A CPMF do meu baile de formatura no ginasial

A CPMF do meu baile de formatura no ginasial

Lá se vão algumas décadas, mas não posso esquecer aquela noite memorável. Durante dois anos e com muita dificuldade financeira, pois o momento não era bom lá em casa, fui pagando as mensalidades para a comissão de formatura. Vez ou outra surgiam rifas caras e obrigatórias que os formandos deviam vender, tudo isso para que pudéssemos fazer um grande baile de formatura. Os tempos eram outros, mas nem por isso as festas deixavam a desejar se comparada as de hoje em dia. Waldemiro Lemke, Simonette, Pocho, Silvio Mazzuca, The Modern Tropical Quintet entre outras, eram as orquestras tops em meados dos anos 60. Os vestidos longos eram obrigatórios para as garotas, e nós desfilávamos de smoking e gravata sombra (uma derivação da gravata borboleta). Tempos difíceis, íamos, na maioria das vezes, de ônibus até o baile, na volta vínhamos de táxi, em 5 ou até em 7 no mesmo carro.

Havia sempre uma comissão de formatura que organizava a festa, eles tomavam conta do dinheiro, contratavam a orquestra, o salão e a confecção dos convites. Lembro-me de certos comentários, diziam que os membros da tal comissão, frequentavam boates, puteiros, e bares da moda, mas não havia como provar que usavam o suado dinheiro que pagávamos mensalmente pela nossa grandiosa festa. Eu trabalhava durante o dia e estudava a noite, como a maioria dos meus vizinhos e na época das formaturas, entre janeiro e março, as festas eram muitas, e sempre havia alguém com convites para distribuir para os famosos bailes das 10 as 4. Era duro trabalhar no dia seguinte, mas os jovens estavam sempre dispostos.

Recordo que meu baile foi no salão do Aeroporto de Congonhas, um dos melhores lugares naquela época, e a orquestra foi a do Waldemiro Lemke, Trajando um smoking que meu pai comprou num brechó, fui de táxi para o baile, afinal era minha formatura. O salão estava lotado, pagamos por uma mesa, um luxo na época. Rodadas e mais rodadas de cuba livre, peppermint ou Hi-fi eram as bebidas da época.

A orquestra impecável, completa, crooners cantavam os sucessos do momento, violinos, sax, guitarras, órgão elétrico faziam o som maravilhoso, comandados por um competente maestro. Perto da meia noite a orquestra fazia um intervalo para que os formandos e seus padrinhos ou madrinhas se organizassem para a famosa valsa. Durante esse intervalo veio a notícia; “a orquestra não voltaria a tocar se não recebesse a última parcela do contrato” . Os pais e os formandos estavam indignados, afinal todos tinham pago pela formatura. As insinuações de que os membros da comissão gastavam nosso dinheiro em farras tomaram corpo. “então era isso, os safados gastaram nosso dinheiro em farras e em puteiros e não pagaram a orquestra”

O presidente da comissão de formatura solicitou a presença dos pais ou responsáveis pelos formandos para uma pequena reunião no saguão do salão. Logo ficamos sabendo que cada formando teria que pagar uma determinada quantia para que a orquestra voltasse a tocar. Claro que a chiadeira foi geral, afinal já tínhamos pago pela festa. Os pais estavam sendo obrigados a assinar promissórias ou dar cheques. Meus pais não estavam no baile, portanto, eu mesmo assinei uma promissória, claro que sem nenhum valor jurídico, eu era menor de idade. Depois de muita briga e mais de uma hora perdida da esperada noite, a orquestra voltou a tocar, e para nossa maior indignação, a comissão de formatura foi homenageada com uma placa de prata!

Há alguns meses venho ouvindo falar sobre a volta da CPMF e de outros tributos para salvar a economia da nação. Ora! Foram eles que se locupletaram com as mordomias, viagens, grana no exterior, corrupção, e outras putarias. Agora querem nos obrigar a pagar novamente por coisas que não desfrutamos. Ladrões, safados, corruptos. No meu mais puro e chulo português grito aos quatro ventos; quero que todos vocês que se divertiram e enriqueceram às nossas custas vão para a puta que pariu. O baile tem que continuar! E não vou assinar promissórias.

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Laerte Russini
Enviado por Laerte Russini em 11/10/2015
Reeditado em 11/10/2015
Código do texto: T5411094
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