O cadáver de Dilma, a PresidentA!

Atribui-se a Margareth Thatcher a seguinte frase: “O poder é como ser uma dama. Se você tiver de dizer que é, você não é”. A flexão – ainda que correta, porém inusual - fluiu com prosperidade na boca dos áulicos de plantão e daqueles a quem ela, a presidentA, exigia o tratamento concedido. De boa lembrança ela, a presidentA, também o foi de sua loja de quinquilharias de 1,99; quebrou. Foi ministra das Minas e Energia; quebrou o setor. Foi ministra da Casa Civil e presidentA do Conselho de Administração da PTbras; quebrou. Lula, nosso simpático e moderno Pixuleco 171, em busca da continuidade no poder e dos mecanismos que o mantivessem impermeável diante das denúncias por corrupção que certamente explodiriam em algum momento, colocou-a no altar da presidência. Ungida por um PSDB catatônico, reelegeu-se. Quebrou o país.

Insustentável em seu status de presidentA, com seu cadáver insepulto exalando fortes odores e com os abutres oportunistas do PMDB a devorar-lhe as vísceras, cede os anéis para não perder os dedos, cede as mãos para não perder os braços, cede o corpo para não perder a cama, cede o cargo para não perder a coroa, eis que o poder já se esvaiu e transita pelas mãos inescrupulosas de seu antecessor que retoma as rédeas do país. Bem ao seu estilo, no escambo das conveniências, faz o ajuste final para seu retorno legítimo à presidência em 2018. Ilegítimo, e sem sequer um voto, assentou-se na cadeira presidencial e decretou o impeachment branco de sua criatura.

A oposição, como um bêbado perambulando pela madrugada, balbucia seus discursos desconexos sem saber o rumo. Ainda que roendo as unhas como uma adolescente, o PSDB assiste seu projeto para disputar as eleições de 2018 esvair-se por entre os dedos. Resta-lhe mendigar as sobras que o astuto e profissional PMDB com os picaretas Cunha e Renan, donos do circo mambembe a gritarem “respeitável público”, possam conceder-lhe numa improvável eventualidade. Vaga como uma estrela terminal e sem luz própria. Morreu encarcerado pela soberba de um empolado FHC, pela limitação patética e roceira de um Aécio, de um Alkmin narcisista a lamber o espelho ainda deslumbrado com a falida Daslu e de um idiossincrático Serra. O restante da “oposição” se arrasta sob a mesa do banquete servido por Lula, em sua peregrinação pela impunidade, à procura dos farelos e ossos dos frangos degustados. Dilma comanda a cozinha. Temer, dissimulado como um polvo, a tudo observa e por sob a toalha imunda dos escambos passa seus bilhetes e barganha suas rifas.

Vivemos uma época exuberante das tragédias, das farsas e das mentiras. Hegel e Marx se reviram em suas sepulturas. A Constituição, segundo Macedinho lá pelos idos de 1855, citando-a como se fosse o dia do depois de amanhã: “ Eis aí, pois, a santa mártir, meu sobrinho: quando ela nasceu, um povo inteiro saudou-a como a fonte inesgotável de toda sua felicidade; como o elemento poderoso de sua grandeza futura; saudou-a com o entusiasmo e a fé com que os hebreus receberam as doze Tábuas da Lei; pobre mártir! Não a deixaram nunca fazer o bem que pode; apunhalaram-na, apunhalam-na ainda hoje todos os dias, e entretanto cobrem-se com o seu nome e fingem amá-la, os mesmos sacrílegos que a desrespeitam, que a ferem, que a pisam aos pés!”

Com sua instigante e premonitória viagem para nossa incômoda atualidade, o mesmo Macedinho, o Joaquim Manoel, refere-se aos nossos nobilíssimos representantes no Congresso Nacional: “ (...) O diabo do dinheiro faz até de um mono um cupidinho, e transforma uma azêmola em um rouxinol. Dizem que é estúpido: elegem-no deputado, ou votam nele para senador. E fica sábio! Tem fama de gatuno: nomeiam-no tesoureiro. E fica honrado! Acusam-no de todos os sete pecados mortais, e ainda dos quatro que bradam aos céus: fazem-no juiz ou mordomo de dez irmandades. E fica santo!”

Cunha, antes declarado dissidente do “governo” Dilma, agora com a espada das contas secretas nos bancos suíços a espetar-lhe o pescoço, oferece à presidentA seu abraço dos afogados, o “encosta sua cabecinha no meu ombro e chora” acenando-lhe com o elastecimento do prazo para exame de suas contas fajutas. Despudorados, ambos!

As pernas curtas, curtíssimas, da mentira, colocaram o PT, Lula e sua criatura no poder. A outrora presidentA, agora travestida de “office girl”, mente desabrida e sem rubor; faz o que lhe mandam ou se estatela comicamente no vazio do poder cujo chão já lhe falta. Como diria mestre Cartola: “.....abismo que cavaste com teus pés!”

A mentira se transformou em sua única âncora. Juntos, seus patéticos ministros de conveniência respiram o mesmo ar carregado de vícios. E sobre ela, a mentira, Macedo provoca: “Se não fosse a mentira, como é que um ministro de Estado poderia explicar e defender muitos dos seus atos na presença do parlamento? E como é que o político astuto e ambicioso havia de subir ao poder, enganando aos papalvos que lhe servem de escada? Se não fosse a mentira, como se arranjariam certos generais para dar conta das batalhas que perdem? (...) Se não fosse a mentira, como se sustentariam as facções políticas? Como viveria a imprensa diária? Como fariam as moças pazes com os seus namorados?”

(...) “A mentira esconde-se por dentro dos reposteiros de todas as secretarias de Estado, dentro da manga do frade, no acolchoado da casaca do taful, nos postiços da moça casquilha, (...) nas lágrimas da viúva, nos sorrisos das donzelas, (...) nas promessas dos ministros de Estado, nos desenganos de todas as mulheres, nas palavras dos vivos e nos epitáfios dos mortos!”

É desta mentira sem limites que vive e respira o desgoverno Dilma. É nessa lama que chafurdam Cunha, Renan, o Pixulexo 171 e seus áulicos em busca do poder que lhes foge das mãos pela incompetência da gestora da lojinha de 1,99. Cairá Levy; questão de tempo. O que ainda o mantém no cargo são os olhos argutos e vigilantes de uma Moody’s, da Fitch e da Standard & Poor’s. Em sendo rebaixada a nota do país pelas agências de “ratting”, sua figura tornar-se-á expletiva e dispensável abrindo caminho para Lula, hoje presidente de fato assumir a presidência também por direito, de sorte a garantir sua impunidade.

É neste Brasil de pixulecos, de Lulas, de Dilmas, de Renans, de Cunhas, de Collors, de Barbalhos, de Jucás e de tantos e inumeráveis outros picaretas que depositamos as flores no túmulo de nossas fatigadas esperanças.

Mãos sob o queixo, debruçados na janela do tempo em profunda reflexão, mais dia, menos dia, nós nos perguntaremos: que país construímos para nossos filhos e netos? O impiedoso rubor das faces não permitirá que flua nossa rasteira resposta.

08/10/15

Bellozi

• Joaquim Manoel de Macedo: A Carteira de Meu Tio – 1855.

bellozi
Enviado por bellozi em 08/10/2015
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