O que é política?
Imagino que todas as pessoas onde há vida coletiva falam sobre política, seja usando essa palavra ou um sinônimo seu. A palavra política tem vários significados. Por isso, é uma palavra polissêmica. No sentido figurado, política pode ser uma habilidade para negociar e harmonizar interesses diversos. Ainda nesse sentido, significa esperteza ou astúcia para obtenção de algo. Em outro aspecto, pode ser, como sabemos, atuação na disputa de cargos públicos, ou nas manifestações partidárias. Significa, também, um conjunto de ideias que formam uma posição ideológica. Mas não é nenhum desses sentidos que eu quero, neste momento, salientar. Desejo destacar, em poucas palavras, outra acepção dessa palavra.
Vejamos: os homens precisam viver em sociedade. Precisamos de arroz, feijão, açúcar, café, frutas, verduras, carne (alimentos), livros, computador, calçados, roupa; precisamos de produtos diversos ou de várias coisas, como segurança, saúde, educação, trabalho, moradia, transporte, lazer. Sozinhos, não conseguiremos nos desenvolver nem nos realizar. Isolados, não teremos tudo isso. Precisamos nos associar uns aos outros; precisamos viver em sociedade; precisamos de uma organização. Porém, todos não podemos nos representar. Precisamos de pessoas que nos representem; de pessoas que controlem o preço de produtos e objetos, entre outros deveres. Elegemos, pois, alguns cidadãos. Eles têm a obrigação de se sentirem nossos funcionários. O poder pertence ao povo, e não aos políticos. Estes são apenas os mandatários: aqueles que recebem um mandato para nos representar. Os políticos, na verdade, são (devem ser) executores de ordens. Os chefes, rigorosamente, somos nós, o povo. Temos, portanto, o direito de criticar os políticos e de exigir melhoria social e respeito ao que é nosso. Eles devem nos respeitar. Eles têm a obrigação de nos respeitar. Porém, não temos o direito de agredir ninguém.
Neste caso, política é organização social; é defesa do bem comum e “dos direitos sociais e individuais”, e não a defesa de interesses que agridem os direitos de outrem. Política é a forma que os homens têm para viver em sociedade, respeitando regras e normas de conduta (moral). Sem política, é impossível haver vida social; é impossível viver na ordem e no progresso. A política é necessária. Os políticos são responsáveis pela melhoria da “comunidade política”. Eles não devem se apoderar do que é do povo, do que é alheio. Por isso, o povo não deve bajular um político, nem viver para defender um representante. É o representante quem deve defender o povo, e não o povo defender seus representantes. Se um representante não fizer o que deve fazer, ele deve ser substituído por outro; política não deve ser permanência de um grupo no poder; política é mudança; é busca de melhoria para todos os cidadãos. O poder não deve estar identificado com um grupo político, nem com uma família. O poder pertence ao povo. “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”, como preceitua a nossa Constituição, no seu artigo primeiro, parágrafo único.
Infelizmente, muitas pessoas ainda não adquiriram consciência política. Para essas pessoas, certas famílias são as donas do poder. Muitas pessoas ainda não se libertaram da escravidão política; ainda não libertaram suas consciências; ainda não começaram a exercitar o próprio poder. Muitas pessoas nunca se darão a oportunidade de reconhecer o poder que lhes pertence, como integrantes de uma “comunidade política”. Muitas pessoas morreram e morrem sem saber que o povo é o dono do poder e que os políticos são nossos empregados.
“O homem é, por natureza, um animal político”, já dizia Aristóteles. Isso significa que, naturalmente, somos seres sociais. Política é, portanto, respeito ao que é público; busca de vida em harmonia; busca da ordem e do progresso. Política é serviço; é doação.
Pastos Bons, 23 de setembro de 2015.
Domingos Ivan Barbosa