no ar. E para piorar, tem essa seleçãozinha do Dunga. Será que o maluco do Nietzsche tinha razão? Estamos mesmo condenados a viver eternamente o mesmo momento? Eu confesso que já estou cansado disso. Gostaria mesmo é que algo acontecesse para quebrar de vez esse eterno padrão de macunaimisse que, ao que parece, estamos condenados "ad eternun".